ao sul a noite alonga-se como a planície. o silêncio aperta ainda mais a escuridão onde repousam as papoilas. e tu, triste no rosto e sofrida no coração, ignoras aquilo que a natureza já sabe: há sempre o alvorecer, um novo dia, um recomeço que se repete e faz esquecer as mágoas noturnas. também eu sei disso agora. quando me apercebo dos diferentes tons que encantam o céu estrelado. como me encanta desejar-te eternamente. e aguardo que amanheça. que tudo se reconstrua. e que ergas novamente o teu sorriso. que o teu corpo siga o exemplo das papoilas. ainda que a noite não seja sempre escuridão desejo-te o dia inteiro, claro e fresco: a manhã, a tarde e o crepúsculo. um outro crepúsculo. a cair sobre a planície como se fosse um manto de paz.
17 de agosto de 2013
30 de julho de 2013
UTOPIA
Há tanto tempo que não ouço falar de utopias, nem de horizontes! É como se a vida vencesse as ilusões da própria natureza humana. Aos poucos desfazemo-nos do romantismo, deixamos de acreditar nas transformações, matamos o desejo de sonhar. Há tanto tempo que não alimento utopias, ou desejos, ou horizontes onde caibam todas as vontades por cumprir… e não o fazer é como desanimar o pensamento, tirar-lhe espaço e tempo numa vida ainda por vir! Escuto em redor os silêncios dos outros que, como eu, esgotaram as palavras mais sublimes e fantasiosas, adicionando-nos numa rotina de desesperança, salgada e desigual. Onde tudo se consome com desconfiança. E deveria ser agora, neste instante, que a utopia fizesse renascer os homens e as mulheres, com novo alento e esperança! Bastaria a utopia…
3 de julho de 2013
O POEMA E A INEXISTÊNCIA
Quase nada existe. Olho ao tempo que passou e percebo que quase nada existe. Os lugares que antes se enchiam com a esperança do amor, agora, estão mortiços, sem alma. As ruas parecem todas iguais. E até o rio perdeu frescura e luz. Nem os bancos do jardim resistiram à desesperança. E também a poesia mudou. Mudaram-lhe as palavras e os sentimentos. Transformaram-na na enigmática síntese dos sofrimentos. No outro dia, quando passeava ao nosso encontro, perdi-me na multidão onde antes nos enlaçavamos. Apercebi-me do desacerto. Senti a pele mudada e os passos inseguros, desalinhados. Não reconheci os rostos das pessoas, nem as fachadas dos casarios ao centro. Tudo mudou. Até o céu, que antes me alimentava o olhar (quando não estavas) mudou! Está diferente. Já nada existe como antigamente. O tempo pregou-me a partida, iludiu-me. Ou melhor, iludi-me. Fantasiei. Mas isso não é o mais importante. O que realmente importa é o que se perde e não se recupera. É o estado de inexistência que amedronta o poeta. Que faz esmorecer o poema. São as palavras que não se voltam a escutar. São as mãos que não se voltam a enlaçar. São os beijos que não se voltam a dar. É a voz que se perde num lugar etéreo. Sem poema. É a inexistência de ti na minha vida!
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