7 de dezembro de 2007

Ao Meu Amor

O amor não esmorece nas palavras.
O amor não é cativo das palavras.
O amor é tudo aquilo que tu e eu somos.

E seremos sempre as faces brilhantes do Amor.

O Último Fôlego


Sou dos lugares vazios. Pertenço ao futuro dos bancos frios. Sou do lado da penumbra: Do espaço das sombras que se prolongam e me cobrem os pés. E me escurecem a figura. Sou dos ventos que esvoaçam soltos entre as fachadas desprotegidas. Sou dos lugares centrais que morrem por dentro. Sou das noites ébrias de loucura e das manhãs estanques, aborrecidas. Sou dos lugares sem vida. Sou o rosto triste da despedida.

29 de novembro de 2007

Até Outro Lugar

Hoje encerro o lugar das palavras. Tudo tem um espaço. Tudo tem um tempo. E nada faz sentido sem um olhar cúmplice. Para os que apreciam as palavras e se reveem nos sentimentos a gratidão, que nem as palavras mais calorosas definem.

Numa vida há muitas vidas e na vida das palavras nos reencontraremos.

Jorge Barnabé

27 de novembro de 2007

Poema do Compromisso

Acabe tudo. Transforme-se tudo. Alterem-se os rumos.
Redefinam-se os sentidos. Tudo pode ser diferente.
Tudo seria diferente. Uma palavra acompanhada de um gesto.
Um pedido determinado na convicção.
Tudo seria diferente se as palavras tivessem outro tom,
se as frases se estendessem noutras formas que não a do papel branco.
Se os ouvidos que nos escutam nos escutassem... com atenção.
Tudo. E querer tranformar tudo não é coragem!
Não é sequer ousadia! É medo... Sim medo!
É um sentimento que nasce no terror de perder o que tanto se deseja.
É um estremecer acentuado a percorrer o âmago.
É uma alma que vacila receosa.
Pode acabar tudo. Podem-se alterar os rumos.
Pode tudo ser diferente que eu resisto sempre que existires!...

21 de novembro de 2007

Por fim o fim

Encalho no tempo de uma vida entre outras vidas.
Gasto o olhar. Abuso das ideias e do pensamento.
Esvazio-me como um copo que depois se vira sobre o tampo da mesa.
Restam umas gotas que escorrem formando pequenos lagos na madeira negra.
Encalho no tempo. Dou por mim no fim das utopias.
Reconheço o cheiro da amargura.
Abdicar é uma opção. Uma opção é escolher.
Encalhado no tempo de uma vida dou espaço ao que me rodeia.
Suspiro no fim de uma lufada de ar...

FIM

19 de novembro de 2007

Canto do mar

sigo o canto do mar como se me chamasse
vou pelos areais finos onde as aves descansam
detenho-me na espuma como se o ar me faltasse
mergulho na maré onde os peixes balançam
ouço o canto do mar como se o mar cantasse
como se o mar cantasse

Dúvida

Seria necessária outra vida para que tivesse tempo de explicar o que os meus olhos vêem e o meu coração sente.
Às vezes penso: e num poema, conseguirei convencê-la do amor?

Antevisão de um eventual fim

se um dia não disser que te amo
será porque o amor seguiu o rumo das aves
e porque nos teus olhos se apagou a palavra etérea.
se nesse dia te deres conta do que já sabes
é porque a noite encalhou numa enseada junto ao mar
e um crepúsculo se despenhou na terra.
se esse dia chegar
não me procures que a minha vida não resitiu à desesperança
e eu segui o caminho do desespero da tua ignorância.

Dia

uma rede fina de névoa segura o azul do céu
descobrimos o mar desde a janela do quarto
o teu corpo eleva-se no meu ondulante como o mar alto
arfantes respirações quebram o silêncio do outono junto ao sol
reatamos os beijos e incendiamos os desejos
e nus sobre a cama branca assistimos ao desenrilhar da névoa
surge um novo dia renova-se o amor que nos conduziu até aqui
agora somos felizes

Noite

a noite está escura.
uma cor negra e estranha apagou as estrelas do céu.
ao longe ouve-se o mar revolto a quebrar o silêncio na charneca.
o meu corpo estremece num abraço apertado que partilhamos.
beijas-me. beijo-te. beijamo-nos.
sobre nós sobrevoa uma gaivota desorientada no breu nocturno.
damos as mãos. apertamos as mãos.
o teu olhar brilha. brilha e ilumina caminho.
amo-te. amas-me. agora sou feliz

15 de novembro de 2007

Acordar ficcionado

Acordei com a tua voz a sussurrar-me ao ouvido na manhã mais longa de todas as manhãs. Acordei imaginando que me acordavas com um desejado "Amo-te". Deixei-me ficar na cama larga submerso num sonho acordado onde eras a protagonista principal. Abracei-te num olhar de desespero, com receio de que tudo se mantenha assim. Com o terror de que tudo se mantenha assim. Mas o que importa é que na mais longa de todas as manhãs acordei com o sussurrar da tua voz e um abraço imaginado com a intenção de não te perder.

Tanto querer

quero o teu olhar
quero-o desesperadamente
como se fosse ar para respirar
quero um beijo também
como se fosse água para matar a sede
quero passear contigo
de mão dada quando o sol vem
e quero o calor do teu corpo antes da madrugada

O Amor de

as aves sobrevoam a noite entre estrelas guiadas pelo luar,
as suas asas são como sonhos que se prolongam na madrugada.
as cidades adormecem no baloiçar das luzes amarelas.
no silêncio da aurora renasce o amor:
o amor de te amar. o amor de te viver.

Agastado

Os dias têm-se arrastado entre o sol baixo de outono e as noites frias. As ruas disfarçam-se com as folhas caídas no chão. Os passos seguem-se aos passos lentos de um outono atípico. As roupas frescas de verão ainda não estão guardadas. Os dias arrastam-se uns atrás dos outros, vagueiam pelo tempo sem que nos demos conta da sua existência. Levamos ao olhar o brilho azul do céu e o negro do barro que nos rodeia. À cidade branca trazemos o suspiro aliviado de um desejo que nos anima. Somos o lugar de uma ilha que se estanca no centro de um mar de planícies. Somos o espaço que se desenha de branco entre as sete cores do arco-íris. Somos o que resta. Somos o que nos deixarem ser.


Na noite prolonga-se o silêncio e o vazio de uma cidade que se aninha nas casas fechadas. Nas janelas de estores corridos. Nas portas trancadas. E nas ruas vazias da noite apenas nós os dois. Apartados um do outro. As mãos não se tocam, os lábios não se desejam. Passeamos pelo parque da cidade enrolados no frio noctivago. Rodeamos o lago raso onde os peixes adormecem junto às luzes submersas. Demoramos num olhar fugidio. Abraçamos o silêncio que construí como um muro alto, não para te afastar, mas para te proteger de mim. Dos meus pensamentos mais fundos e desconexos. Amarramo-nos no cais improvisado. Detemo-nos num silêncio vagabundo nas ruas desertas da cidade branca. Estacionamos o carro numa rua qualquer. Conversamos pausadamente para não quebrar o silêncio. Digo-te nas entrelinhas o que não tenho coragem de dizer frontalmente. Não te quero envolver nas palavras rudes e ásperas que motivam os meus pensamentos. Apenas te posso dizer que os dias se arrastam uns atrás dos outros. Despedimo-nos como o frio da noite. Adormeço na esperança de uma palavra de conforto. Acordo no desejo de um abraço quente que não se dá. Arrasto-me como os dias no silêncio das palavras.


Silêncio! Silêncio! Outra vez o silêncio...

12 de novembro de 2007

Juras de amor

Um final de tarde de outono junto ao mar conduziu-nos num passeio até ao fim do pontão que se prolonga por uma centena de metros mar adentro. Um pescador entretia-se alheado da nossa presença segurando a cana de pesca. Paramos num abraço e depois seguimos num beijo enquanto o mar esverdeado ondulava sob os nossos corpos. Tranquilo, como o final de tarde de outono. Enebriados pela intensa paixão que percorria os nossos olhares seguimos pelo areal húmido desafiando as ondas que teimosamente nos perseguiam. Passo a passo, lado a lado, mão com mão, fomos deixando o nosso rasto de pégadas. Subimos ao topo de uma rocha à beira-mar. Sentamo-nos de frente para o espelho esverdeado e ondulante. Em nosso redor a espuma branca fendia-se na areia molhada. Conversamos com os olhares presos nos olhos um do outro. Fumamos um cigarro de mãos dadas. Senti o seu cheiro misturado com o aroma da maresia. E nos seus olhos apercebi-me do reflexo do mar. E na sua pele suave e macia vi nascer o crepúsculo de um final de tarde de outono. Subimos a rua ingreme junto às casa brancas que abraçam o oceano pela manhã. Paramos num miradouro e sentamo-nos num banco abraçados um ao outro como se fossemos parte daquela imagem. Num olhar damos conta de que trocamos o mar pelos olhos um do outro e silenciamos o ruidoso som das ondas a desfazerem-se na areia pelas juras de amor eterno.

11 de novembro de 2007

Uma tela em branco

Uma tela em branco. A mão direita segura ainda inexperiente um pincel fino e novo. Um olhar de dúvidas sobre o branco da tela. Uma mistura de sentimentos retarda o primeiro traço. Um suspiro fundo e decidido conduz a mão à tela branca. Na base uma cor mais forte e intensa ocupa o espaço branco da tela. Um olhar duvida do resultado... Tudo se pode recompor mais tarde. Há que deixar secar. Na parte superior da tela umas cores mais alegres lembram o seu olhar quando corria até mim. Os pincéis desfiguram-se no arrastar da tinta sobre a tela rugosa. Misturam-se as cores e a tela branca altera-se. Transforma-se. Ganha outra vida como nós um dia sonhamos pintar o mundo com o nosso amor.


Uns passos para trás. Outros para a frente. E neste avanço e recuo dá-se conta do que poderia ter sido diferente. Se a tela branca se transformou porque não poderemos nós mudar? Porque não deveremos desenhar o destino e pintá-lo das cores que desejarmos? Porque lutaremos insistentemente, repetidamente, pelo comodismo das fraquezas? Uns passos para atrás. Outros para a frente. E neste avanço e recuo dá-se conta do gesto de uma mão. A tela já não está branca. Mas estou eu ainda na esperança de que os dias tenham outras cores. De que uma mão me segure e preencha os dias incolores da vida. Pouso os pincéis esgotado pelos olhos semi-cerrados. Sento-me no chão a gastar o olhar até ao fim. Olho a tela colorida onde se esconde em segredo o teu rosto e o teu sorriso. Sorrio também. Os olhos fecham-se definitivamente. Acordo com o som leve de um pássaro no parapeito da janela, a luz da manhã invade a sala e no rasgo matinal do meu olhar uma tela outrora branca ilumina-me.

9 de novembro de 2007

Os dias têm-me agastado os pensamentos. Tornaram-se amargos e densos. Pesados e fundos. Negros. Cobertos de negro. Vou ao desencontro do que quero. Sigo os caminhos opostos do meu desejo. E tudo se resolveria numa palavra. Numa intenção. Desculpa.

