31 de outubro de 2007

Poema sobre o reencontro

poderiam todas as madrugadas estar estreladas
com o orvalho a cair nos campos
que não trocava o teu sorriso e os teus lábios por nada
poderiam todas as manhãs surgir na leveza de um pássaro
que jamais abdicaria de um olhar teu

30 de outubro de 2007

Plátanos e sombras

Adormeci abraçado às tuas palavras, a esse abraço apertado e quente que desejo com saudade. E esta manhã acordei com um sorriso nos lábios, com a maior vontade de viver que algum dia julguei poder ter. E tudo por um abraço distante que imaginei enquanto adormecia. A manhã, e repito-me, está azul como a tarde de ontem onde me invadiste os pensamentos. Mas hoje não posso ir ver a cidade branca de longe. Não vou poder acomodar-me no silêncio inquieto da aldeia plana de casas rasas e brancas com barras amarelas e azuis. Hoje não. Hoje a vida conduziu-me aos lugares da minha infancia: ao coração alto da cidade branca e é daqui que te falo, melhor: que te escrevo.
Estou sentado num banco de pedra mármore gasta pelos dias do passado. Ainda me lembro de aqui me sentar e as minhas pernas não chegarem ao chão. Chegam à minha memória auditiva os sons traquinas e agudos das brincadeiras neste largo, dos jogos de futebol sem fim e com resultados invejáveis de incontável valor. Lembro-me da sombra gigante destes plátanos altos, dos imensos troncos que trepavamos sem razão lógica. Lembro-me das covas que faziamos nos canteiros para jogar ao berlinde. E acolá, mais ao fundo nas traseiras do muro alto e escondido pelos arbustos, era onde jogavamos ao verdade ou consequência ou ao bate-pé.
E aqui estou agora: sentado sob os plátanos altos e fortes que estendem a sombra até ao outro lado da rua. Talvez seja por causa destes que gosto tanto de plátanos. Bem vistas as coisas cresci aqui até fazer dezoito anos. Fazem parte de mim, não te parece?
Há rostos que identifico com facilidade, estão mais cansados e rugosos e os corpos mais pesados e lentos. Mas as imagens estão cá, tal qual como antigamente. Entristece-me a morte lenta destas ruas. A repetição das conversas e dos encontros como se fossem ecos que passam de um dia para o outro. Entristece-me pensar que a cada rosto que aqui se apaga morre lenta a cidade onde nasci.
Um destes dias trago-te aqui para que vejas com os teus olhos o que os meus guardam. Para que sintas com o teu coração o que o meu carrega. Para que guardes na memória o que na minha vive. Um destes dias abraçar-nos-emos sob as altas e longas copas destes plátanos e assistiremos sentados num destes bancos ao entardecer. Daqui não vemos o ocaso mas ouvimos os pássaros a recolherem-se nas árvores e nos beirais e escutaremos o inicio do silêncio quando chega a noite...

O que me Apetece:

Apetecem-me as palavras livres e soltas a correr nas linhas ajustadas de um post.
Apetecem-me as metáforas figuradas nos segredos privados que só nós entendemos.
Apetecem-me as imagens disfarçadas, para que não saibam de nós mais do que devem saber.
Apetece-me usar todas as letras do alfabeto, por ordem ou intercaladas, em palavras monosilábicas ou em palavras requintadas.
Apetecem-me palavras com significado e não outras que são fúteis e fáceis.
Apetecem-me ideias complexas e difíceis.
Apetecem-me desafios exigentes como o de te abraçar neste instante.
Apetecem-me os beijos que se soltam entre frases que não se concluem.
Apetecem-me fugas ao fim da tarde para te tocar com o desejo da paixão.
Apetece-me falar de Amor e de Vida contigo.
Apetecem-me as frases que se fecham numa mão enquanto caminhamos no deserto areal.
Apetecem-me os textos longos e sem pontuação como os de um romance sem fim.
Apetecem-me sempre as palavras quando me surges no pensamento.

