24 de abril de 2009

Liberdade

Desejo um dia destes poder, ser capaz, de te escrever um poema. E entoar o teu nome em sílabas lentas: LI – BER – DA – DE! Gritá-lo nas ruas de cada cidade e gravar cada letra nas terras húmidas e férteis onde os homens e as mulheres colhem os pães. E de seguida morrer, como morrem todos os homens que te buscam e que te querem, enquanto sofro na cerimónia da espera. E depois virão os outros, os que não me conhecem, os que te desdenham, fazer troça de um poema e destruir a quimera. Mas o poema resistirá! Será meu e teu como o tempo de uma vida eterna.

O teu rosto

Numa destas manhãs o teu rosto levantou-se como a claridade do dia. E o teu olhar acolheu-me no leito que a madrugada contrariou. O amor tinha a forma dos nossos corpos, suados e extasiados de paixão. Lembro-me das minhas mãos tão pequenas a percorrer a tua pele sedosa enquanto ofegavas, recordo cada suspiro de prazer, cada gota transformada num grito. Deixamo-nos ficar até à tarde, como fazíamos antigamente quando o tempo era nosso e o amor nos saía pelos olhos. Fomos ficando abraçados num aperto de saudade como se um nó nos tivesse prendido um ao outro. Numa destas manhãs o teu rosto transformou-se naquele dia, e no dia seguinte, e no dia de hoje, e no dia de amanhã, até onde a memória o quiser levar.

19 de abril de 2009

Um corpo na madrugada

antes a madrugada tinha cheiro
e a forma contornável do teu corpo
as estrelas gritavam liberdade
sob os campos negros de janeiro

agora a madrugada tem a saudade
de um tempo que se gasta
como se a liberdade não tivesse
a força suficiente para dizer basta

a madrugada de amanhã desconhece
os aromas e os sons amordaçados
e o teu corpo de novo oprimido
afunda-se nos desejos cansados

18 de abril de 2009

O tempo

o tempo passa
e já não me esperas

o meu desespero adormece
nas horas devassas

no olhar mendigam lembranças
de um tempo que nos esquece

o tempo pára
no silêncio
nas palavras
nos gritos

e tudo morre em definitivo
no lugar da tua inexistência