7 de novembro de 2007

Fora de tempo

A madrugada desafia-me. Quer levar-me pelo fio de pinheiros altos, quer que seja o luar na noite escura. Digo-lhe que não na convicção de me manter fiel ao sol. Insiste. Repito que não. Volta a insistir. Entre a madrugada escura e o sol brilhante estou como se fosse um ocaso, ou um acaso. Repito o não com veemencia. Insiste. Serve-me um whiskie e ao meu lado uma mulher loira de olhar escuro. Vacilo. Digo que talvez. Partilhamos uma bebida. Partilhamos um olhar noctivago de desejo. Abdico de tudo. A madrugada desafia-me. Sou o mais fraco de todos. Regresso ao passado. Sigo a luz de um candeeiro na estrada junto às árvores. Levo as mãos aos bolsos... a noite está fria. Agasalho-me num casaco fino. A loira segura-me o braço apertando-o no seu corpo. Paramos junto a uma fonte. Abraçamo-nos no frio que a madrugada traz enquanto escutamos o sincronizado som da água a cair no solo fértil. E um beijo surge. E a manhã cresce leve e fresca de amor. Um amor fora de tempo.

4 de novembro de 2007

Poderia ser domingo

Sentado numa esplanada em forma de peninsula sobre um lago raso observo e sou observado. nem dou conta das horas que passam tão entretido com a conversa que brilha no teu olhar. Uns cafés sobre a mesa e uma torrada de fatias finas. Loura e saborosa como gosto. As tuas mãos a ocuparem o espaço sideral enquanto falas com entusiasmo. E eu de pernas cruzadas para te convencer de quem realmente sou. Lanço-te um desafio. Desafio-te para a vida. Dou comigo a dizer coisas que não entendes. Dou por mim a não entender o que me queres dizer. Baralhamos o assunto porque já não interessa aos dois. Convenço-me de que lançei a semente e um dia a ele regressaremos. Convences-te que me convenceste. A esplanada fica vazia. Agora somos só nós os dois e mais ninguém. Uns patos navegam no lago de água rasa ao sabor de uma brisa mais fresca que o habitual. Seguimos a conversa no olhar um do outro. Nas promessas que insistimos não fazer. Nos planos que correm livres e descomprometidos. O sol ergue-se lentamente até que começa a descobrir a tua face delicada e suave. Admiro a tua beleza. Lembras-me um poema que ainda não te escrevi. Decido abruptamente que devemos partir. Interrompo o cigarro que acabaras de acender. Não suporto mais a vontade que contrarias.
O dia está bonito.
Hoje poderia ser domingo e passearmos pelo campo, ou até quem sabe, ir ver o mar. O céu está azul e limpo como gosto. O sol quente e em harmonia. A tranquilidade das ruas sugere que hoje poderia ser domingo. Aqui voltaremos numa outra manhã e fingiremos que é domingo e faremos de conta que nos amamos...

Sem resistência

começa o dia onde não estás
(na luz azul suave do sul que se disfarça de paz).
despeço-me do mar áspero e frio
que me acolheu na tua já eterna ausência.
zigue-zagueio como o leito de um rio.
começo o dia sem ti, sem resistência.

Amanhecer

hoje queria amanhecer no teu regaço,
abrir os olhos e ter a certeza da tua companhia.

hoje queria-te. e era tão só o que queria:
eu, tu e o amanhecer num longo abraço.

3 de novembro de 2007

A morte das palavras

Um aroma invade a atmosfera. Um doce aroma que me enche o peito de frescura. Senti o teu cheiro num abraço à distancia. Continuas longe de mim. E eu longe de ti. Estamos cada vez mais longe um do outro. Resta-me o aroma do teu corpo, o cheiro enebriante da paixão que se arrasta na dúvida de um olhar mais próximo, de um beijo estridente.
Rasguei a madrugada por uma estrada irregular, de curvas acentuadas e estreitas. Fiz-me à estrada na loucura de um desejo: abraçar-te. Vi no céu uma estrela apagar-se. Temi o pior. Estremeci com o terror de te perder. Julguei que o céu se desenharia de negro, no negro das trevas. Mas trazia-te no meu pensamento. Questionei-me se a loucura do desejo seria do medo de te perder para sempre ou simplesmente porque te queria olhar nos olhos uma última vez, para ter a certeza de já não te querer mais. Questionei-me no silêncio de um carro solitário na madrugada escura guiada pelo luar minguante. Uma estrela apagou-se no instante preciso em que o meu olhar se fixou nela.
Percorri quilometros e quilometros confrontando o meu corpo cansado. De um lado e do outro da estrada eucaliptos agigantavam-se como fantasmas que me perseguiam, curvas insinuosas apertavam-me os movimentos corporais. Uma ou outra clareira surgiam de quando em vez para que sentisse a escuridão da madrugada no meu olhar. Ao longe avisto luzes intermitentes que me avisam da posição da cidade onde estás. Abrando a velocidade. Recosto-me no banco. E abrando ainda mais. Decido encostar na berma da estrada para fumar um cigarro antes de te confrontar com a minha presença. Fumo um cigarro e outro logo a seguir. Temo reencontrar-te. Receio que não queiras ouvir a minha voz ou sentir o meu corpo junto do teu. Aterroriza-me o pensamento de já não te querer mais.
Decido não te ver. Dou por mim a sentir-me como um náufrago que morre na praia. Regresso no momento em que o teu aroma se tornava cada vez mais intenso. E assim nasce o silêncio que nos separa. E assim morrem as palavras... todas as palavras de amor.

No horizonte começa o mar

terminamos num abraço apertado de outono
as folhas secas esvoaçam na marginal onde acaba a cidade
levamos as mãos seguras num passeio à beira-mar
os passos sincronizados acompanham a espuma branca que desfalece no areal
paramos num beijo longo que assiste ao crepusculo na linha do horizonte
e no horizonte começa o mar
e nós damos vida ao futuro num abraço apertado de outono

2 de novembro de 2007

Lugar de antes

A cidade está distante. Como nós um do outro. Ultimamente tem sido quase sempre assim. Têm sido estes os meus pensamentos, à distância do teu olhar cresce em mim a amargura fria das noites que passamos separados. Trago-te num retrato apertado junto ao peito e ainda assim os lugares por onde vagueio surgem cada vez mais desertos.

Hoje estou junto ao mar. Os planaltos verdes e rasos prolongam-se até ao azul espelhado da água. Daqui avisto o farol do cabo sardão onde numa manhã fresca vi nascerem flores nas tuas mãos, onde numa brisa fria me aqueceste os lábios com a doçura dos teus beijos.

Por aqui seguia o caminho das férias de verão quando o meu corpo se dava à aventura e corria nas dunas altas, era por aqui que o meu olhar ingénuo de criança desafiava a imensidão do mar. E por aqui cresci dia a dia sem me aperceber dos previlégios e das honras de uns dias de férias. Mas isso era na época das imagens romanticas da vida, era na altura em que o tempo parecia inesgotável. Nesses dias não me ocorriam os pensamentos de hoje. Deixava o meu corpo frágil vaguear nas aventuras arrojadas, em expedições que julgava perigosas. E fui permitindo saborear o presente como se do futuro se tratasse... E aqui estou, à espera de ver nascer a noite junto ao mar. Outra noite que passarei sem ti.
Escolhi uma enseada que me aproxima do farol, temo lá ir para não não me confrontar com outra memória que não a da tua presença naquela manhã que construímos na madrugada dos afectos. E aqui estou, numa fotografia solitária da minha figura, desesperado na dor de não te ter perto de mim. Frustado nos sonhos de uma criança que outrora corria sob o sol tórrido do verão. E aqui estou sempre na esperança do nosso reencontro.

Névoa sobre o rio

névoa sobre o rio
numa madrugada sem ti
ruas ingremes que desafio
à procura de ti
numa antiga ponte de ferro
suspendo o meu solitário coração
e em ti vive tudo o que quero
apesar de dizeres que não

31 de outubro de 2007

Poema sobre o reencontro

poderiam todas as madrugadas estar estreladas
com o orvalho a cair nos campos
que não trocava o teu sorriso e os teus lábios por nada
poderiam todas as manhãs surgir na leveza de um pássaro
que jamais abdicaria de um olhar teu

30 de outubro de 2007

Plátanos e sombras

Adormeci abraçado às tuas palavras, a esse abraço apertado e quente que desejo com saudade. E esta manhã acordei com um sorriso nos lábios, com a maior vontade de viver que algum dia julguei poder ter. E tudo por um abraço distante que imaginei enquanto adormecia. A manhã, e repito-me, está azul como a tarde de ontem onde me invadiste os pensamentos. Mas hoje não posso ir ver a cidade branca de longe. Não vou poder acomodar-me no silêncio inquieto da aldeia plana de casas rasas e brancas com barras amarelas e azuis. Hoje não. Hoje a vida conduziu-me aos lugares da minha infancia: ao coração alto da cidade branca e é daqui que te falo, melhor: que te escrevo.
Estou sentado num banco de pedra mármore gasta pelos dias do passado. Ainda me lembro de aqui me sentar e as minhas pernas não chegarem ao chão. Chegam à minha memória auditiva os sons traquinas e agudos das brincadeiras neste largo, dos jogos de futebol sem fim e com resultados invejáveis de incontável valor. Lembro-me da sombra gigante destes plátanos altos, dos imensos troncos que trepavamos sem razão lógica. Lembro-me das covas que faziamos nos canteiros para jogar ao berlinde. E acolá, mais ao fundo nas traseiras do muro alto e escondido pelos arbustos, era onde jogavamos ao verdade ou consequência ou ao bate-pé.
E aqui estou agora: sentado sob os plátanos altos e fortes que estendem a sombra até ao outro lado da rua. Talvez seja por causa destes que gosto tanto de plátanos. Bem vistas as coisas cresci aqui até fazer dezoito anos. Fazem parte de mim, não te parece?
Há rostos que identifico com facilidade, estão mais cansados e rugosos e os corpos mais pesados e lentos. Mas as imagens estão cá, tal qual como antigamente. Entristece-me a morte lenta destas ruas. A repetição das conversas e dos encontros como se fossem ecos que passam de um dia para o outro. Entristece-me pensar que a cada rosto que aqui se apaga morre lenta a cidade onde nasci.
Um destes dias trago-te aqui para que vejas com os teus olhos o que os meus guardam. Para que sintas com o teu coração o que o meu carrega. Para que guardes na memória o que na minha vive. Um destes dias abraçar-nos-emos sob as altas e longas copas destes plátanos e assistiremos sentados num destes bancos ao entardecer. Daqui não vemos o ocaso mas ouvimos os pássaros a recolherem-se nas árvores e nos beirais e escutaremos o inicio do silêncio quando chega a noite...

O que me Apetece:

Apetecem-me as palavras livres e soltas a correr nas linhas ajustadas de um post.
Apetecem-me as metáforas figuradas nos segredos privados que só nós entendemos.
Apetecem-me as imagens disfarçadas, para que não saibam de nós mais do que devem saber.
Apetece-me usar todas as letras do alfabeto, por ordem ou intercaladas, em palavras monosilábicas ou em palavras requintadas.
Apetecem-me palavras com significado e não outras que são fúteis e fáceis.
Apetecem-me ideias complexas e difíceis.
Apetecem-me desafios exigentes como o de te abraçar neste instante.
Apetecem-me os beijos que se soltam entre frases que não se concluem.
Apetecem-me fugas ao fim da tarde para te tocar com o desejo da paixão.
Apetece-me falar de Amor e de Vida contigo.
Apetecem-me as frases que se fecham numa mão enquanto caminhamos no deserto areal.
Apetecem-me os textos longos e sem pontuação como os de um romance sem fim.
Apetecem-me sempre as palavras quando me surges no pensamento.

