Quase nada existe. Olho ao tempo que passou e percebo que quase nada existe. Os lugares que antes se enchiam com a esperança do amor, agora, estão mortiços, sem alma. As ruas parecem todas iguais. E até o rio perdeu frescura e luz. Nem os bancos do jardim resistiram à desesperança. E também a poesia mudou. Mudaram-lhe as palavras e os sentimentos. Transformaram-na na enigmática síntese dos sofrimentos. No outro dia, quando passeava ao nosso encontro, perdi-me na multidão onde antes nos enlaçavamos. Apercebi-me do desacerto. Senti a pele mudada e os passos inseguros, desalinhados. Não reconheci os rostos das pessoas, nem as fachadas dos casarios ao centro. Tudo mudou. Até o céu, que antes me alimentava o olhar (quando não estavas) mudou! Está diferente. Já nada existe como antigamente. O tempo pregou-me a partida, iludiu-me. Ou melhor, iludi-me. Fantasiei. Mas isso não é o mais importante. O que realmente importa é o que se perde e não se recupera. É o estado de inexistência que amedronta o poeta. Que faz esmorecer o poema. São as palavras que não se voltam a escutar. São as mãos que não se voltam a enlaçar. São os beijos que não se voltam a dar. É a voz que se perde num lugar etéreo. Sem poema. É a inexistência de ti na minha vida!
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