12 de outubro de 2010

Tarde de Espera

Naquela tarde eu era como um cão vagabundo que te esperava sem que soubesses. Percorri com o olhar todas as ondas vindas do mar na esperança que uma te trouxesse. O crepúsculo de fogo que caía no horizonte, apertando-o cada vez mais, como o meu coração, convenceu-me da tua não vinda; do teu silêncio eterno que se prolonga e se agrava nos momentos em que te espero, sem que saibas que te espero. A memória que ainda tenho de ti já não chega, aos poucos desaparece, como a minha sombra na areia. A areia fica fria, o meu olhar lasso e triste. Porque não vens, mesmo desconhecendo que te espero uma última vez?

6 de outubro de 2010

CARTA ANTECIPADA À MINHA FILHA

Maria Carolina,
Seguro-te nos braços ainda receoso da tua fragilidade. Inseguro com as ambiguidades da vida, de um mundo inteiro que se questiona. Os teus olhos limpos e longos esgotam-me as palavras. Não como se fossem de algo de mau, mas sim sendo das coisas mais deslumbrantes que conheci. O teu sorriso persistente percorre-me a vida inteira, faz-me procurar as memórias felizes da minha existência. Como se contigo outras partes de mim renascessem. Fazes-me sentir tranquilo: como um rio que se prolonga em harmonia com tudo o resto. E tantas vezes, mesmo à distância de um dia absoluto, fecho os olhos e desejo ter-te nos meus braços por breves instantes. E noutras agarro-me à ambição de te indicar o melhor caminho, de te apontar o horizonte como um lugar idílico. Enquanto adormeces no ruído das nossas vidas imagino-te a correr para os meus braços, a questionar, a idealizar, a teimar, a refilar. E desejo tanto que tenhas essa força: que te ergas nas convicções, que eleves o sentido mais verdadeiro da tua alma; e no fundo é só isso que quero: que sejas feliz, que te preenchas, que te ocupes da vida como se fosses o centro do universo, que a valorizes como o bem mais precioso de todos, que reconheças apenas a tua existência...