29 de outubro de 2007

Um pensamento na tarde

O sol pairava no céu azul. Avancei sem medo pelo asfalto estreito que rasga os campos em direcção a sudeste e que se alinha recto entre vinhas e olivais. Avancei sem o receio de olhar para trás. Fi-lo pelo espelho retrovisor mais do que uma vez, e dessas vezes apercebi-me do sorriso no meu olhar. Olhei para o lado, para o banco à minha direita onde era suposto estares, e no teu lugar apenas um espaço vazio de ar entre mim e uma planície que corria ao meu lado em tons castanhos negros, da cor do barro. O sol pairava no céu azul. Sem núvens. Completamente azul celeste. Limpo e imaculado. E eu avancei... Avancei pelo asfalto desafiando a velocidade, descaí o braço para fora da janela para que o vento lhe desse vida.
Avancei até à aldeia plana de casas rasas e brancas com barras amarelas e azuis - engraçado: amarelas como o sol e azuis como o céu. Avancei pelas ruas empedradas e desacertadas, vazias de vida, sem gentes, sem olhares, sem corpos a aguentar o tempo nos bancos sob as laranjeiras. Esta aldeia somos nós, pensei reflectindo sobre a vida que levamos ocupada noutros lugares. E enquanto nos ocupamos com outras coisas deixamos os nossos interesses para trás, abandonados no vazio de uma tarde azul de outono.
Ao longe avisto a cidade branca com uma torre ao centro. Daqui parece-me a ilha que tantas vezes descrevo entre o mar de searas verdes. E daqui parece-me de bem consigo mesma, em repouso de tantos séculos de lutas e de conquistas, adormecida na passividade do presente. Leio um jornal amarelecido que trago no carro. As notícias são de outro tempo mas ainda se repetem na comodidade do vagar em resolver. Faz sentido. O vagar é para usar e abusar. O tempo comanda-nos com a sabedoria do esperar. Nascemos assim, somos assim, e seremos sempre assim. E a razão será talvez o que nos contorna o olhar, estas planícies longas que se prolongam no tempo vagaroso.
Nem um ruído interrompe o meu pensamento. Nem um ruído quebra a paz silenciosa da aldeia plana com casas rasas e brancas. Fumo um e outro cigarro só para escutar o som do isqueiro a acender. Pontapeio umas pedras pequenas junto à estrada, só para disfarçar a inquieta mudez. Desafio a loucura em pensamentos longinquos como tu. Em ideias bassas e desorganizadas que me conduzem num esvoaçar até ao reboliço da cidade grande de ruas largas e de luz intensa espelhada do rio. Lá, nessa cidade onde um dia fui o mais feliz de todos os homens, jazem as memórias já desfeitas em pó.
Aproveito a serenidade da sombra da laranjeira para esboçar um poema. Quero falar de ti, das horas que nos separam e se transformaram em dias, que nos trazem presas por um fio de seda. As palavras surgem num olhar que humedece, numa revolta que invade o estomago, numa arritmia que não controlo. Vêm de ti as palavras que desejo para te escrever um poema. Vêm de ti os sentimentos que me estremece a razão. Vêm de ti os passos que quero percorrer até te poder abraçar novamente.
Dou conta do inevitável: Amo-te. Mesmo aqui, no silêncio profundo de uma aldeia plana de casas rasas e brancas com barras amarelas e azuis - amarelas como o sol e azuis como o céu!

Um retrato teu num bolso apertado junto ao peito

Guardo um retrato teu num bolso apertado junto ao peito. A tua imagem passeia comigo para todo o lado para onde vá. Não sei se deva temer a perda ou se deva sugerir um amor eterno. Nem sempre os sentimentos vêm ao encontro da razão ou esta nem sempre abdica perante os sentimentos. Mas o que importará, se guardo um retrato teu num bolso apertado junto ao peito?...
Hoje sei da distância amarga, da lonjura que nos afasta os olhares e nos gela os corações. Hoje sei das dúvidas que te assaltam e que me roubam o sono, das horas fundas que escurecem o meu olhar. Hoje sei de ti porque descobri sobre mim o infinito desejo de te amar.
E para que amanhã não me esqueça, para que não me resigne, para que nos dias que ainda vêm, é suposto virem, o teu rosto me acompanhe no eterno lugar perfeito do amor, guardo um retrato teu num bolso apertado junto ao peito.

27 de outubro de 2007

Poema de antes de ti

descaí como o orvalho nas folhas verdes
esmoreci na penumbra da noite
na obscuridade de um poema
percorri as ruas largas da cidade
e vacilei nos lugares mais inoportunos
mas tudo isso foi antes do luar branco e cheio
que iluminou o teu corpo nu entre as searas

25 de outubro de 2007

Ainda te Amo

Ainda te tenho dentro de mim. E este ainda é para que saibas que não morres dentro de mim. Ainda te procuro como se tudo tivesse começado hoje, como se a frescura dos primeiros beijos residisse nos meus lábios - nos nossos lábios - para sempre. Ainda o meu olhar vive do teu. Ainda as minhas mãos se abrem livres na tua direcção. Ainda tudo...
E este ainda não é por hábito ou por rotina é tão só porque te Amo com a certeza de nós. Um dia perderei a timidez, ganharei forças para te escrever o mais puro elogio poético de sempre. E nesse dia se constatar que ainda te amo olharei para trás feliz pela tua existência em mim.
O tempo passa e eu ainda te Amo...

24 de outubro de 2007

Um abraço de calor

A manhã surgiu na continuidade de uma madrugada fria e chuvosa. Chove e o céu acinzenta-se sobre as nossas figuras encolhidas. Ainda não vi o sol. Sobre a planície o céu parece separado da terra por um véu que filtra a luz... faz-me falta a luz. Na cidade branca, que se fende na planície como se fosse uma ilha ao centro de um mar de searas, a ausência de luz solar pesa os corpos. Por aqui junta-se ao vazio das ruas e da vida a luz ténue e envergonhada de um dia chuvoso.
Nestes dias quero-te ainda mais. Em casa definho nas paredes brancas despidas de ti, no sofá vazio sem nós, nos corredores escuros sem a tua luz. Desejava tanto ter continuado no encanto das madrugadas que partilhamos e inundar as manhãs com o teu extasiante sorriso e o brilho intenso do teu olhar. O teu olhar de luz que ilumina os dias.
Mas a manhã permanece chuvosa e fria e o céu cinza pesa-me o coração em cada instante da tua ausência. Aguardo o teu abraço de calor. Abraças-me?

23 de outubro de 2007

Convite para jantar

Um convite para jantar surge naturalmente: basta o desejo de partilhar com a outra pessoa a sua companhia, de desfrutar de uma conversa agradável e amena, sem limite de tempo, sem a correria do relógio, sem os compromissos da tarde. Um almoço - desde que a companhia nos agrade - não é menos importante, mas também não tem o mesmo significado. Prefiro o jantar. Mas se não pode ser...
Queres jantar comigo? Perguntei, interessado na sua companhia ao jantar. Imaginei logo o seu olhar enebriante a fixar-se no meu à mesa do restaurante a média luz. Já tinha o vinho escolhido quando lhe fiz a pergunta, tão certo dos seus aromas como da afirmativa resposta. Não disse que não, resguardou-se numa pausa prolongada que confundi com silêncio. Interrompi o seu pensamento e repeti a pergunta receando que as palavras se tivessem perdido algures nas ondas celulares que ligam os telemóveis entre si. Respondeu-me que seria melhor responder depois... que ainda ia ver se seria possível. E eu, com o restaurante reservado, com o vinho escolhido e a vontade imensa de partilhar com ela as horas livres da madrugada cerrei a mão onde segurava uma rosa vermelha do deserto.
Mais tarde informou-me da sua indisponibilidade!... Talvez noutro dia. Disse em tom de promessa que temo não se cumprir. E aguardo. Que posso fazer se não aguardar. Esperar por quem se ama é a Rotina do Amor. E estou destinado à rotina da espera e dos desejos impedidos. Amanhã insisto. Talvez insista amanhã ou noutro dia... A ideia de jantarmos um com o outro extasia-me. Quero ter o seu olhar defronte para o meu. Quero invadir uma sala imensa com o brilho da paixão que nos une. Que ainda nos une.
Talvez noutro dia não seja possível reservar aquele restaurante, ou encomendar rosas vermelhas do deserto. Mas se for possível desfrutar de um jantar a dois... Prefiro a implorar um chá à tarde.

A luz de Lisboa nos teus olhos

a luz de lisboa nos teus olhos, o céu azul no teu corpo de vida,
as minhas mãos na distante planície onde permanece a minha alma perdida.
desejo recuperar o fôlego... quero a tua voz enebriante de volta ao meu acordar.
preciso do alento do teu sorriso para me poder aventurar.

a luz de lisboa nos teus olhos; num olhar que me lanças
e que receoso semeio em searas de esperança

22 de outubro de 2007

Poema (in)titulado

quando nos reencontrarmos numa rua esquecida da cidade branca
já não serei quem julgas conhecer, já não serei eu mas um resto de mim.
que não te aflija o meu corpo fraco e cabisbaixo, que não te preocupe
o meu olhar inócuo e basso escondido nas entranhas da minha alma.
encontra-me-às provavelmente a descair numa parede branca,
a afundar-me num passeio irregular e sem fim.
talvez não me reconheças, nem a figura nem a voz
que a emudecerei para silenciar quem fomos nós.
e quando nos encontramos, se de facto nos encontrarmos,
numa rua esquecida da cidade branca,
não pares junto ao meu corpo moribundo,
se possível ignora-me, trata-me como tratas um vagabundo.

Um Olhar

Existem para além de tudo. São olhares, uns profundos outros rasos, que se cruzam na noite escura. Vivem na metamorfose dos sentimentos, alteram-se nas circunstâncias. Mas existem para além de tudo. Mesmo os que já não nos acompanham ficaram na memória. São olhares, uns mais breves outros mais longos, que nos tocam num acaso da vida.
Esta manhã lembrei-me do teu, daquele que reencontro amiúde na minha lembrança, daquele que desejaria tocar - como se fosse possível tocar o teu olhar de luz - como se tocasse o teu corpo. E quero tanto tocar o teu corpo, beijar os teus lábios, abraçar-te para que me abraces. E desejo tanto reviver o teu olhar, percorre-lo nas ruas largas, nos campos extensos, no mar infinito...
Um olhar existe para além de tudo.

21 de outubro de 2007

lágrimas

a água invade-me o olhar
chamam-lhe lágrimas
eu trato-as por dor

Odemira

A estrada estreita rasga a serra como se fosse uma onda a cavalgar no mar alto. Nas suas beiras árvores rasas de folhagem amarela lembram o outono que o calor engana. Regresso à vila serena da minha infância, às casa brancas nas ruas ingremes que nos conduzem ao rio. Volto aqui cada vez mais raramente. A vida afastou-me dos cafés tranquilos, das conversas paradas nos passeios, do rio que se serpenteia até ao mar.
Reconheço o cheiro que paira no ar e os meus olhos envolvem-se na luz do dia azul e no verde denso que enlaça a vila. Sigo de passagem, que por enquanto o meu destino é junto ao mar. Planeio regressar para uma noite de descanso numa cama larga que me moldou o corpo frágil de criança.
Mas Odemira está diferente! As ruas têm vida, junto ao rio uma zona pedonal em madeira aproxima as pessoas da água, nas rotundas erguem-se esculturas bizarras à primeira vista. Passo a ponte para o outro lado da margem. A ponte de ferro verde e tão antiga como as histórias dos meus octagenários familiares. Olho para trás quando inicio as primeiras curvas a subir e deslumbro-me com o que esta vila cresceu. Não resisto a regressar às memórias infantis. Senti as mãos ainda frescas que na época me seguravam por aquelas ruas. Lembrei-me dos olhares vividos dos que já não me podem acompanhar.
Vou até ao mar ver o azul imenso e infinito que me enche a alma, vou recuperar o fôlego com a brisa marítima que me toca a face. A Odemira regresso para pernoitar, para dar descanso ao corpo numa casa fresca com varanda larga sobre o rio.

sigo a tarde leve e azul...

sigo a tarde leve e azul junto ao mar
o meu olhar perde-se no intocável horizonte onde o crepúsculo morre...
passo junto a um rochedo alto e negro de quebra-mar
o meu corpo desespera tenso pela tua companhia
hoje o mar onde o crepúsculo desfalece não faz sentido sem a tua presença
nada faz sentido sem ti
as gaivotas sobrevoam os desertos areais tão desnorteadas como eu

18 de outubro de 2007

Guiado

Levas-me guiado na tua mão pelas estradas escuras da noite,
sigo os teus passos confiante do nosso destino.
Percorro este país e outro que se cruze no mapa
sempre que me queiras ao teu lado. Sempre.
O meu destino não o questiono enquanto fores a vida que respiro,
enquanto mantiveres a mão estendida para me guiar.