29 de outubro de 2007

Um pensamento na tarde

O sol pairava no céu azul. Avancei sem medo pelo asfalto estreito que rasga os campos em direcção a sudeste e que se alinha recto entre vinhas e olivais. Avancei sem o receio de olhar para trás. Fi-lo pelo espelho retrovisor mais do que uma vez, e dessas vezes apercebi-me do sorriso no meu olhar. Olhei para o lado, para o banco à minha direita onde era suposto estares, e no teu lugar apenas um espaço vazio de ar entre mim e uma planície que corria ao meu lado em tons castanhos negros, da cor do barro. O sol pairava no céu azul. Sem núvens. Completamente azul celeste. Limpo e imaculado. E eu avancei... Avancei pelo asfalto desafiando a velocidade, descaí o braço para fora da janela para que o vento lhe desse vida.
Avancei até à aldeia plana de casas rasas e brancas com barras amarelas e azuis - engraçado: amarelas como o sol e azuis como o céu. Avancei pelas ruas empedradas e desacertadas, vazias de vida, sem gentes, sem olhares, sem corpos a aguentar o tempo nos bancos sob as laranjeiras. Esta aldeia somos nós, pensei reflectindo sobre a vida que levamos ocupada noutros lugares. E enquanto nos ocupamos com outras coisas deixamos os nossos interesses para trás, abandonados no vazio de uma tarde azul de outono.
Ao longe avisto a cidade branca com uma torre ao centro. Daqui parece-me a ilha que tantas vezes descrevo entre o mar de searas verdes. E daqui parece-me de bem consigo mesma, em repouso de tantos séculos de lutas e de conquistas, adormecida na passividade do presente. Leio um jornal amarelecido que trago no carro. As notícias são de outro tempo mas ainda se repetem na comodidade do vagar em resolver. Faz sentido. O vagar é para usar e abusar. O tempo comanda-nos com a sabedoria do esperar. Nascemos assim, somos assim, e seremos sempre assim. E a razão será talvez o que nos contorna o olhar, estas planícies longas que se prolongam no tempo vagaroso.
Nem um ruído interrompe o meu pensamento. Nem um ruído quebra a paz silenciosa da aldeia plana com casas rasas e brancas. Fumo um e outro cigarro só para escutar o som do isqueiro a acender. Pontapeio umas pedras pequenas junto à estrada, só para disfarçar a inquieta mudez. Desafio a loucura em pensamentos longinquos como tu. Em ideias bassas e desorganizadas que me conduzem num esvoaçar até ao reboliço da cidade grande de ruas largas e de luz intensa espelhada do rio. Lá, nessa cidade onde um dia fui o mais feliz de todos os homens, jazem as memórias já desfeitas em pó.
Aproveito a serenidade da sombra da laranjeira para esboçar um poema. Quero falar de ti, das horas que nos separam e se transformaram em dias, que nos trazem presas por um fio de seda. As palavras surgem num olhar que humedece, numa revolta que invade o estomago, numa arritmia que não controlo. Vêm de ti as palavras que desejo para te escrever um poema. Vêm de ti os sentimentos que me estremece a razão. Vêm de ti os passos que quero percorrer até te poder abraçar novamente.
Dou conta do inevitável: Amo-te. Mesmo aqui, no silêncio profundo de uma aldeia plana de casas rasas e brancas com barras amarelas e azuis - amarelas como o sol e azuis como o céu!

Um retrato teu num bolso apertado junto ao peito

Guardo um retrato teu num bolso apertado junto ao peito. A tua imagem passeia comigo para todo o lado para onde vá. Não sei se deva temer a perda ou se deva sugerir um amor eterno. Nem sempre os sentimentos vêm ao encontro da razão ou esta nem sempre abdica perante os sentimentos. Mas o que importará, se guardo um retrato teu num bolso apertado junto ao peito?...
Hoje sei da distância amarga, da lonjura que nos afasta os olhares e nos gela os corações. Hoje sei das dúvidas que te assaltam e que me roubam o sono, das horas fundas que escurecem o meu olhar. Hoje sei de ti porque descobri sobre mim o infinito desejo de te amar.
E para que amanhã não me esqueça, para que não me resigne, para que nos dias que ainda vêm, é suposto virem, o teu rosto me acompanhe no eterno lugar perfeito do amor, guardo um retrato teu num bolso apertado junto ao peito.

