Aproxima-se o final da tarde, a brisa que percorre a cidade refresca-se ainda mais nos campos das sombras que crescem a cada instante. No caminho estreito que separa o parque da cidade agitada surgem pessoas que caminham, e outras que correm, e outras que passeiam nas bicicletas. Vejo-os ao longe por entre os cortes das sebes, como se fossem figuras animadas numa imagem desfragmentada. As cadeiras da esplanada vão sendo ocupadas com o entardecer. Ouço ruídos, conversas distorcidas que o vento levanta dos lugares de onde não deveriam ter saído. Aqui nasceu um novo centro da cidade...
A cidade cresceu, digo-o para mim num pensamento de espanto. A cidade cresceu e de tanto julgar que a conheço não dei conta de que cresceu. Por vezes passo nos lugares e páro admirado pela forma dos edifícios que os meus olhos vão descobrindo. Estão lá desde sempre, muito antes de mim. Mas não lhes dei importância, não os olhei - talvez porque não julgasse importante faze-lo na altura. Agora olho-os como se alguém os tivesse colocado nesses lugares para me confundir.
Conforto os pensamentos nostálgicos num gin tónico - limão q.b. e muito gelo.
À minha volta, espalhados na extensão do Parque, existem pontos pequenos verdes a assinalar o lugar das futuras árvores adultas de amanhã. Não sei se são plátanos. Eu gosto dos plátanos: altos e fortes, de folha larga e áspera do pó. Gosto de plátanos, como aqueles que circundam o museu, e os outros que antes se debruçavam no Jardim do Bacalhau sobre a água que jorrava no largo geométrico e azul. Nessa altura adormecia nas suas sombras. Ali construíra o sonho de um largo de árvores frondosas onde cabia o mundo, todo o mundo...
Espero pelo crepúsculo que tarda em chegar. Vem lento e sem pressa. Vem de azul e fogo no limite da planície. Aguardo por ele. Sorvo o último gole de gin tónico. Fumo um cigarro enquanto me despeço do Parque da Cidade!
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