S/ Título

Nota introdutória: Regresso à planície com a luz da tua vida nos meus olhos.
Quero, na mais alta torre, gritar o teu nome para que se saiba o que nos une, e que o nosso amor ecoe nas férteis searas onde se aninham os pássaros. E quero que nos dias mais longos os meus braços cerquem o teu corpo como se fosses uma ilha de planícies. Quero, entre os pinhais altos e verdes, fazer florescer o teu rosto. E entrelaçar as tuas mãos na terra argilosa e negra, para que nela nasça o futuro.

17 de outubro de 2007

Por ti...

por ti roubaria uma estrela ao céu
fingiria a alegria nos dias mais crueis e tristes
morreria asfixiado numa bolha de ar
viveria nos lugares onde não existes
e abdicaria do direito a sonhar
por ti silenciaria as palavras da amargura
e gritaria o amor até ao limite da loucura
por ti lutaria numa cruzada solitária e desleal
contra todos os fantasmas do mal

16 de outubro de 2007

Gotas de chuva

(lá fora chove)
cada gota que cai no chão negro
desfaz-se na intenção de se perder.
cada dia é como uma gota de chuva:
perde-se no silêncio do tempo.
gasta-se na ilusão da frescura...

15 de outubro de 2007

O silêncio enche-se...

o silêncio enche-se no tom grave de um vazio
a tua companhia fugiu do meu encontro correndo para longe
nem palavras nem gestos nem sons
tudo nos separa como margens de um rio

13 de outubro de 2007

Ainda agora...

ainda agora te amo e já o meu corpo treme
com o anúncio da tua ausência.
as horas que se guem neste até breve
são duras e ásperas como rochas
resta-me a frescura dos beijos que hoje me legas
como se fossem dádiva do nosso amor.

11 de outubro de 2007

um poema

pudesse um poema ser do tamanho do amor
ter a forma apertada de cada abraço que desejo dar-te
ser inesgotável como o horizonte e a utopia
e renascer forte de cada dissabor

pudesse eu ser poeta e escreveria o mais sintético e objectivo poema

Desejo saber

Desejo saber se aí estás
do lado luminoso que anseio partilhar
Desejo cada lugar para onde vás

tantas vezes...

tantas vezes contemplo o teu sorriso à distância quando estás no centro das coisas,
quando no teu sorriso se concentra a energia de tudo o que te rodeia.
tantas vezes percebo que em ti tudo se transforma!
e o teu sorriso é uma semente onde o presente germina e o futuro será flor e frutos.
tantas vezes, ao contemplar-te, o meu corpo cresce da minha alma
e sente o sentido puro e etéreo da vida.
de tantas vezes, quando me sorris, o meu nome ganha o teu apelido secreto
e as minhas mãos abrem-se como se fossem asas livres.

Poema destópico

um fio de vento quente e raso contorna as esquinas gastas de solidão. já deserta, a cidade distancia-se do mundo. as árvores curvam-se sobre as ruas mais largas, desfolhadas e resignadas sobre o áspero alcatrão. aqui tudo acontece no silêncio do acaso, tudo definha na fragilidade de um segundo que se quebra no passar do ponteiro do relógio. esse relógio que resiste à fatalidade do tempo, seguro na torre da igreja. Já nem as aves sobrevoam o céu cinzento e poeirento. já há muito que os cães vadios abandonaram as ruas tristes com vista para os campos em direcção ao mar. em cada casa ruinosa morre a cidade branca.

10 de outubro de 2007

Se soubesses...

encheste o meu olhar de brilho quando nos encontramos casualmente sob o sol raso.
o gesto de me tocares ficou parado no espaço das intenções,
mas ainda assim, nesse breve acaso da tarde abracei o teu aroma corporal
que ainda trago na minha pele trigueira.
se soubesses a falta que senti da tua presença serena, que me tranquiliza nas horas amargas.
se soubesses das angustias fundas dos meus pensamentos perdidos sem ti.
se soubesses da importância de te ter nos instantes frágeis da minha existência.
se soubesses do sofrimento que a tua ausência causa no meu coração.
se soubesses, surgirias todas as tardes em encontros que fingiriamos casuais
com o propósito de me amares. tão só de me amares.

Vinhas de negro...

vinhas de negro como a noite toda
caminhavas em leves passos sobre o asfalto
onde imóvel aguardava por ti
havia no ar um aroma doce e fresco de jasmim
e nos meus olhos um encantamento
que desejava tudo de ti

Noite de uma estrela só

noite de uma estrela só
de um céu que repousa sereno sobre o meu amor por ti

noite de uma estrela só

7 de outubro de 2007

Outono

levanto o sol na palma da mão e ergo-o rasgando as nuvens brancas
que salpicam o céu azul. acolho o outono no meu corpo sedento
de folhas secas caídas no chão, de árvores que se despem no raso sul.
passeio entre o frio seco do outono e um abraço de lamento
que desperdiço num impulso. Molho os olhos no orvalho matinal
de cascatas esverdejantes.
chegará o outono na esperança de um novo amor?...

6 de outubro de 2007

São recordações

Escolhemos um restaurante fora da cidade, bem longe dos olhares conhecidos. Queriamos fugir aos rumores, camuflar um segredo. Sentados à mesa, a mulher de cabelos claros e olhar desperto e grande sorria discretamente à minha direita, à medida que o tempo passava e que o ambiente já descomprimido permitia uma maior confiança, senti o seu braço esquerdo a tocar o meu. Fê-lo de uma forma discreta, na primeira vez. E reconhecendo o meu gesto permissivo e de agrado continuou disfarçando as suas intenções junto dos outros convivas.
No regresso partilhamos o mesmo carro em direcção a não sei onde. Fomos no caminho debaixo de um céu estrelado atraindo as nossas mãos uma na outra como imanes. Sugeri-lhe encostar o carro numa estrada estreita e paralela à nacional. Guinou o carro sem hesitações, avançou mais uns metros e parou quando sentiu a segurança de estar a uma distância razoável do movimento da estrada principal. Pensei em acender um cigarro e criar ambiente, os nossos olhares cruzavam-se pela primeira vez nesse dia. Desligou o carro, retirou o cinto de segurança e movimentou-se na minha direcção. Olhou-me com um olhar sorridente e num impulso que me surpreendeu beijou-me a boca. Intensamente. Desesperadamente.
Em nosso redor a paz nocturna de um campo de girassóis. A sua pele macia e suave extasiava os meus sentidos, os seus beijos húmidos despertava ainda mais o desejo de a ter. Ali. Sem demoras. Sem tempo para esperar...
Regressamos à cidade pela estrada nacional movimentada. Ficamos na esperança de um reencontro que o tempo foi apagando lentamente. Não insisti. Não insistiu...

LINHA DO SUL

Agrada-me opinar. Nos últimos tempos tenho estado no lado da observação e indisponível para intervir. Decidi manifestar o que penso sobre a cidade, a região e o país num blogue que criei para o efeito: A Linha Do Sul.
O registo é diferente. O objectivo é outro. O estimulo também. Para os interessados fica o convite a uma visita (sidebar, Do Autor).

Mudança breve

Apetece-me a mudança. Uma mudança de tons. O outro crepúsculo segue o branco de fundo da paz e o negro vincado das convicções e dos sentimentos.
Espero não desiludir...

Entre nós

Imagino o seu olhar a crescer a cada palavra. Sinto o seu sorriso distante a desenhar-se no rosto perfeito e belo de uma musa. A minha musa. E as suas mãos brancas a tactear o ecrã negro de O outro crepúsculo.

Do lado de lá sei que existe um coração que me tenta. Que palpita ansioso desejando a minha presença. A sua voz eloquente e calma suspira de palavras de amor eterno.

Antes de ti

antes os dias eram de pedra
duros e frios deformados pela áspera erosão
estáticos e imóveis presos ao chão

agora fazes dos meus dias
campos floridos e alegres

Semente noctívaga

Ergueu-se uma brisa fresca nos campos que circundam a cidade. O silêncio da terra adormecida acomodou-se nos nossos corpos extasiados de paixão e de desejo. Vista daqui a cidade parece outra. Tem outro encanto pintada no amarelo das luzes sob o céu azul de um luar minguante e tímido. As estrelas vencem a nebelina que ameaçava a noite e cintilam no céu vitoriosas. Como o amor que se aperta num abraço intenso e se prolonga em olhares brilhantes.
O tempo passa fresco e doce no toque dos corpos, nas caricias, nos beijos longos e ardentes.
Aos nossos pés a cidade adormece em silêncio. A planicie estende-se como um leito infinito. Aqui já houve girassóis. Por aqui já balancearam searas verdejantes. Douradas espigas de trigo. E hoje são os nossos corpos que se lançam à terra como sementes destinadas a germinar.
A conversa prolonga-se na madrugada contrariando o tempo da noite fresca. A brisa suave toca-nos a pele e refresca-nos os sentidos.
Voltamos ao lugar perfeito.

água nos meus olhos

hoje os meus olhos são água
não gotas de orvalho
mas água profunda de tristeza

3 de outubro de 2007

A hora da despedida

foi numa tarde assim que vacilei, que resignei,
e em mim apagou-se o sorriso dos lábios
"acabou" pensei, "isto tem de ter um fim".
e vi no seu olhar, na expressão do seu rosto,
o pouco que lhe importou a despedida.
senti nas suas mãos frias que o amor estava deposto,
como um rei nu, sem reinado.
agora nem sei o tempo exacto do adeus,
nem sei a que horas comemorar o passado.
sei apenas que foi numa tarde assim...

vou-me embora

vou-me embora.
parto pelas ruas mais largas e escuras para não me encontrares.
vou no canto de silêncio da madrugada para não me escutares.
parto para longe dos teus olhos que me traíram com falsidade
e num caminho desconhecido afasto-me da cidade.
quero esquecer as ruas e as casas onde moras,
partir sem regresso previsto.
vou-me embora. vou deixar-te. desisto...

Dúvida poética

Duvido do sentido dos poemas, do caminho que percorrem até ti
das palavras desfeitas na ignorância, das rimas quebradas no fim.
Duvido da meta. Dos sentimentos feitos de esperança.
E emudeço cada poema com fúteis declarações de amor...
Sobretudo inconsequentes.

O Céu Caiu

Ontem o céu caiu na hora do crepúsculo. Veio de azul, de negro, de cinzento e da cor do fogo. E a rasgá-lo um imenso arco-íris sobre os campos extensos em redor da cidade. Caiu o céu antes da noite escura anunciando abraços folgados.
E hoje a manhã amanheceu, coberta de neblina, escondendo o céu. O sol distante. Os rostos pesados e tristes, baralhados na falta repentina de uma luz alegre. São assim os dias. Diferentes uns dos outros. Como nós...
Seguimos o lugar das rotinas, dos compromissos de circunstância. Os olás que se dizem por cortesia. E num instante tudo muda. Tudo muda...