27 de outubro de 2007

Poema de antes de ti

descaí como o orvalho nas folhas verdes
esmoreci na penumbra da noite
na obscuridade de um poema
percorri as ruas largas da cidade
e vacilei nos lugares mais inoportunos
mas tudo isso foi antes do luar branco e cheio
que iluminou o teu corpo nu entre as searas

25 de outubro de 2007

Ainda te Amo

Ainda te tenho dentro de mim. E este ainda é para que saibas que não morres dentro de mim. Ainda te procuro como se tudo tivesse começado hoje, como se a frescura dos primeiros beijos residisse nos meus lábios - nos nossos lábios - para sempre. Ainda o meu olhar vive do teu. Ainda as minhas mãos se abrem livres na tua direcção. Ainda tudo...
E este ainda não é por hábito ou por rotina é tão só porque te Amo com a certeza de nós. Um dia perderei a timidez, ganharei forças para te escrever o mais puro elogio poético de sempre. E nesse dia se constatar que ainda te amo olharei para trás feliz pela tua existência em mim.
O tempo passa e eu ainda te Amo...

24 de outubro de 2007

Um abraço de calor

A manhã surgiu na continuidade de uma madrugada fria e chuvosa. Chove e o céu acinzenta-se sobre as nossas figuras encolhidas. Ainda não vi o sol. Sobre a planície o céu parece separado da terra por um véu que filtra a luz... faz-me falta a luz. Na cidade branca, que se fende na planície como se fosse uma ilha ao centro de um mar de searas, a ausência de luz solar pesa os corpos. Por aqui junta-se ao vazio das ruas e da vida a luz ténue e envergonhada de um dia chuvoso.
Nestes dias quero-te ainda mais. Em casa definho nas paredes brancas despidas de ti, no sofá vazio sem nós, nos corredores escuros sem a tua luz. Desejava tanto ter continuado no encanto das madrugadas que partilhamos e inundar as manhãs com o teu extasiante sorriso e o brilho intenso do teu olhar. O teu olhar de luz que ilumina os dias.
Mas a manhã permanece chuvosa e fria e o céu cinza pesa-me o coração em cada instante da tua ausência. Aguardo o teu abraço de calor. Abraças-me?

23 de outubro de 2007

Convite para jantar

Um convite para jantar surge naturalmente: basta o desejo de partilhar com a outra pessoa a sua companhia, de desfrutar de uma conversa agradável e amena, sem limite de tempo, sem a correria do relógio, sem os compromissos da tarde. Um almoço - desde que a companhia nos agrade - não é menos importante, mas também não tem o mesmo significado. Prefiro o jantar. Mas se não pode ser...
Queres jantar comigo? Perguntei, interessado na sua companhia ao jantar. Imaginei logo o seu olhar enebriante a fixar-se no meu à mesa do restaurante a média luz. Já tinha o vinho escolhido quando lhe fiz a pergunta, tão certo dos seus aromas como da afirmativa resposta. Não disse que não, resguardou-se numa pausa prolongada que confundi com silêncio. Interrompi o seu pensamento e repeti a pergunta receando que as palavras se tivessem perdido algures nas ondas celulares que ligam os telemóveis entre si. Respondeu-me que seria melhor responder depois... que ainda ia ver se seria possível. E eu, com o restaurante reservado, com o vinho escolhido e a vontade imensa de partilhar com ela as horas livres da madrugada cerrei a mão onde segurava uma rosa vermelha do deserto.
Mais tarde informou-me da sua indisponibilidade!... Talvez noutro dia. Disse em tom de promessa que temo não se cumprir. E aguardo. Que posso fazer se não aguardar. Esperar por quem se ama é a Rotina do Amor. E estou destinado à rotina da espera e dos desejos impedidos. Amanhã insisto. Talvez insista amanhã ou noutro dia... A ideia de jantarmos um com o outro extasia-me. Quero ter o seu olhar defronte para o meu. Quero invadir uma sala imensa com o brilho da paixão que nos une. Que ainda nos une.
Talvez noutro dia não seja possível reservar aquele restaurante, ou encomendar rosas vermelhas do deserto. Mas se for possível desfrutar de um jantar a dois... Prefiro a implorar um chá à tarde.

