31 de julho de 2008

Saudades

uma imensidão de saudades percorre-me o corpo
quando fecho os olhos e te imagino na linha do horizonte.
apeteces-me. estendo os braços na utopia de um beijo,
prendo-me na imagem candida do teu sorriso.
na rua uma brisa varre as folhagens densas das árvores
e a serena noite grita o teu nome nos ecos do silencio.
confundo-te com as estrelas. confundo-te com tudo o que me rodeia,
porque te quero nas diferentes formas da natureza.
confundo-te com as madrugadas em que sorriamos nos lábios um do outro
de mãos apertadas como ancoras onde fundeamos o amor.

uma imensidão de saudades percorre-me o corpo
como se um mar inteiro me faltasse.

29 de julho de 2008

É em ti que me sustento

é no teu amor que me sustento
como se fosse mar e tu vento
como se fosses o fino areal
e o meu peso um suspiro lento
é em ti que me abrigo
como se o teu ser fosse uma fortaleza
e o meu o desalento da certeza
e é em ti que me protejo
como se fosses o horizonte
do infinito que desejo

24 de julho de 2008

Cumplicidade

Ergue-se a madrugada conquistando o restolho raso
E no perfume nocturno da paixão os nossos corpos alimentam o amor
Abundam os desejos e as repetidas promessas
Eu sou de ti e tu és de mim e somos eternamente um do outro
Juntos por fim como as estrelas e o céu
Cúmplices na raiz cavada do amor
Palmilhamos a noite até aos primeiros raios da manhã
Naufragados no infinito chão que nos sustenta a vida

14 de julho de 2008

Poema sobre Beja II

Regressei a Beja quando a tarde apertada pelo calor silenciava as ruas. Nas raras sombras das casas brancas fossilizavam palavras gastas de desejo… e no centro dos largos morria a vida de uma cidade, morria no irrespirável sofrimento do abandono. As pedras cinzentas e irregulares da calçada por cansar, os passos perdidos, o som profundo de uma voz censurada, os braços resignados de um fantasma… e a morte conformada. Regressei quando me falaram da desesperança, quando li numa noite azul que as searas se calaram. Regressei porque quis que os meus olhos atestassem o desespero do fim. E aos meus olhos dei-lhes o maior castigo, a pena do desamor.

Percorro as ruas despojadas como se fossem árvores secas, sepultadas na vertical obstinação da utopia… erro ingénuo – o do ser humano – de crer na eternidade das coisas. A utopia das consciências passou à desilusão das ignorantes mentes; e o sonho faleceu na aridez das planícies. E com ele o meu corpo junta-se aos emudecidos chãos de trigo. Regressei a Beja quando os meus olhos tinham no cabo dos sonhos a intenção de uma vida!

10 de julho de 2008

ALENTEJO



Abri os braços como asas e voei ao teu encontro na esperança de te abraçar e redescobri-te na figura de uma planície demorada sob os meus olhos… Senti a abundante condição do teu espírito a guiar-me sobre os adolescentes olivais, que contornam o restolho e encaminham os ribeiros. Na ilusão de um enleio impossível, vagueei como a águia-real repetindo no limite azul do céu o teu nome: Alentejo

7 de julho de 2008

Se ainda fosse possível...

Se ainda fosse possível um último encontro entre nós, queria saber onde guardas a força com que constróis o silêncio que nos separa. Queria saber como passas os dias que nos apartam, como respiras em cada segundo sem que vaciles perante o desejo. Se ainda fosse possível um último olhar antes da despedida, queria saber como iludes a esperança.

E se tudo ainda fosse possível queria-te num segredo, na corola de uma flor, na forma bruta de um rochedo.