11 de novembro de 2007

Uma tela em branco

Uma tela em branco. A mão direita segura ainda inexperiente um pincel fino e novo. Um olhar de dúvidas sobre o branco da tela. Uma mistura de sentimentos retarda o primeiro traço. Um suspiro fundo e decidido conduz a mão à tela branca. Na base uma cor mais forte e intensa ocupa o espaço branco da tela. Um olhar duvida do resultado... Tudo se pode recompor mais tarde. Há que deixar secar. Na parte superior da tela umas cores mais alegres lembram o seu olhar quando corria até mim. Os pincéis desfiguram-se no arrastar da tinta sobre a tela rugosa. Misturam-se as cores e a tela branca altera-se. Transforma-se. Ganha outra vida como nós um dia sonhamos pintar o mundo com o nosso amor.


Uns passos para trás. Outros para a frente. E neste avanço e recuo dá-se conta do que poderia ter sido diferente. Se a tela branca se transformou porque não poderemos nós mudar? Porque não deveremos desenhar o destino e pintá-lo das cores que desejarmos? Porque lutaremos insistentemente, repetidamente, pelo comodismo das fraquezas? Uns passos para atrás. Outros para a frente. E neste avanço e recuo dá-se conta do gesto de uma mão. A tela já não está branca. Mas estou eu ainda na esperança de que os dias tenham outras cores. De que uma mão me segure e preencha os dias incolores da vida. Pouso os pincéis esgotado pelos olhos semi-cerrados. Sento-me no chão a gastar o olhar até ao fim. Olho a tela colorida onde se esconde em segredo o teu rosto e o teu sorriso. Sorrio também. Os olhos fecham-se definitivamente. Acordo com o som leve de um pássaro no parapeito da janela, a luz da manhã invade a sala e no rasgo matinal do meu olhar uma tela outrora branca ilumina-me.

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