A luz de Lisboa nos teus olhos

a luz de lisboa nos teus olhos, o céu azul no teu corpo de vida,
as minhas mãos na distante planície onde permanece a minha alma perdida.
desejo recuperar o fôlego... quero a tua voz enebriante de volta ao meu acordar.
preciso do alento do teu sorriso para me poder aventurar.

a luz de lisboa nos teus olhos; num olhar que me lanças
e que receoso semeio em searas de esperança

22 de outubro de 2007

Poema (in)titulado

quando nos reencontrarmos numa rua esquecida da cidade branca
já não serei quem julgas conhecer, já não serei eu mas um resto de mim.
que não te aflija o meu corpo fraco e cabisbaixo, que não te preocupe
o meu olhar inócuo e basso escondido nas entranhas da minha alma.
encontra-me-às provavelmente a descair numa parede branca,
a afundar-me num passeio irregular e sem fim.
talvez não me reconheças, nem a figura nem a voz
que a emudecerei para silenciar quem fomos nós.
e quando nos encontramos, se de facto nos encontrarmos,
numa rua esquecida da cidade branca,
não pares junto ao meu corpo moribundo,
se possível ignora-me, trata-me como tratas um vagabundo.

Um Olhar

Existem para além de tudo. São olhares, uns profundos outros rasos, que se cruzam na noite escura. Vivem na metamorfose dos sentimentos, alteram-se nas circunstâncias. Mas existem para além de tudo. Mesmo os que já não nos acompanham ficaram na memória. São olhares, uns mais breves outros mais longos, que nos tocam num acaso da vida.
Esta manhã lembrei-me do teu, daquele que reencontro amiúde na minha lembrança, daquele que desejaria tocar - como se fosse possível tocar o teu olhar de luz - como se tocasse o teu corpo. E quero tanto tocar o teu corpo, beijar os teus lábios, abraçar-te para que me abraces. E desejo tanto reviver o teu olhar, percorre-lo nas ruas largas, nos campos extensos, no mar infinito...
Um olhar existe para além de tudo.

21 de outubro de 2007

lágrimas

a água invade-me o olhar
chamam-lhe lágrimas
eu trato-as por dor

Odemira

A estrada estreita rasga a serra como se fosse uma onda a cavalgar no mar alto. Nas suas beiras árvores rasas de folhagem amarela lembram o outono que o calor engana. Regresso à vila serena da minha infância, às casa brancas nas ruas ingremes que nos conduzem ao rio. Volto aqui cada vez mais raramente. A vida afastou-me dos cafés tranquilos, das conversas paradas nos passeios, do rio que se serpenteia até ao mar.
Reconheço o cheiro que paira no ar e os meus olhos envolvem-se na luz do dia azul e no verde denso que enlaça a vila. Sigo de passagem, que por enquanto o meu destino é junto ao mar. Planeio regressar para uma noite de descanso numa cama larga que me moldou o corpo frágil de criança.
Mas Odemira está diferente! As ruas têm vida, junto ao rio uma zona pedonal em madeira aproxima as pessoas da água, nas rotundas erguem-se esculturas bizarras à primeira vista. Passo a ponte para o outro lado da margem. A ponte de ferro verde e tão antiga como as histórias dos meus octagenários familiares. Olho para trás quando inicio as primeiras curvas a subir e deslumbro-me com o que esta vila cresceu. Não resisto a regressar às memórias infantis. Senti as mãos ainda frescas que na época me seguravam por aquelas ruas. Lembrei-me dos olhares vividos dos que já não me podem acompanhar.
Vou até ao mar ver o azul imenso e infinito que me enche a alma, vou recuperar o fôlego com a brisa marítima que me toca a face. A Odemira regresso para pernoitar, para dar descanso ao corpo numa casa fresca com varanda larga sobre o rio.

sigo a tarde leve e azul...

sigo a tarde leve e azul junto ao mar
o meu olhar perde-se no intocável horizonte onde o crepúsculo morre...
passo junto a um rochedo alto e negro de quebra-mar
o meu corpo desespera tenso pela tua companhia
hoje o mar onde o crepúsculo desfalece não faz sentido sem a tua presença
nada faz sentido sem ti
as gaivotas sobrevoam os desertos areais tão desnorteadas como eu

18 de outubro de 2007

Guiado

Levas-me guiado na tua mão pelas estradas escuras da noite,
sigo os teus passos confiante do nosso destino.
Percorro este país e outro que se cruze no mapa
sempre que me queiras ao teu lado. Sempre.
O meu destino não o questiono enquanto fores a vida que respiro,
enquanto mantiveres a mão estendida para me guiar.