Decidir o regresso

Ao longo do tempo tenho recebido de amigos e conhecidos, e também de alguns desconhecidos, o estímulo para o regresso a uma actividade pública. Mantenho-me afastado nos últimos cinco anos com vários objectivos e por diversas razões. Mas como ontem alguém que muito considero disse não é possível continuar a recusar as oportunidades e o estímulo exterior. Não posso alhear-me das responsabilidades cívicas que tanto gosto de exigir aos outros.
Tenho pensado no assunto nos últimos meses e talvez seja a hora de decidir regressar!

2 de outubro de 2007

Para ti num dia como os de hoje

Hoje queria-te vestida da cor do teu sorriso
em passos calmos e acertados em direcção ao que é preciso
queria-te forte e imensa como uma montanha
que nasce no âmago da terra e cresce até ao céu
queria-te de pé como uma árvore
e extensa como um abraço meu

Reflexão imprópria sobre a vida

Entre os dias, no meio de nadas e de tudos, nas asas do vento, numa gota de água, numa particula invisível de ar, num minusculo grão de terra ou nas labaredas quentes do fogo vive-se a vida. A vida que nos limita, que limitamos condicionando os rumos, alterando destinos. E à vida entregamos os dias, as horas, os minutos e os segundos até à exaustão, até ao suspiro final. Damo-nos à vida como se nos exigisse que nos entregassemos a ela quando que faz sentido é viver a vida e lutar pedindo-lhe cada vez mais de nadas e de tudos.
Não nos resignemos perante os sonhos. Não abdiquemos das ambições. Mas não nos afastemos da própria vida.

Tudo

Tudo se concentra em ti
desde a tua essência
à tua beleza.
Desde a tua existência
à tua natureza.

- Tudo nasce de ti.

O TEMPO

O tempo - neste caso a falta de tempo - colocou-me na distância deste blogue. E com a falta de tempo dei por mim apagado de inspiração. Não porque o amor tenha tido um fim. Isso não. Nem porque os meus olhares estão diferentes. Não, isso também não. É tão só falta de tempo...

27 de setembro de 2007

FESTIVAL DO AMOR

O Festival do Amor regressa pela segunda vez. Agrada-me a ideia. Elogio o conceito. Admiro a pretensão de inovar.
Este é talvez - e aqui o talvez é redondo - o único acontecimento que evoca a figura de Mariana Alcoforado. Pode, para os mais distraidos ou para os arautos da desgraça, passar desapercebida a figura de Mariana, mas não deixa de ser relevante que uma das poucas figuras históricas e com interesse cultural mundialmente conhecida e natural de Beja tenha tão insignificante importância aos olhos de quem tem a função de cuidar destas coisas. Não é possível continuar a desperdiçar tal património.
Mas ainda bem que da origem privada nasce o projecto e o arrojo para não deixar cair no esquecimento a figura de Mariana Alcoforado. E com base nesta figura adapta-se o Amor aos tempos de hoje. Os temas podem ser discutíveis. Mas a ideia e o esforço devem ser elogiados. Sem reservas.
Esta tarde caminhava pela rua e assisti à conversa entre duas raparigas adolescentes. Enquanto uma perguntava o que era o Festival do Amor, a outra respondeu-lhe explicando-lhe que se inspirava em Mariana Alcoforado... E pareceu a explicação no caminho certo. Se um sucesso se atribui à organização deste evento é sem dúvida o de nos trazer às conversas e ao esclarecimento dos mais jovens quem foi Mariana Alcoforado.
E para que se conste o Festival do Amor tem o cuidado - penso que intencional - de inundar o centro da cidade de actividade. Noutra imagem: pessoas.
Mas como é do senso comum é mais fácil elogiar o que está para lá da nossa porta.

o amor sai à rua

levanta-se no ar nocturno uma brisa leve
que passeia pelas ruas escuras da cidade
o amor vai sair à rua e quem quiser que o leve
que esta brisa é ar fresco anunciando liberdade

25 de setembro de 2007

Passo a passo

passo a passo percorro um caminho irregular de pedras soltas.
passo a passo venço o tempo a caminhar.

Desabafo sobre a distância

Perturba-me a distância. Os espaços vazios entre os corpos. Os olhares tristes e frios que se prolongam como espadas. Confrontado com o distante perco-me. Renasce em mim o pensamento amargo dos dias mais amargos. Dou ao meu olhar o tom basso da tristeza. Apago dos meus lábios a vontade de sorrir. Deixo as mãos descair acompanhando um corpo resignado e frágil. Fraco.
Regressei ao passado, aos dias negros e gelados. Há conversas que se repetem. Há gestos semelhantes. Comportamentos idênticos que me assustam. Que me fazem estremecer. E no regresso ao passado, que as circunstâncias obrigam, sinto-me a desfalecer. A fraquejar. A vaguear sem rumo. Temo reviver o que apaguei da memória e do coração. Temo o regresso da amargura. Dolorosa e fatal.
Perturba-me a distância. O espaço de ar que nos separa da vontade de estar.

24 de setembro de 2007

À deriva

Um barco à deriva balança no mar alto sem vento que lhe sopre as velas, sem corrente que o faça reencontrar o rumo. Um barco à deriva no mar alto é tão insignificante como uma gota de água no oceano. É como uma ilha a vaguear numa imensidão de espaço asfixiante.

22 de setembro de 2007

Ocupação

Apresento as minhas desculpas aos visitantes de O Outro Crepúsculo por nos últimos dias não estar a publicar no ritmo normal. A vida ocupa-nos também com questões mais terrenas e isso condiciona o tempo e a inspiração. Brevemente, e passada a atribulação, retomarei a dinâmica.

Obrigado

Edil

Do outro lado escutam-se rumores que vagueiam nas ruas da cidade. E os rumores surgem na carencia dos esclarecimentos. E os homens que são livres, que pensam pelas suas cabeças, reflectem sobre o que se passa e se constrói na surdina dos corredores. E depois nascem os rumores. E deles não se queixem os que ignoraram a capacidade dos outros - daqueles que não são acritícos.
Pela cidade vagueam intenções desprendidas de valores. São como ventos fortes e ásperos que arrasam indiscriminadamente. E neles um vazio de consciência vive com a pretensão de se impôr. E ignorando a inteligência dos outros, ignoram-se a si mesmos.
E seguem os rumores o caminho livre e democrático da discussão. E seguem os rumores o objectivo saudável de questionar.
Há os que se resignam. E Há os que dizem Não!

20 de setembro de 2007

Pelo mundo

pelo mundo viajam as palavras
como se fossem aves migratórias
voam livres e selvagens
na forma de poemas e de histórias

por todo o mundo se escutam as palavras
de uma voz libertina e grave
é a voz de um simples poeta
que abre os braços e voa como se fosse uma ave

19 de setembro de 2007

Serenamente chega a manhã

serenamente chega a manhã e os nossos corpos ainda perdidos
aninham-se num sofá estreito e dourado como o sol nascente.
o cansaço não nos vence, não nos pesam as horas da madrugada;
pelo contrário: são leves como os desejos de outros sentidos.

a luz entra discreta nas frechas da janela virada a nascente
e cresce no solo até nos tocar com a intensidade desejada.
desafiamos o tempo. levamos ao limite um beijo inebriante.
(como se entre nós o limite fizesse sentido)

poderiam ser assim todas as manhãs. poderiam nascer da madrugada
sempre serenas e doces como os abraços em que me enlaças.

Escrever: a génese

Porque escrevo, bem sabes. Só tu sabes.
E pedes-me que continue a escrever, como se pedisses que continuasse a vida toda por diante, como se pedisses que eternizasse o sorriso, como se pedisses que prolongasse o meu corpo até ti, como se pedisses que mantivesse a mão aberta, como se pedisses que não me esquecesse de ti, como se pedisses que seguisse o caminho que bem sabes. E só tu sabes.
E eu... escrevo. E embora nos últimos dias por aqui não escreva, as palavras acompanham-me noutros projectos. Em outras literaturas. E hoje regresso para escrever. Porque pediste. Porque faz sentido que o faça por ti.
Chamas-me poeta. Os teus olhos brilham quando dizes que devo continuar. Acreditas no que dizes. Fazes-me acreditar no que dizes. E eu... escrevo. Porque escrevo, bem sabes. E só tu sabes que é para ti.

17 de setembro de 2007

Nem sempre

nem sempre os nossos olhares se cruzam
nem sempre os sorrisos coincidem
nem sempre as nossas mãos se entrelaçam

basta o sempre em que estamos como um só

Repara nas árvores...

repara nas árvores frondosas
que se vestem no verde clorofila
são como metáforas caprichosas
de figuras moldadas por argila

repara que nelas se seguram folhas
leves e agitadas como a vida
presas nos ramos como nós às escolhas
são árvores verticais mesmo na hora da despedida

14 de setembro de 2007

Namoro

Entrelaçam-se as mãos. Aproximam-se os olhares. Os lábios atraem-se e os corpos chegam-se um ao outro. O beijo, percebe-se, é o resultado óbvio e incontornável. A frescura da noite tempera o calor do desejo. De a ter. De o ter.

O beijo dá-se. Inebriante. Extasiante. Prolongado, como o futuro que os aguarda. Partilham a cumplicidade do momento. O que os une à parte de todos. Como se fossem um só. Como se entre os dois tudo fosse suficiente para existir vida...

A noite continua doce. O luar branco e cheio. A brisa fresca anuncia o fim do verão. As mãos entrelaçadas. Os corpos apertados um no outro. Os sentimentos enlaçados. Do dois nasce uma nova vida. Como uma semente que germina hoje. Como uma árvore que será amanhã.

Namoram!...

12 de setembro de 2007

Poema sobre o que é importante

não importa se o céu passeia despido de estrelas na noite
ou se nas ruas da cidade branca ecoam silêncios de tristeza
não importa se os olhares fogem quando me cruzo com eles
ou se fogem as mãos para longe da minha certeza
já não importa se as árvores não se vergam quando passo
ou se as aves se escondem recusando-me um abraço
tão pouco importa se amanhã o sol aquecerá o meu rosto
ou se os sinos das igrejas se calarão de desgosto
o que pode tudo isto importar se não me importares tu primeiro?

11 de setembro de 2007

É preciso dizer!

É preciso dizer!
É preciso dizer-te as palavras bonitas e sentidas que seguem o teu caminho, que te alegram nas manhãs leves e frescas, que te aconchegam nas tardes chuvosas e frias, que te abraçam nas noites de luar branco.
É preciso dizer!
É preciso dizer-te que as cores nascem no teu olhar, que o sol brilha no teu sorriso, que as tuas mãos seguram a vida delicadamente, que o teu rosto dá forma à lua...
É preciso dizer!

Contra o tempo

vou contra o tempo
navegando sobre as ondas
correndo para o vento áspero
longe das sombras
que se deitam no asfalto
vou contra o tempo
das horas em sobressalto

9 de setembro de 2007

Lugar Comum

Às vezes tudo parece tão normal. Tão rotineiro. Como o hábito dos cumprimentos. Os beijos repetidos da mesma forma, os lugares à mesa sempre definidos, as mesmas desculpas para os assuntos de sempre... às vezes, mesmo quando não nos damos conta tudo se repete numa rotina discreta que gasta os lugares comuns. E tudo piora quando se pretende ser surpreendido. A rotina asfixia a surpresa...
Lentamente vamos pela vida guiados pela rotina.

