30 de julho de 2013

UTOPIA

Há tanto tempo que não ouço falar de utopias, nem de horizontes! É como se a vida vencesse as ilusões da própria natureza humana. Aos poucos desfazemo-nos do romantismo, deixamos de acreditar nas transformações, matamos o desejo de sonhar. Há tanto tempo que não alimento utopias, ou desejos, ou horizontes onde caibam todas as vontades por cumprir… e não o fazer é como desanimar o pensamento, tirar-lhe espaço e tempo numa vida ainda por vir! Escuto em redor os silêncios dos outros que, como eu, esgotaram as palavras mais sublimes e fantasiosas, adicionando-nos numa rotina de desesperança, salgada e desigual. Onde tudo se consome com desconfiança. E deveria ser agora, neste instante, que a utopia fizesse renascer os homens e as mulheres, com novo alento e esperança! Bastaria a utopia…

3 de julho de 2013

O POEMA E A INEXISTÊNCIA

Quase nada existe. Olho ao tempo que passou e percebo que quase nada existe. Os lugares que antes se enchiam com a esperança do amor, agora, estão mortiços, sem alma. As ruas parecem todas iguais. E até o rio perdeu frescura e luz. Nem os bancos do jardim resistiram à desesperança. E também a poesia mudou. Mudaram-lhe as palavras e os sentimentos. Transformaram-na na enigmática síntese dos sofrimentos. No outro dia, quando passeava ao nosso encontro, perdi-me na multidão onde antes nos enlaçavamos. Apercebi-me do desacerto. Senti a pele mudada e os passos inseguros, desalinhados. Não reconheci os rostos das pessoas, nem as fachadas dos casarios ao centro. Tudo mudou. Até o céu, que antes me alimentava o olhar (quando não estavas) mudou! Está diferente. Já nada existe como antigamente. O tempo pregou-me a partida, iludiu-me. Ou melhor, iludi-me. Fantasiei. Mas isso não é o mais importante. O que realmente importa é o que se perde e não se recupera. É o estado de inexistência que amedronta o poeta. Que faz esmorecer o poema. São as palavras que não se voltam a escutar. São as mãos que não se voltam a enlaçar. São os beijos que não se voltam a dar. É a voz que se perde num lugar etéreo. Sem poema. É a inexistência de ti na minha vida!