S/ Título

Nota introdutória: Regresso à planície com a luz da tua vida nos meus olhos.
Quero, na mais alta torre, gritar o teu nome para que se saiba o que nos une, e que o nosso amor ecoe nas férteis searas onde se aninham os pássaros. E quero que nos dias mais longos os meus braços cerquem o teu corpo como se fosses uma ilha de planícies. Quero, entre os pinhais altos e verdes, fazer florescer o teu rosto. E entrelaçar as tuas mãos na terra argilosa e negra, para que nela nasça o futuro.

17 de outubro de 2007

Por ti...

por ti roubaria uma estrela ao céu
fingiria a alegria nos dias mais crueis e tristes
morreria asfixiado numa bolha de ar
viveria nos lugares onde não existes
e abdicaria do direito a sonhar
por ti silenciaria as palavras da amargura
e gritaria o amor até ao limite da loucura
por ti lutaria numa cruzada solitária e desleal
contra todos os fantasmas do mal

16 de outubro de 2007

Gotas de chuva

(lá fora chove)
cada gota que cai no chão negro
desfaz-se na intenção de se perder.
cada dia é como uma gota de chuva:
perde-se no silêncio do tempo.
gasta-se na ilusão da frescura...

15 de outubro de 2007

O silêncio enche-se...

o silêncio enche-se no tom grave de um vazio
a tua companhia fugiu do meu encontro correndo para longe
nem palavras nem gestos nem sons
tudo nos separa como margens de um rio

13 de outubro de 2007

Ainda agora...

ainda agora te amo e já o meu corpo treme
com o anúncio da tua ausência.
as horas que se guem neste até breve
são duras e ásperas como rochas
resta-me a frescura dos beijos que hoje me legas
como se fossem dádiva do nosso amor.

11 de outubro de 2007

um poema

pudesse um poema ser do tamanho do amor
ter a forma apertada de cada abraço que desejo dar-te
ser inesgotável como o horizonte e a utopia
e renascer forte de cada dissabor

pudesse eu ser poeta e escreveria o mais sintético e objectivo poema

Desejo saber

Desejo saber se aí estás
do lado luminoso que anseio partilhar
Desejo cada lugar para onde vás

tantas vezes...

tantas vezes contemplo o teu sorriso à distância quando estás no centro das coisas,
quando no teu sorriso se concentra a energia de tudo o que te rodeia.
tantas vezes percebo que em ti tudo se transforma!
e o teu sorriso é uma semente onde o presente germina e o futuro será flor e frutos.
tantas vezes, ao contemplar-te, o meu corpo cresce da minha alma
e sente o sentido puro e etéreo da vida.
de tantas vezes, quando me sorris, o meu nome ganha o teu apelido secreto
e as minhas mãos abrem-se como se fossem asas livres.

Poema destópico

um fio de vento quente e raso contorna as esquinas gastas de solidão. já deserta, a cidade distancia-se do mundo. as árvores curvam-se sobre as ruas mais largas, desfolhadas e resignadas sobre o áspero alcatrão. aqui tudo acontece no silêncio do acaso, tudo definha na fragilidade de um segundo que se quebra no passar do ponteiro do relógio. esse relógio que resiste à fatalidade do tempo, seguro na torre da igreja. Já nem as aves sobrevoam o céu cinzento e poeirento. já há muito que os cães vadios abandonaram as ruas tristes com vista para os campos em direcção ao mar. em cada casa ruinosa morre a cidade branca.

10 de outubro de 2007

Se soubesses...

encheste o meu olhar de brilho quando nos encontramos casualmente sob o sol raso.
o gesto de me tocares ficou parado no espaço das intenções,
mas ainda assim, nesse breve acaso da tarde abracei o teu aroma corporal
que ainda trago na minha pele trigueira.
se soubesses a falta que senti da tua presença serena, que me tranquiliza nas horas amargas.
se soubesses das angustias fundas dos meus pensamentos perdidos sem ti.
se soubesses da importância de te ter nos instantes frágeis da minha existência.
se soubesses do sofrimento que a tua ausência causa no meu coração.
se soubesses, surgirias todas as tardes em encontros que fingiriamos casuais
com o propósito de me amares. tão só de me amares.

