18 de março de 2009

Pensamentos

Ontem à noite estava sentado num largo esvaziado pela madrugada, numa pequena vila costeira. À minha volta ouvia risos e gargalhadas. Conversas fúteis e disparatadas. Mas os meus pensamentos eram como o largo da vila: amplos e abertos, ligados ao mundo por duas estradas alinhadas por árvores e iluminação religioso-profana. Tenho a sensação que quiseram falar comigo, que me quiseram provocar com a circunstância das conversas. Não lhes respondi. Preferi o silêncio dos meus pensamentos, a tranquilidade do teu rosto junto à fonte iluminada que jorrava água. O meu telemóvel tocou. Já era tarde para esperar algum telefonema ou mensagem. Desinteressadamente retirei-o do bolso e surpreendi-me com as tuas palavras. Os meus olhos brilharam. Brilharam tanto que se apagou o encanto da fonte no centro do largo.

4 de março de 2009

Os dias do futuro (trechos)

A noite é como um berço que me acolhe, e por vezes é a madrugada que me agita. À noite pareço diferente. Sinto que o sou. Talvez a tranquilidade do céu, o silêncio das ruas, talvez a serenidade do meu espírito. À noite sou diferente. Sei que o sou. E à noite os pensamentos correm dentro de mim como se fossem rios em direcção ao mar. Deixo-os ir livres e divagantes.
Houve noites em que preferia não pensar. Ficava em casa aninhado nos lençóis, enfeitiçado por livros e séries televisivas. Deixava-me estar quieto, fingindo-me de morto. Queria que os outros acreditassem que já não existia. Queria acreditar que já não existia.
Houve dias em que o meu corpo vagueava como um vagabundo pelas ruas. Que se paralisava nas mesas dos cafés. Que se fingia vivo para não faltar aos outros. Nesses dias deixei-me ir, fiz o percurso do sol entre o nascente e o poente e só parava para o crepúsculo. Para o ocaso, não se desse o caso de voltar a acreditar.
E houve uma noite, digo noite porque já não sei e nestas coisas não se sabe o momento exacto, ou se quiseres um dia, em que ao olhar-te de longe admirava os teus gestos, as tuas expressões. E nessa noite, ou dia se preferires, aproximei-me de ti. Queria escutar a tua voz. Ouvir o que tinhas para dizer. Não a mim em particular. Bastava ouvir-te. E quando a tua voz em tom sereno e doce saiu do silêncio observador que até então te caracterizava se desenrolou em ideias e imagens claras de uma mulher diferente de todas as outras, percebi que o meu corpo tinha reencontrado uma razão para acreditar novamente.
E lá estavas: Finalmente um novo dia!
E desde então, seja noite ou seja dia, os meus pensamentos são puros e livres e alimentam o meu corpo em cada suspiro com tudo o que me trazes à vida.

Um dia, se esse dia chegar, e me quiseres tanto como te quero, e olhares para mim com o definitivo olhar do amor sentirei o mundo na palma da minha mão. E nesse dia, se esse dia chegar, serei poeta, profeta, vate, serei tudo o que o homem mais livre de todos poderá desejar.
Mas nos dias do presente, os do entretanto, voo no sentido da presa. Quero conquistar-te. Quero ter-te. Quero que sejas minha. E nos dias e nas noites que me trouxeste de volta à vida, vieram as minhas forças reforçadas e todas elas se ocupam de ti.