8 de setembro de 2007

Noite de afectos

imensa a noite leve e fresca de afectos
cobre-nos como um aconchegante manto
juntamos ao desejo as palavras de outros dialectos
abraços beijos mãos e outro tanto

brincam os nossos olhares tão irrequietos
na imensa noite leve e fresca de afectos

6 de setembro de 2007

AMAR-TE

Por vezes torna-se impossível descrever com as palavras o que carregamos dentro de nós. Desconhecemos se existirão palavras para tal, ou tememos que os outros não entendam com rigor e precisão o que sentimos, e como desejamos lhes transmitir o que sentimos.
Hoje percebi, noutro nível do que existe mas não é palpável, o que representa AMAR. Porque amamos alguém com a intensidade com que o vivemos. Hoje percebi porque AMO tanto quem desejo continuar a AMAR. Hoje percebi porque é essa pessoa que AMO e não outra.
Mas temo, com a mágoa da incerteza crua, não ser capaz de lhe dizer em palavras que a AMO!...

5 de setembro de 2007

Certa Noite...

Paramos o carro numa noite de céu estrelado junto ao mar. Deixamo-nos ficar sentados a olhar o mar onde ondulavam raios de lua ao ritmo da maré calma. Demos as mãos sem tirar os olhos do mar de prata que ouviamos derreter-se nos rochedos... Ficamos assim por uns instantes, por todo o tempo que conseguimos fugir ao olhar um do outro.


A brisa suave e fresca convidou-nos a um passeio no curto areal. Percorremo-lo entre abraços e beijos, até que os cheiros intensos dos nossos corpos não resistiram ao desejo de nos darmos um ao outro como se fosse a primeira vez....

Tenho a amargura...

tenho a amargura funda dos dias
os dias que me parecem mais longos
enquanto o tempo me percorre a vida
a amargura leva-me às florestas vazias
onde me confundo
com a húmida caruma que cobre o chão
quando as piso e me afundo

4 de setembro de 2007

Reflexo

ficam-te sempre os restos
as sobras das horas que passas no ruído da solidão
para ti ficam as paredes húmidas e bolorentas
que cobrem o branco gasto por palavras sedentas

dão-te apenas o minimo do que queres
a irrazoável insatisfação
para ti ficam as horas de desespero
que se saciam com um olhar de ilusão

para ti fica tudo
até que o tudo se esgote
na obscuridade da paixão

Espera

Horas, horas sem fim,
pesadas, fundas,
esperarei por ti
até que todas as coisas sejam mudas.


Até que uma pedra irrompa
e floresça.
Até que um pássaro me saia da garganta
e no silêncio desapareça.

Eugénio de Andrade

3 de setembro de 2007

Poeta sem ti

estás cada vez mais longe
cada vez mais distante
afastas-te como os dias do passado
não te quero como uma breve lembrança
tão pouco te desejo sem ser amado
e em ti reside ainda a esperança
de um amor doce e inacabado
mas sinto-te cada vez mais longe
cada vez mais distante
silenciaste a voz que desejo ouvir
rasuraste as palavras que quero sentir
e afastas-te deixando-me poeta errante
e de que servem agora as palavras?
ou as imagens que captei para te ver?
de que serve um poeta sem ti
vazio oco de não te ter?

Tu

restas-me tu nesta tarde amarga
de palavras desencontradas e vãs
desejo tanto um abraço teu
- daqueles que me erguiam pelas manhãs

2 de setembro de 2007

ESTRANHA FORMA DE VIDA missão cumprida

Como prometido regresso ao romance policial de que vos falei em Julho: ESTRANHA FORMA DE VIDA, de Carlos Ademar, Oficina do Livro. 2007.
A viagem faz-se numa leitura fácil e entendível, apesar de se perceber o conhecimento técnico do autor, que nos segura às páginas com os cheiros desconhecidos (para a maioria) das situações mais crueis da natureza humana e uma narração coerente que nos dá, a todo o instante, a sensação de dominarmos o desenrolar dos acontecimentos... até ao fim, porque no fim o autor brinda-nos com a realidade. Agita-nos a consciência!
Conheceremos a sociedade em que vivemos? Será Portugal o país dos brandos costumes, pacificado? Ou será Portugal, como qualquer outro país, uma sociedade dividida e condicionada por uma realidade paralela que desconhecemos?
Carlos Ademar narra neste romance uma história em torno de um simples homicidio, como muitos outros que lemos quase diariamente nos jornais mais sensacionalistas. Mas indo ao fundo das coisas, numa investigação policial perspicaz mas insuficiente, o autor dá-nos a conhecer um mundo obscuro e sujo que nos condiciona ao nível das instituições de investigação e de justiça, dos meios económicos e políticos. Nem sempre a realidade é o que nos parece estar à frente dos olhos...
Empolgante, intenso, coerente e real. ESTRANHA FORMA DE VIDA leva-nos ao mundo da corrupção e da alta criminalidade em Portugal, muito além de outras obras que enchem prateleiras e esgotam edições mediatizadas. Neste romance existe a percepção da realidade. Uma realidade que não está muito distante de nós!

Longe de tudo

Passei os dias longe das ruas e dos rostos cansados de mim, talvez cansados de mim. Estive onde não me procurariam, na companhia de olhos renovados e de sorrisos leves, que não esforçados. Fui pelas ruas ingremes de uma terra que não é a minha, sentei-me em esplanadas de cores diferentes. Ouvi linguagens distintas, sem sotaque pesado e arrastado. Percorri a noite até à madrugada, até ao primeiro instante de luz solar. Adormeci na página de um romance que me acompanha para onde quer que vá. De que não sou capaz de fugir, mesmo quando corro desesperadamente na direcção oposta.
Senti as suas mãos no meu rosto acariciando-o suavemente. Recebi o seu beijo nos lábios secos. Abriu-me os olhos. E num abraço forte ensinou-me a viver outro dia longe de si...

Perder!?

Por vezes assalta-me o tormento de uma ideia incerta:

Podemos perder tudo o que nos rodeia, muitas dessas coisas conseguiremos recuperá-las de uma ou outra forma; e provavelmente mais tarde não nos interessa recuperar outras. Mas o tempo jamais o recuperamos; o tempo que se gasta na indecisão; o tempo que se perde nos fúteis orgulhos; o tempo que nos fez felizes; o tempo passa e não regressa mais. É irrecuperável...
Lamento o tempo que perdemos.

Uma Voz

és de todos os sorrisos o que me desperta
nas manhãs profundas de solidão incerta
a tua voz emerge no meu mundo
como se de um guião se tratasse
iluminando o denso e negro fundo

1 de setembro de 2007

De nós

De nós parte o sentido fino do amor. De nós para o mundo inteiro. De nós para nós. E no sentido que o amor caminha existe sempre a tua imagem. O teu cheiro, o suave e doce aroma do teu corpo. As tuas mãos serenas. Os teus passos elegantes desfilando nas ruas quentes da minha cidade. E os teus olhos, negros e recortados, de brilho luzente.
De nós parte o sentido exclusivo do amor. Entre nós. Nos instantes densos que partilhamos com beijos frescos e abraços feitos de sentir. De nós saberá o mundo...

31 de agosto de 2007

surges...

surges na linha do horizonte
onde o crepusculo está a acontecer
vens na cor do fogo

30 de agosto de 2007

Ainda aí estás?

penso que ainda aí estás
do lado de lá da janela indiscreta
sorrindo com as palavras que escrevo
com a intenção de te abraçar
como se fosses o único corpo na minha vida
este poderia ser um poema como todos os outros
que escrevi para que sentisses as minhas mãos
a tocar o teu suave rosto
onde os teus olhos costumavam saltitar de alegria
quero pensar que ainda aí estás
no lugar de onde se avistam as memórias
sobre o parapeito da janela indiscreta
talvez ainda aí estejas
aguardando na penosa dor da ausência
e se ainda aí estiveres
peço-te que me esperes serenamente
que um dia surgirei na forma de uma palavra

A cidade esquecida

Vivo distante dos lugares de sempre. Dos espaços que se mantém estáticos desde que os visitei pela última vez. Aos poucos, porque agora a disponibilidade é maior, vou dando conta do tempo que passou sem que regressasse...

A vida levou-me a outros hábitos e neles me prendi sem o propósito de esquecer o que me rodeia. Em Beja, entre ruas vazias e silêncios ensurdecedores, existem lugares que vêm do passado como o Museu Rainha D. Leonor onde Mariana Alcoforado se enamorou, A Igreja de N.S.ª dos Prazeres onde uma exposição de Arte Sacra nos conduz ao histórico legado religioso, entre outras igrejas, como a Sé, a da Misericórdia, A ermida de Stº André, a Igreja de S. Francisco ou de Stº Amaro, e o Castelo, claro, de onde emerge uma torre rumo ao céu que avista a planície extensa do Alentejo.

E a estes lugares que me lembro de ter visitado quando muito jovem não tenho voltado. É pena, perco mais com a distância do que esses espaços que ainda vivem sem mim e sem os outros... Por enquanto!

Raios de Lua

Um vidro alto, fixado entre estruturas de ferro e de betão, separava-nos do lago raso e brilhante. Raios de lua rasgavam a tranquilidade da água. Nas margens pontos de luz milimetricamente colocados prolongavam a extensão do lago, para além do passadiço central. Sentados à mesa desfrutavamos de um jantar a dois. Só os dois. Os olhares fixavam-se um no outro acompanhados de largos e romanticos sorrisos.
Um jantar a dois não se faz sem um bom vinho. Tinto, da cor do calor ardente da paixão. Tinto, da cor intensa do sangue que acelera o desejo. E tudo o resto são gestos e palavras... E um brinde à leveza das manhãs em que acordo na sua companhia.
Não importa a conversa que fluiu eloquente, não interessa se não o brilho do seu olhar deslumbrando o meu. E um beijo, apaixonado e intenso, no topo do mundo, sobre o lago raso e calmo onde navegavam tranquilos os raios de lua. E um beijo, prolongado e doce, na frescura da brisa nocturna.

Daqui...

Daqui seguem palavras precisas
Pelas ondulantes searas douradas
No sentido do teu coração vermelho

Gotas de água na tarde calma
Brisas leves de sílabas acentuadas

29 de agosto de 2007

Leve manhã

Tão leve surge a manhã
Que a confundo com ar
E respiro-a fresca
Em cada beijo teu
Tão leve surge a manhã
Que a levo no meu peito
E passeio-a no teu corpo
Onde me aguarda um lugar perfeito

Poema de Regresso

Regresso aos poemas com a tranquilidade do teu olhar
Ainda que as palavras se repitam na intenção de te amar
Sigo as linhas direitas do caderno que me assiste
Como se fossem estradas que me guiam ao teu encontro
Na impoluta vontade de reafirmar o que existe
E nas rimas soltas ou fixas resisto ao confronto

Poema sobre Ti

Inebriado pelo cheiro do teu corpo
Caminho impaciente ao teu encontro
Escondes-te no foco da lua
Sobre o céu azul de uma noite nua

Tudo se centra em ti
Como se fosses o epicentro
De um terramoto que me abala

Reflexão sobre Beja

Com vagar passeio pela cidade que se centra nas planícies como se fosse uma ilha. A cidade está deserta na noite de vento. Caminho sem dirigir o passeio a um local especifico. Vou ao sabor dos passos e no conforto da companhia. A cidade é nossa. Raras vezes alguém interrompe o silêncio da noite fria. As ruas estreitas parecem neste momento largas avenidas. As casas parecem distantes da vida. Fechadas, separando-se da noite. Conduz-me um vento forte que agita as copas das árvores, que levanta as folhas secas caídas no chão. E esse vento leva-me até um banco de jardim abandonado. Acendo um cigarro como desculpa para descansar. Olho em meu redor e tudo acontece no silêncio estático de uma cidade vazia.
Pela manhã a cidade não é assim... As pessoas agitam-se nas ruas, sobrepõem-se nas calçadas estreitas dos passeios, enchem largos com sorrisos feitos de velhos hábitos. Pela manhã a cidade ergue-se na planície com sons indefinidos de uma multidão. No centro as pessoas cruzam-se e cumprimentam-se, as lojas, os supermercados e os cafés são ocupados na rotina matinal dos afazeres. E tudo isto dura uns instantes, como se a manhã da cidade fosse um fósforo que arde rápido até ao fim. Depois, quando chega a tarde quente as ruas são mais parecidas com o vazio nocturno. A cidade esgotou-se no frenesim matinal.
O que nos resta? Que fé vã nos acalentará a esperança de um futuro diferente? Quando seremos suficientes para que a cidade seja plena de vida?...

