30 de janeiro de 2008

Hoje queria para ti...

Queria tanto levar-te o sol embrulhado em pétalas de rosa e estende-lo na tua casa com o azul fresco do céu como companhia. Queria tanto prometer-te os impossíveis todos e alcança-los num suspiro fundo para os entregar na boca doce de um beijo...

De hoje para amanhã

Aconchego-me no silêncio da noite onde os ruídos dos meus pensamentos tomam a tua forma bela. Uma luz branca encosta-se no parapeito alto da minha janela e sussurra-me as palavras que anseio dizer. Rompe-se o silêncio da rua quando a saudade começa a crescer e de novo escuto os conselhos da lua que me levam onde o nosso amor quiser.
Já não serei poeta quando a manhã surgir, serei todos os teus gestos e cada razão para te fazer sorrir. Serei apaixonadamente o profeta que te amará até o céu cair. Já não serei uma máscara de palavras que se recola em frases soltas e sucintas, serei um destino inteiro, de uma vida inteira junto a ti.

29 de janeiro de 2008

A fragilidade dos dias

temo a fragilidade dos dias
do tempo que passa sem regresso
das flores que não brotam na primavera
das horas longas em que não te pertenço

24 de janeiro de 2008

Ainda ontem

Ainda ontem me segurava com brilho na ponta do teu olhar. Ainda ontem as tuas mãos se estendiam sobre o meu corpo como se fosses o luar todo a namorar a terra. Ainda ontem quando a noite caía caíamos nós nos braços um do outro num aperto de paixão. Ainda ontem aprendi que as estrelas estão sempre no céu e que se as não vejo é porque o meu olhar se distrai no nevoeiro. Ainda ontem te repeti o prazer de amar a tua existência.
E de ontem para hoje tudo se alterou: o que me conduz até ti é o vento eterno e a dimensão das montanhas perpétuadas sobre os nossos corpos. São as pedras de um tempo inesgotável que se acomodam no leito de um rio onde corre o sangue do meu coração.
E de ontem para hoje tudo mudou: sou agora um dia mais de prazer e de desejo, de arrependimento dos instantes em que não te faço feliz, sou o peso fundo dos teus olhos tristes que aparto com o terror de te perder.
E manhã espero não temer a fragilidade do amor e seguir nos campos as cores das flores e a fertilidade das searas que me conduzem até ti.

22 de janeiro de 2008

É de seda azul...

É de seda azul a névoa que nos cobre nos campos de trigo
É de ti que renasço como semente fresca no orvalho cristalino
É do teu olhar que parte o inequívoco luar do amor
É teu o lençol de água que se estende sob o meu corpo húmido de desejo

16 de janeiro de 2008

Escuto os pássaros...

escuto os pássaros numa estranha manhã azul de janeiro
o sol descoberto desafia-me o olhar no sentido das casas brancas
e a minha figura ocupa o espaço vazio da cidade
escuto o teu nome na brisa que enfatiza os ramos nús

sei agora porque acordei com o teu rosto no meu olhar
e porque confundo o canto matinal dos pássaros com a tua voz

15 de janeiro de 2008

15 DE JANEIRO DE 2008

Hoje é apenas o dia em que te amo mais do que algum dia amei.

Sou do tempo

Sou do tempo das mãos na terra.
Dos piões de casquinha a girar nos canteiros secos.
Das covas rasas que dificultavam os berlindes.
Sou do tempo das ladeiras empedradas que atrapalhavam as carretas improvisadas.
Dos jogos de futebol nos largos e nas praças apertadas.
Sou do tempo das conversas ingénuas e utópicas
construídas nos muros dos quintais.
Sou do tempo em que as andorinhas se aninhavam nos beirais.
Das mãos que se cruzavam em apertos puros.
Dos passos longos e frescos de um dia inteiro.
Sou do tempo do "olás". Dos "como é que estás?".
Sou do tempo da árvores altas e frondosas,
das ruas apinhadas de brancos escuros.
Sou do tempo das palavras. Dos amigos e dos conhecidos.
Das namoradas conquistadas.
Sou do tempo que já não volta...

10 de janeiro de 2008

Sigamos

Sigamos o vôo das aves entre árvores despidas de folhagem.
Sigamos o desencanto da desesperança entre mágoas e silêncios.
Sigamos por aí, sem rumo, sem destino, sem desejar uma viagem.

8 de janeiro de 2008

Sabes de mim...

sabes de mim tudo
incluíndo a textura grossa da minha pele morena
e sabes de cor a cor dos meus olhos
e as formas dos meus lábios
sabes de mim tudo o que há para saber
e ainda o peso dos meus passos fundos
e o tom alto das minhas gargalhadas
sabes de mim os desejos de te ter
e as intenções que guardo para este mundo
sabes as palavras que decoraste com rigor
e as mãos estendidas para te abraçar
sabes de mim tudo
e também sabes de nós a fórmula do amor

Regressarei?

Desde há algum tempo que dei este como um processo findo. Dei-lhe nome de epitáfio e palavras de adeus definitivo. Vacilei quando as saudades me conduziram ao teclado negro do portátil. Não me arrependo das razões que me levaram a pôr fim a OOUTROCREPÚSCULO. Tenho outras tantas motivações e ainda mais desculpas, todas as que quiser inventar para me convencer que as palavras se encerram no som opaco da capa de um livro que se arruma no esquecimento de uma prateleira. Tenho todas as razões para crer que as palavras daqui não servem já o propósito e a (ainda) duvidosa ambição de lhes dar outro rumo. Num outro projecto da blogoesfera, onde a prosa caminhará no sentido da esperança.
Mil desculpas aos que baralho com as indecisões, com as pausas incompreendidas. Mas por aqui sempre escrevi no improviso dos instantes, à flor da pele dos sentimentos e sem esconder estados de espírito. Por aqui sempre escrevi com o coração aberto e o olhar apontando como setas o caminho misterioso de uma musa.
Regressarei um destes dias com as palavras e as imagens que o meu olhar guarda como uma máquina fotográfica que as debulha até à exaustão da síntese. Regressarei um destes dias e até lá vou regressando com o vício incontrolável de escrever em cada metáfora o seu nome.

7 de janeiro de 2008

Quantas vezes?...

Quantas vezes em desespero clamei o teu nome nas avenidas lassas das planícies?
E de cada vez me respondeu o eco com a insistência da dúvida,
repetindo no regresso dos ventos a tua ausência.

Quantas vezes esmoreciam as palavras no tremor do meu corpo vazio da tua vida?
E de todas as vezes a nudez das páginas brancas te desenhou invisível,
como se fosse meu destino o silêncio.