25 de janeiro de 2009

Névoa

Aguardo a noite
espero pela névoa clássica
que enreda as árvores
como se fosse o manto do desejo

22 de janeiro de 2009

As tuas palavras

amanhã farei das palavras amor
e se ainda me restarem forças
farei do amor o som das palavras
amanhã farei tudo para que me ouças
rasgarei o céu incendiarei os astros
e se for urgente morrerei a sangue frio
como um amante conveniente
amanhã desenharei poemas faustos
com promessas de amor e um desejo sombrio
farei das palavras amor
e se o ar me exceder farei do amor o som das tuas palavras

15 de janeiro de 2009

Poema Insuficiente à Mãe do meu Filho



Levas no peito, a cada instante, o alimento mais impoluto. Acendes no teu olhar cansado fulgores de esperança. Seguras nas mãos pétalas frescas de confiança. E sobre o teu colo versam os gestos primários de uma criança. E tantas vezes te sinto perdida no meio de tanta coragem. E tantas vezes sou insuficiente para te acudir. E tantas vezes me reconstruo na tua imagem. A natureza fez dos homens impotentes. Incapazes de partilhar o brilho natural do encanto maternal. Rudes e insensíveis crentes. Agitadores do património paternal. Oh, meu amor! Mulher de rosto descansado, de colo reconfortante, corpo duro e apertado, alma vertical onde a vida se prolonga, deixa-me ser como tu, deixa-me ir por onde vais, como vais, na noite que se alonga. Leva-me no encanto do teu olhar, por onde vais. Dá-me o ensejo dos pressentimentos; usa-me como não se usam os pais. Eu vou: por ti, por ele, por mim… pelos teus merecimentos.

13 de janeiro de 2009

Palavras. Promessas.

Palavras.
Palavras.
Palavras.
E gestos ornamentados com palavras.
Felicidade ou tristeza:
Palavras.
Sempre as palavras.
Palavras incertas.
Palavras concerteza!
Verbo indiscretos,
Promessas. Promessas.

7 de janeiro de 2009

A Reinventar Mariana Alcoforado

Que ingenuidade a minha julgar-te capaz de amar. Oh, que perdição! Que ousadia pensar em desmanchar a dureza dos teus sentimentos; a indiferença dos teus gestos; a amargura de uma distancia que teimas em sustentar. Noutros tempos acreditei, com mil paixões, em cada palavra que pronunciavas. No começo, quando a ingenuidade se confundia com o ardor do desejo por ti, desenhava no céu estrelado o teu nome; escrevia-o com as estrelas, repetidamente. Ah, que ruína a minha! Quanta desgraça me abandonou às horas de solidão e de sofrimento? Quanta amargura me sustenta nas noites frias de desprezo e de indiferença? Palavras sobre palavras, dizes! E os sentimentos não os conheces, porque estranhas os afectos, sobretudo os meus, que recusas severamente. Oh que ingenuidade! Que perdição! Tanto arrependimento me contradiz na vontade de te amar ainda mais! Que traição!...

Jorge Barnabé

1 de janeiro de 2009

Primeiras horas

as primeiras horas
surgem como o brotar de uma flor:
lentas e frescas como o beijo com que me devoras,
húmidas, como o desejo excitante do amor;
loucas, desvairadas primeiras horas
perfumadas com fina monocasta;
ternas, meigas primeiras horas
em que tudo é tudo e tudo já não basta...