Vinhas de negro...

vinhas de negro como a noite toda
caminhavas em leves passos sobre o asfalto
onde imóvel aguardava por ti
havia no ar um aroma doce e fresco de jasmim
e nos meus olhos um encantamento
que desejava tudo de ti

Noite de uma estrela só

noite de uma estrela só
de um céu que repousa sereno sobre o meu amor por ti

noite de uma estrela só

7 de outubro de 2007

Outono

levanto o sol na palma da mão e ergo-o rasgando as nuvens brancas
que salpicam o céu azul. acolho o outono no meu corpo sedento
de folhas secas caídas no chão, de árvores que se despem no raso sul.
passeio entre o frio seco do outono e um abraço de lamento
que desperdiço num impulso. Molho os olhos no orvalho matinal
de cascatas esverdejantes.
chegará o outono na esperança de um novo amor?...

6 de outubro de 2007

São recordações

Escolhemos um restaurante fora da cidade, bem longe dos olhares conhecidos. Queriamos fugir aos rumores, camuflar um segredo. Sentados à mesa, a mulher de cabelos claros e olhar desperto e grande sorria discretamente à minha direita, à medida que o tempo passava e que o ambiente já descomprimido permitia uma maior confiança, senti o seu braço esquerdo a tocar o meu. Fê-lo de uma forma discreta, na primeira vez. E reconhecendo o meu gesto permissivo e de agrado continuou disfarçando as suas intenções junto dos outros convivas.
No regresso partilhamos o mesmo carro em direcção a não sei onde. Fomos no caminho debaixo de um céu estrelado atraindo as nossas mãos uma na outra como imanes. Sugeri-lhe encostar o carro numa estrada estreita e paralela à nacional. Guinou o carro sem hesitações, avançou mais uns metros e parou quando sentiu a segurança de estar a uma distância razoável do movimento da estrada principal. Pensei em acender um cigarro e criar ambiente, os nossos olhares cruzavam-se pela primeira vez nesse dia. Desligou o carro, retirou o cinto de segurança e movimentou-se na minha direcção. Olhou-me com um olhar sorridente e num impulso que me surpreendeu beijou-me a boca. Intensamente. Desesperadamente.
Em nosso redor a paz nocturna de um campo de girassóis. A sua pele macia e suave extasiava os meus sentidos, os seus beijos húmidos despertava ainda mais o desejo de a ter. Ali. Sem demoras. Sem tempo para esperar...
Regressamos à cidade pela estrada nacional movimentada. Ficamos na esperança de um reencontro que o tempo foi apagando lentamente. Não insisti. Não insistiu...

LINHA DO SUL

Agrada-me opinar. Nos últimos tempos tenho estado no lado da observação e indisponível para intervir. Decidi manifestar o que penso sobre a cidade, a região e o país num blogue que criei para o efeito: A Linha Do Sul.
O registo é diferente. O objectivo é outro. O estimulo também. Para os interessados fica o convite a uma visita (sidebar, Do Autor).

Mudança breve

Apetece-me a mudança. Uma mudança de tons. O outro crepúsculo segue o branco de fundo da paz e o negro vincado das convicções e dos sentimentos.
Espero não desiludir...

Entre nós

Imagino o seu olhar a crescer a cada palavra. Sinto o seu sorriso distante a desenhar-se no rosto perfeito e belo de uma musa. A minha musa. E as suas mãos brancas a tactear o ecrã negro de O outro crepúsculo.

Do lado de lá sei que existe um coração que me tenta. Que palpita ansioso desejando a minha presença. A sua voz eloquente e calma suspira de palavras de amor eterno.

Antes de ti

antes os dias eram de pedra
duros e frios deformados pela áspera erosão
estáticos e imóveis presos ao chão

agora fazes dos meus dias
campos floridos e alegres

Semente noctívaga

Ergueu-se uma brisa fresca nos campos que circundam a cidade. O silêncio da terra adormecida acomodou-se nos nossos corpos extasiados de paixão e de desejo. Vista daqui a cidade parece outra. Tem outro encanto pintada no amarelo das luzes sob o céu azul de um luar minguante e tímido. As estrelas vencem a nebelina que ameaçava a noite e cintilam no céu vitoriosas. Como o amor que se aperta num abraço intenso e se prolonga em olhares brilhantes.
O tempo passa fresco e doce no toque dos corpos, nas caricias, nos beijos longos e ardentes.
Aos nossos pés a cidade adormece em silêncio. A planicie estende-se como um leito infinito. Aqui já houve girassóis. Por aqui já balancearam searas verdejantes. Douradas espigas de trigo. E hoje são os nossos corpos que se lançam à terra como sementes destinadas a germinar.
A conversa prolonga-se na madrugada contrariando o tempo da noite fresca. A brisa suave toca-nos a pele e refresca-nos os sentidos.
Voltamos ao lugar perfeito.