28 de agosto de 2007

Musa IV

Hoje queria oferecer-te o mundo! O mundo das coisas boas, das palavras doces e meigas. Desejava preencher-te com as imagens mais belas e exclusivas, levar-te aos sonhos sem destino pré-definido. Queria poder ter o poder de te dar um momento de felicidade para que os teus pensamentos fossem da cor azul do dia em que o teu sorriso passeia nos olhares dos outros. Em que o teu sorriso enebria a minha alma.
Hoje queria que ouvisses apenas as coisas boas!

Um dia

Queria tanto poder olhar-te nos olhos, seguir-te como quem segue um traço de água fresca, e passar os dias restantes no aconchego do teu abraço. E nos teus braços, entre suspiros de conforto, imaginar os dias que ainda faltam... tranquilamente, com o prazer inesgotável de te ter.
Talvez um dia entendas o que quero, talvez nesse dia tudo possa ser como desejamos...

Esclarecimento a Joia

Não é minha intenção responder aos comentários dos visitantes deste Blogue. Pelo contrário, desejo as opiniões livres, num espaço de respeito e de tolerância. O objectivo deste Blogue é tão só o da expressão de pensamentos e de sentimentos que se justificam pela experiência do seu autor (ainda que jovem). No entanto, reconheço a pertinência das opiniões manifestadas pela visitante Joia. E mais, confesso admiração pelo que pensa, embora sempre em tom discordante com o meu. Adoro o sufismo.
Primeiro importa esclarecer alguns aspectos para compreensão do estado de espírito do autor:
No que respeita ao entendimento do Amor, e sendo abrangente e infidável a sua definição, considero que em tudo existe um oposto que justifica a existência de algo: O bom e o mau; o branco e o preto; o dia e a noite; a alegria e a tristeza; etc..
Ora, nem tudo tem de ser exclusivamente amargo, ou depreciativo, podemos ver as coisas na nossa perspectiva pessoal, ou abordá-las num sentido mais lacto, sendo que as entendemos como nos são colocadas à disposição da nossa capacidade de adquirir conhecimentos. No meu caso, e das minhas opiniões, tudo é expresso numa perspectiva muito pessoal.
Uso muitas vezes a metáfora, criando imagens figurativas, e outras vezes escrevo com a intenção objectiva de dizer o que realmente penso, sem outras interpretações possíveis.
É saudável a Rotina do Amor? Sim, e esta não pode ser entendida como um acontecimento estático, negativo e depreciativo. A rotina pode ser a dinâmica de um espaço próprio capaz de valorizar o Amor, dar-lhe vida, faze-lo viver, sem que nisso exista uma habituação mental ou material de desgaste. Aguardar por alguém, quando no acto da espera pode haver o prazer da saudade, e multiplicar o desejo de se estar com esse alguém é sem dúvida positivo. De outra forma teria escrito Rotina no Amor, e aí entender-se-ía a perspectiva negativa.
O Amor é uma Convicção? Sem dúvida! De outra maneira existiria a percepção do que se sente? Teríamos certezas? E na primeira dúvida, desistiriamos? Importa esclarecer que um sentimento é uma convicção, e não o entenderiamos como tal se não fosse a necessidade de esclarecer - constantemente - o que sentimos.
Gosto do sufismo. Admiro as opiniões divergentes. Resta-me deixar o convite para que volte sempre.
Obrigado

27 de agosto de 2007

Bem sei do tempo

Bem sei do tempo, das horas e dos dias, em que tudo se transforma num eterno desespero. Bem conheço esse tempo, em que me aconchegarei num manto largo de silêncio. Bem sei que existe o tempo que nos separará, como se fosse uma ponte infinita coberta por um céu de névoa densa. Bem conheço o sentido do tempo, esse que nos conduz à amargura de todas as dúvidas. Bem sei que é importante tempo para te esperar como se essa fosse a única rotina do Amor.

Deixo

As palavras repetem-se nos ecos e gastam-se no tempo da tua ausência. Deixo as palavras tomarem o caminho fácil das futilidades. Deixo as palavras secarem como folhas na página de um livro. Deixo as palavras, incapaz de deixar o constante pensamento...

Um poema teu

Um poema teu
nasce na claridade do teu olhar
e depois,
bem depois,
constrói-se nos gestos finos das tuas mãos
e em cada rima acentua-se
na certeza dos teus sentimentos

e de ti nasce um poema
o teu poema

26 de agosto de 2007

Domingo

Hoje é domingo. Um domingo igual aos outros, numa cidade diferente de todas as outras. Aqui as ruas gozam o descanso dos passos pesados, das lentas correrias. Os passeios alinham-se em sossego junto às casas enraizados em frondosas árvores. A cidade parece não existir. Apenas um ou outro carro rompe o silêncio da estrada empedrada. Ouvem-se os pássaros - esses frágeis resistentes - a esvoaçar entre os telhados altos das casas brancas. Hoje a cidade repousa no sossego do silêncio que construiu domingo após domingo. As pessoas são raras figuras que percorrem as ruas desertas de vida. Estamos em Beja. Hoje é Domingo...

25 de agosto de 2007

Sem fim

Queria tanto que este momento não tivesse fim. Queria repeti-lo se pudesse na tua companhia. O ar abafado e húmido da tempestade que nos estragou a tarde persegue-nos na noite que agora chega. E se amanhã chover? Podemos estar juntos para que possa contemplar o teu frágil sorriso?

Ignorância

Na madrugada, quando ao longe se avistavam raios rasgando o negro da noite, surgiu o seu rosto de silêncio desenhado na brancura da lua. As horas passam, umas sobre as outras, como se fossem ondas sobrepostas. Sinto-as em cada instante, magoando o sentir, criando dúvidas que julguei não existirem. Adormeço na manhã cinzenta e chuvosa sem saber o que vai acontecer.
Os sons tenho-os na minha cabeça como rumores distorcidos, palavras vãs. E os gestos? Onde fica a intenção de um abraço? O que fazer ao desejo de um beijo? Deito-me numa almofada de interrogações... vacilo na vontade de um telefonema.
Não sei o que se passa e isso é pior que o desamor. É a ferida crua da ignorância que me atormenta o espirito. Que me desiquilibra os passos. Que me pesa no corpo.

Praça da República em Beja II

E não foi preciso aguardar muito... Um novo ciclo iniciou-se na boa imaginação e no bom gosto. O Praça da República em Beja está renovado e pronto para surpreender ainda mais. Com um novo endereço e o mesmo espirito...

Aconselho uma visita às cores, às imagens, e claro, às palavras, em:

http://www.pracadarepublicaembeja.net/

24 de agosto de 2007

Praça da República em Beja

Numa visita diária ao Praça da República em Beja fui confrontado com o anuncio do fim de uma etapa. Entendi que se está a renovar e que este espaço poderá apenas criar em nós o entusiasmo para que o revisitemos vezes sem conta com redobrado interesse. Outra coisa não aceitaria que acontecesse...
Este Blogue (Praça da República) tem sido uma lufada de ar fresco na abafada sociedade em que vivemos. Não sou dos que o criticam porque é polémico e audacioso nas opiniões, pelo contrário, essa atitude estimula a reflexão e permite aos que não preferem a opinião única um espaço de reflexão e de opinião de que carecemos na nossa cidade. Divergir criticamente é substancialmente preferível a convergir acriticamente.
Junte-se à opinião o bom gosto pela fotografia, a excelente selecção de poemas, a diversificação nos temas abordados, e sem dúvida alguma e mais importante que tudo o carinho e o amor de um cidadão pela sua terra e num só clic temos um blogue que nos habituou à frescura das ideias e das imagens.
Aguardo que o regresso seja para breve. Aguardo, sabendo que o sucesso se manterá!

Apenas um Adeus...

Recebo as suas palavras definitivas anunciando o fim. Sinto que não dizem tudo o que sente. Apenas um Adeus. O Adeus que temia ouvir.
Decido ficar em silêncio... Emudeço os sentimentos que se revoltam no meu corpo. Cubro a face para que não se apercebam que estou diferente, doído, magoado, ferido na morte da despedida...
Releio o que me escreveu no desespero de uma ténue esperança de que um outro sentido possa alterar o rumo dos acontecimentos. Releio até à exaustão, compreendendo por fim que as águas se separaram em leitos distintos. Apetece-me dizer-lhe com voz meiga e serena "Fica!" - mas temo o confronto, temo escutar os seus argumentos, temo conhecer as suas amarguras. Mas não aceito que me diga Adeus! Não me resigno ao silêncio. Não abdico deste Amor!
A partir de hoje o que tenho é muito menos. Serei menos do que se possa esperar. Uma parte de mim desfaz-se num sublime lugar que desconheço...

23 de agosto de 2007

O Anel de Saturno

Há coisas que nos parecem inatingíveis. E que quando as desejamos confundimo-las como se fossem sonhos de onde extraimos o sumo da utopia. E perseguimo-las como se fizesse sentido segui-las, dar-lhes forma e essência.
Um poeta, um grande poeta, escreveu para a sua amada musa o desejo de lhe oferecer o anel de saturno. Sim, esse imenso e impalpável anel que paira na sua órbita. Temeu o Poeta, esse grande Poeta, que fosse o anel demasiado pequeno para servir no dedo da sua musa. Anteveu o Poeta, esse grandioso Poeta, que na utopia do seu amor, e até na convicção do seu sentimento, a imensidão da sua amada musa era infinita...
Vivo esta sensação de imensidão. Vivo este sonho que me mantém acordado. Que me segura na terra, prendendo-me à vida - enlaçado num Anel de inquestionável valor!
Jorge de Sousa Braga (n. 1957)
POEMA DE AMOR
"Esta noite sonhei oferecer-te o anel de Saturno
e quase ia morrendo com o receio de que ele não
te coubesse no dedo"

Parque da Cidade III

Aproxima-se o final da tarde, a brisa que percorre a cidade refresca-se ainda mais nos campos das sombras que crescem a cada instante. No caminho estreito que separa o parque da cidade agitada surgem pessoas que caminham, e outras que correm, e outras que passeiam nas bicicletas. Vejo-os ao longe por entre os cortes das sebes, como se fossem figuras animadas numa imagem desfragmentada. As cadeiras da esplanada vão sendo ocupadas com o entardecer. Ouço ruídos, conversas distorcidas que o vento levanta dos lugares de onde não deveriam ter saído. Aqui nasceu um novo centro da cidade...
A cidade cresceu, digo-o para mim num pensamento de espanto. A cidade cresceu e de tanto julgar que a conheço não dei conta de que cresceu. Por vezes passo nos lugares e páro admirado pela forma dos edifícios que os meus olhos vão descobrindo. Estão lá desde sempre, muito antes de mim. Mas não lhes dei importância, não os olhei - talvez porque não julgasse importante faze-lo na altura. Agora olho-os como se alguém os tivesse colocado nesses lugares para me confundir.
Conforto os pensamentos nostálgicos num gin tónico - limão q.b. e muito gelo.
À minha volta, espalhados na extensão do Parque, existem pontos pequenos verdes a assinalar o lugar das futuras árvores adultas de amanhã. Não sei se são plátanos. Eu gosto dos plátanos: altos e fortes, de folha larga e áspera do pó. Gosto de plátanos, como aqueles que circundam o museu, e os outros que antes se debruçavam no Jardim do Bacalhau sobre a água que jorrava no largo geométrico e azul. Nessa altura adormecia nas suas sombras. Ali construíra o sonho de um largo de árvores frondosas onde cabia o mundo, todo o mundo...
Espero pelo crepúsculo que tarda em chegar. Vem lento e sem pressa. Vem de azul e fogo no limite da planície. Aguardo por ele. Sorvo o último gole de gin tónico. Fumo um cigarro enquanto me despeço do Parque da Cidade!

