15 de novembro de 2007

Agastado

Os dias têm-se arrastado entre o sol baixo de outono e as noites frias. As ruas disfarçam-se com as folhas caídas no chão. Os passos seguem-se aos passos lentos de um outono atípico. As roupas frescas de verão ainda não estão guardadas. Os dias arrastam-se uns atrás dos outros, vagueiam pelo tempo sem que nos demos conta da sua existência. Levamos ao olhar o brilho azul do céu e o negro do barro que nos rodeia. À cidade branca trazemos o suspiro aliviado de um desejo que nos anima. Somos o lugar de uma ilha que se estanca no centro de um mar de planícies. Somos o espaço que se desenha de branco entre as sete cores do arco-íris. Somos o que resta. Somos o que nos deixarem ser.


Na noite prolonga-se o silêncio e o vazio de uma cidade que se aninha nas casas fechadas. Nas janelas de estores corridos. Nas portas trancadas. E nas ruas vazias da noite apenas nós os dois. Apartados um do outro. As mãos não se tocam, os lábios não se desejam. Passeamos pelo parque da cidade enrolados no frio noctivago. Rodeamos o lago raso onde os peixes adormecem junto às luzes submersas. Demoramos num olhar fugidio. Abraçamos o silêncio que construí como um muro alto, não para te afastar, mas para te proteger de mim. Dos meus pensamentos mais fundos e desconexos. Amarramo-nos no cais improvisado. Detemo-nos num silêncio vagabundo nas ruas desertas da cidade branca. Estacionamos o carro numa rua qualquer. Conversamos pausadamente para não quebrar o silêncio. Digo-te nas entrelinhas o que não tenho coragem de dizer frontalmente. Não te quero envolver nas palavras rudes e ásperas que motivam os meus pensamentos. Apenas te posso dizer que os dias se arrastam uns atrás dos outros. Despedimo-nos como o frio da noite. Adormeço na esperança de uma palavra de conforto. Acordo no desejo de um abraço quente que não se dá. Arrasto-me como os dias no silêncio das palavras.


Silêncio! Silêncio! Outra vez o silêncio...

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