água nos meus olhos

hoje os meus olhos são água
não gotas de orvalho
mas água profunda de tristeza

3 de outubro de 2007

A hora da despedida

foi numa tarde assim que vacilei, que resignei,
e em mim apagou-se o sorriso dos lábios
"acabou" pensei, "isto tem de ter um fim".
e vi no seu olhar, na expressão do seu rosto,
o pouco que lhe importou a despedida.
senti nas suas mãos frias que o amor estava deposto,
como um rei nu, sem reinado.
agora nem sei o tempo exacto do adeus,
nem sei a que horas comemorar o passado.
sei apenas que foi numa tarde assim...

vou-me embora

vou-me embora.
parto pelas ruas mais largas e escuras para não me encontrares.
vou no canto de silêncio da madrugada para não me escutares.
parto para longe dos teus olhos que me traíram com falsidade
e num caminho desconhecido afasto-me da cidade.
quero esquecer as ruas e as casas onde moras,
partir sem regresso previsto.
vou-me embora. vou deixar-te. desisto...

Dúvida poética

Duvido do sentido dos poemas, do caminho que percorrem até ti
das palavras desfeitas na ignorância, das rimas quebradas no fim.
Duvido da meta. Dos sentimentos feitos de esperança.
E emudeço cada poema com fúteis declarações de amor...
Sobretudo inconsequentes.

O Céu Caiu

Ontem o céu caiu na hora do crepúsculo. Veio de azul, de negro, de cinzento e da cor do fogo. E a rasgá-lo um imenso arco-íris sobre os campos extensos em redor da cidade. Caiu o céu antes da noite escura anunciando abraços folgados.
E hoje a manhã amanheceu, coberta de neblina, escondendo o céu. O sol distante. Os rostos pesados e tristes, baralhados na falta repentina de uma luz alegre. São assim os dias. Diferentes uns dos outros. Como nós...
Seguimos o lugar das rotinas, dos compromissos de circunstância. Os olás que se dizem por cortesia. E num instante tudo muda. Tudo muda...

Decidir o regresso

Ao longo do tempo tenho recebido de amigos e conhecidos, e também de alguns desconhecidos, o estímulo para o regresso a uma actividade pública. Mantenho-me afastado nos últimos cinco anos com vários objectivos e por diversas razões. Mas como ontem alguém que muito considero disse não é possível continuar a recusar as oportunidades e o estímulo exterior. Não posso alhear-me das responsabilidades cívicas que tanto gosto de exigir aos outros.
Tenho pensado no assunto nos últimos meses e talvez seja a hora de decidir regressar!

2 de outubro de 2007

Para ti num dia como os de hoje

Hoje queria-te vestida da cor do teu sorriso
em passos calmos e acertados em direcção ao que é preciso
queria-te forte e imensa como uma montanha
que nasce no âmago da terra e cresce até ao céu
queria-te de pé como uma árvore
e extensa como um abraço meu

Reflexão imprópria sobre a vida

Entre os dias, no meio de nadas e de tudos, nas asas do vento, numa gota de água, numa particula invisível de ar, num minusculo grão de terra ou nas labaredas quentes do fogo vive-se a vida. A vida que nos limita, que limitamos condicionando os rumos, alterando destinos. E à vida entregamos os dias, as horas, os minutos e os segundos até à exaustão, até ao suspiro final. Damo-nos à vida como se nos exigisse que nos entregassemos a ela quando que faz sentido é viver a vida e lutar pedindo-lhe cada vez mais de nadas e de tudos.
Não nos resignemos perante os sonhos. Não abdiquemos das ambições. Mas não nos afastemos da própria vida.

Tudo

Tudo se concentra em ti
desde a tua essência
à tua beleza.
Desde a tua existência
à tua natureza.

- Tudo nasce de ti.

O TEMPO

O tempo - neste caso a falta de tempo - colocou-me na distância deste blogue. E com a falta de tempo dei por mim apagado de inspiração. Não porque o amor tenha tido um fim. Isso não. Nem porque os meus olhares estão diferentes. Não, isso também não. É tão só falta de tempo...