22 de agosto de 2007

Parque da Cidade II

Há uns anos atrás as noites gastavam-se até à exaustão das horas tardias nos pequenos largos, praças e jardins do centro da cidade. Mas isso era no tempo em que o centro tinha vida e que as suas ruas estreitas e altas saltitavam como se fossem as artérias do coração da cidade. Nessa altura, ainda me recordo, a cidade, que entretanto se deixava adormecer na periferia, vinha ao centro cumprimentar quem por lá passeava. Hoje essas ruas são apenas estreitas e altas, caiadas na cor branca do silêncio.
Acordo deste sonho nostálgico com o grito libertino de uma criança que utiliza a bicicleta como um objecto de malabarismo urbano. As rãs silenciam o seu coaxar enquanto se perde na distância do caminho misturado com gravilha o som do jovem malabarista urbano. Decido caminhar mais um pouco até à esplanada junto ao lago. A água refresca-nos os pensamentos, deixa-os fluir como nascentes de onde brota o límpido e sagrado elemento da natureza.
Sento-me numa cadeira sob um dos chapéus de palha que cortam o sol na forma de uma moeda e aguardo. Aguardo não sei por quem. Mas sinto que aguardo.
Antigamente esta zona parecia distante da cidade. Vir para estes lado, mesmo que numa bicicleta é uma aventura que preparavamos. Digo aventura porque o nosso espaço era o centro da cidade, junto ao largo do museu, e sair de lá para vir até este ermo era para os aventureiros. Regra geral vinhamos para fazer nada. Sim, para fazer nada. Vinhamos onde já não era cidade. Mas agora os carros trazem-nos com facilidade. A água chama-nos para repousar o olhar...

21 de agosto de 2007

Parque da Cidade I

Dos espaços leves e verdes que a cidade permite disfrutar escolho para uma tarde de introinspecção o Parque da Cidade. A água rasa no lago amplo, o verde a camuflar o tórrido dia e o restolho do lado de lá da estrada agitada, as pessoas que se resguardam nas sombras do betão e o coaxar das rãs entre juncos emergindo de um lago mais pequeno e estreito.
Sento-me num desses bancos para escutar o coaxar das rãs e o zumbido das libelinhas e de outros insectos que sobrevoam a água esverdeada. A esta hora o Parque é mais intimista. São poucos, os loucos como eu, que se fazem ao calor de uma tarde de Agosto. Hoje corre uma brisa pela cidade e aqui sinto-a tocando-me a face.
Ao levantar o olhar apercebo-me de uma nova cidade. Do lado de lá do lago um bairro inteiro foi emergindo sem que reparasse nele com tanta atenção. A mata, onde os altos eucaliptos refrescam um circuito de manutenção foi-se encolhendo com o tempo para que à sua volta crescessem prédios e outros edificios. Mas ainda lá está, a ensinar-nos a respirar.
Recordei-me das tardes traquinas que passavamos no Jardim Público, das noites quentes que por lá passamos na conversa, sentados num banco de jardim, até que o guarda tocasse o pequeno sino anunciando o encerramento. Há umas noites atrás passei a pé junto ao Jardim Público e estava fechado. Os portões altos e verdes de grades encostavam-se um ao outro presos nas intolerância de um cadeado. Ainda bem que o Parque da Cidade não tem portões... Aos poucos fastamo-nos do centro, dos lugares do passado e da memória, daqueles que cultivamos na esperança de que nos sobreviveriam. Mas lentamente afastamo-nos deles. Ou afastam-nos deles.

20 de agosto de 2007

De volta à cidade

Regresso aos dias de rotina. Aos lugares comuns que conheço de cor. Às palavras gastas pelas circunstâncias. Queria tanto que a vida não fosse apenas isto...


Reencontro-me com o centro da cidade, com as ruas estreitas e altas que sobem e descem para que o coração da urbe se encontre com as planícies. Reencontro-me com outros rostos parecidos ao meu, que se perdem nestes dias de regresso ao quotidiano. As ruas ainda passeiam no vazio do calor de verão, as lojas ainda se esgotam na solidão e as árvores repousam serenas e resignadas a ausência de todos nós.


Regresso sem que tenha mudado. A cidade aguardou por mim, sem que tenha mudado...

19 de agosto de 2007

O que basta

Bastam-me as horas que me restam
As suficientes ainda para te viver
As que morrerão no fim de mim
As que sofro para te conhecer

Breve, como um instante de ar
Basta pouco, daqui até ao fim
Tão pouco que me inquieta não o saberes

Último Poema

As marés

Não sabem os que não me conhecem a dor dos reencontros. Os reencontros com pessoas que me tocam. Que me levam no sentido limpido do olhar. Hoje reencontrei-me com um grande, grande amigo.

A vida leva-nos como se fosse uma maré - ora vaza, ora enche - e nós somos ondas de espuma que se esgotam no areal denso que nos acolhe na desesperança. E entre as vidas de cada um geram-se mundos diferentes. Ondas separadas que têm o único destino de morrerem na praia, tal qual como náufragos...

Quero acreditar que a vida nos leva para outros oceanos. Quero acreditar que numa vida existem várias vidas - como numa maré infinitas de ondas. E nesta convicção me mantenho, como se fosse o Lugar Convicto da minha vida!

E para o Grande Amigo tudo!...

O teu silêncio

Existem silêncios...

quando a cidade adormece
e a madrugada me cerca
quando se esgotam as palavras
e os outros se calam
quando os pássaros emigram
e os rios secam
quando as planícies estão de negro
a vida finda
quando a música acaba
e as árvores se curvam

E existe o teu silêncio...
A mais profunda dor!

18 de agosto de 2007

Momento

Lá fora a cidade passeava-se nas ruas de silêncio de uma tarde de verão. Entre as paredes grossas e frescas, o seu corpo foi até ele desenhando trémulas formulas de desejo. Os seus olhos recortados entre folhas brancas e puras de papel eram como faróis que se podiam avistar num navio ao largo. Beijaram-se, como se fosse a derradeira vez. Mesmo sabendo que era apenas o inicio de tudo...
O vento quente batia de quando em vez nas portadas da janela entreaberta fazendo irromper na pequena sala os cortinados leves como se fossem flamingos a levantar voo. Uma orquídea branca segurava-se resistindo ao calor, num pequeno vaso sobre o aparador. Sentados no sofá ouviram as palavras um do outro que ecoavam a casa como eternas promessas de amor. Promessas de que não se duvida quando os olhos brilham e os corpos se atraem como imanes.
Desesperadamente, apaixonadamente, seguiram o caminho do desejo crescente até que a última gota de água secasse nos corpos suados de prazer...

17 de agosto de 2007

Lugar Etéreo

Já está disponível na integra a edição de LUGAR ETÉREO. Pode ser consultada no campo de PUBLICAÇÕES, do lado esquerdo do ecran.

Não

Recordo-me de uma tarde junto ao mar em que uma brisa, mais áspera que o habitual, se desfazia nos nossos corpos quentes. Veio à memória desses dias os seus olhos brilhantes que ofuscavam o sol e os nossos corpos inquietantes que desejavam o areal como se fosse o mais amplo leito para que o amor repousasse. Lembro-me, na frente limpida das lembranças, de um beijo timido e de abraços disfarçados, das mãos que se tocavam à distância. Lembro-me do segredo, da inquietação sobre os olhares dos outros. Recordo-me da intranquilidade que morria em cada beijo.
Lembro-me, Recordo-me de tudo e não quero regressar a esses pensamentos. Não quero voltar a esse lugar incómodo!

16 de agosto de 2007

De cada vez

De cada vez que o tempo passa sinto o que cresce na sua ausência. Sinto-o como se fosse perceptível aos meus olhos. O seu sorriso quando me olha. O seu olhar recortado e brilhante. A sua boca contornada pelos lábios mais doces que beijei. E as sua mãos? As suas mãos na minha pele quente de desejo.
Há coisas que não esquecemos. Que nos ficam na memória. Que nos eternizam no tempo. E cada vez que o tempo passa entendo com a clareza dos sentidos mais apurados que o meu ser se destina a si.
Não será preciso convencer-me de outra coisa. Basta-me a sua companhia...

15 de agosto de 2007

Hoje

as manhãs são como gotas de água
que me refrescam os sentidos
acordo com o teu sorriso no meu olhar
e hoje esqueci o sofrimento da mágoa
sou o que me levas a ser nas asas do amor
em cada instante de paixão quero amar

14 de agosto de 2007

Musa III

Podem as palavras soarem ridiculas. Podem os outros não as levarem a sério. Importa-me o que sinto hoje:
AMO-TE!

Antes

lembro-me da cidade branca como uma ilha sobre a planície
onde as searas verdes como o mar lhe tocavam.
lembro-me de cada rua onde corria na meninice
e de cada rosto com que me cruzava.
hoje sinto a nostalgia da vida, da vida inteira
que me cercou num lonquinquo passado.
e nas ruas de hoje os rostos passam ao lado
de uma cidade antes companheira.

Nada acontece

sigo os pássaros no céu azul do dia lento
que se definha nas ruas vazias da cidade
onde o tempo não passa com o vento
e nem o tempo mata tanta saudade

hoje é o dia em que nada acontece
por aqui tudo se tornou itinerante
o dia expira enquanto a noite aquece

13 de agosto de 2007

Sempre

Sempre corres para mim como se me quisesses. Como se me quisesses tanto. E sempre que o fazes o meu corpo anima-se. Agiganta-se. Cresce nas tuas mãos. Refresca-se nos teus lábios. Adormece no teu peito.

Escolher o amor

Se fosse possível ter escolhido o amor, ter decidido quem amasse - hoje como ontem e para sempre - e os meus sentidos seguiriam o rasto do teu sorriso. Quando olho para trás e penso nas horas em que me resignei amargamente ao desamor e à desesperança, arrependo-me de não te ter imaginado. De não ter acreditado que fosses real. E agora que olho em frente e que o teu rosto se espelha nos dias que o meu ser percorre arrependo-me de não ter sabido que então já existias.
Talvez o amor não seja apenas um encontro. Talvez o amor não seja tão só um momento. Talvez precisemos de sentir o seu lado escuro e sombrio para que aprendamos a amar.
O amor é uma convicção!

Crepusculo a dois

hoje o crepúsculo teve a tua companhia
e nos teus olhos as estrelas brilharam
enquanto a noite renascia
e contigo o crepusculo tem cheiro e sabor