O fumo do cigarro subia em espiral pelo céu misturando-se com a névoa cinza da manhã. A seus pés um lago raso com a forma geométrica de um rectangulo em jeito de fronteira entre a cidade e os campos. O vento levante agitava as jovens árvores que circundam o espaço enquanto os patos se resguardam sob um pontão improvisado. Em cada segundo o tempo queima esperança de um raio de sol e em cada instante se adensa a neblina cobrindo um olhar que já nada vê. Cruza as pernas desafiando a resistência sobre o tempo. Desafia-se a si próprio como se fosse vento ainda mais forte. Seguem-se momentos lentos de silêncio. Aguarda pelo fim do cigarro querendo afirmar uma convicção. De que servem as coisas banais se não lhes dermos alguma importância? Vai pelos seus próprios pés em passos lentos e fundos em direcção à queda de água. Conta os passos. Ouve-se a si próprio. Fala de si para si em voz alta. As mãos trémulas separam-se do corpo bruto e nú. Trepa o corrimão de segurança. E empoleirado mergulha de cabeça na água gelada. Guarda para si a respiração e segue o caminho dos peixes. E segue o caminho dos peixes...
Quantas vezes tenho esse desejo, de seguir outro caminho que não este. Simplesmente não consigo. O chamamento do sangue é forte demais...
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