17 de dezembro de 2008

O mundo nos braços

tens o perfume dos campos
e os olhos de azul primavera
que iluminam as planícies

cabe-me o mundo nos braços
renovando novas esperanças
- os rios apertados e os ribeiros lassos,
as flores dos campos e as aves mansas

1 de dezembro de 2008

Carta antecipada ao meu filho recém-nascido

O teu corpo adormece nos meus braços, na rotina diária de um afago. O teu olhar cerra-se intermitente e cansado de uma busca incessante pelas novidades da vida: as cores brancas das paredes, os tons quentes de um quadro na sala, ou até a intensidade de um candeeiro. O teu sorriso ainda ténue e tímido esboça-se cuidadoso como se fosse o traço de um pincel que o colorisse para a eternidade. Lá fora os dias frios contornam a casa que nos aconchega e a rua cobre-se num manto amarelo de folhas secas onde os passos de uma cidade caminham frígidos. Ignoras as atrocidades de uma realidade sangrenta que percorre os canais de televisão. Desconheces os ruidosos silêncios que condicionam a vida, tal como querem que seja. Vives no teu mundo de inocências, de uma absoluta ignorância que ironicamente te protege. Não sabes nem desejas saber as razões dos outros. Basta-te o esforço para te fazeres compreender, para sinalizar a vontade de comer escolhes um choro e para te queixares de uma dor outro ainda mais acentuado e regular. E depois os teus olhos abrem-se claros como o céu primaveril. Lá fora, para além dos dias frios e das ruas encobertas de folhas secas, o mundo decompõe-se entre bons e maus, entre justiceiros e terroristas. Enquanto muitos se definham numa crise financeira, outros se vêm encurralados num gueto cada vez mais vasto de sangue e de miséria. E embora ainda não seja esta realidade atendível à tua existência, a verdade mais ou menos absoluta é que um dia te saberei confrontado com ela. E imagino a tua desilusão, a frustração a percorrer-te o olhar cândido de uma criança que merece o melhor da vida. A ti como todas as outras crianças em que penso agora, indefesas, abandonadas no direito a sonhar e a ter uma vida melhor. Antevejo as tuas mãos já grandes serem insuficientes para cuidar tanta amargura, e o teu sorriso já definido e natural a esmorecer-se nas contrariedades de um mundo cada vez mais injusto e selectivo. Um destes dias, quando me compreenderes, quero falar-te da utopia: do direito a desejar e a sonhar livremente, e da coragem dos homens que vencem impolutos num mundo imoral. Por agora, acolho-te no meu colo como se tratasse de uma fortaleza.

13 de novembro de 2008

Meiga Madrugada

Ainda nos abraçamos nas noites mansas...
Enquanto o arvoredo se cobre na bruma fria,
O silêncio reconquista a rotina da cidade
Num Outono lento e demorado.
Somos o aconchego um do outro
E mais um olhar novato, revigorado.
Ainda nos confortamos com as palavras
E os desejos infinitos de felicidade;
Somos também o alento da meiga madrugada
Que nos embala. Que nos afaga.

29 de outubro de 2008

Primeiras palavras

a noite fria. o engano da espera. o corpo impaciente. a memória inteira de uma vida no cabo do meu olhar. um som agudo. um choro. e nos meus braços senti caber o mundo. um mundo inteiro. um olhar timido. e num instante os nossos corpos se encontraram. enlaçados na vida um do outro. para sempre.

27 de outubro de 2008

CHÁ E TORRADAS: Parte 2

A rotina dos dias cumpre o objectivo de estimular o juízo. Acordo nas manhãs que confundo com as da primavera e deixo entrar a luz limpa em casa. Convido-a a entrar como se convida um amigo e deixo-a percorrer as divisões como se fosse da família. Quero pelas manhãs o abraço da natureza, o meu corpo entregue à vida sadia e a minha alma em harmonia com os dias alegres.

Mantenho o vício mortal do tabaco. Cigarros após cigarros. E o primeiro logo pela manhã enquanto espero que a luz solar entre. São os vícios que nos vergam. Que nos manuseiam como fracas figuras. E no tabaco sou tão fraco como alguns de vós serão noutros defeitos.

Penso nos outros. Penso em vocês que me dizem qualquer coisa, como se o modo me melhorasse o conteúdo. Imagino-me muitas vezes como me desejo: forte e impoluto. E nesses desejos supero-me por vezes, derroto-me noutras tantas. Como Ser falível e que se verga na hipocrisia que detesta. E é no fingimento que nos duplicamos, como um espelho que nos repete a figura.

Os passos aprendi que fazem o caminho. Um de cada vez. E os olhos bem abertos e atentos. E o corpo em posição de ataque. Com a leveza das mãos preparo-me para o que vem – já não as ambiciono delicadas, entendo a rugosa pele que as cobre. Escolhi tardiamente construir o caminho sereno da vida. Talvez porque só agora o extremo do meu olhar o permite. E bem sei que num futuro mais além corrigirei as opções de hoje. É por isso que é preferível serem os passos a traçar o caminho que o caminho a desafiar os passos. Aprendi-o com a dureza das perdas de uma vida, errante como um cavaleiro nocturno vagueando nas brumas.

Não tenho o direito de menosprezar a vida. Aprendi, desde muito pequeno, a respeitar e cuidar desse valor sublime. Moldaram-me na forma de princípios e valores que são muitas vezes os meus maiores adversários. Que confundem os outros e me castram. Que me fazem sentir hipócrita quando os ignoro.

Sou um ser reflexivo: penso e repenso, e gosto da clarificação das coisas. Não construo – ou pretendo não construir – situações sombrias, pelo contrário. Penso no lugar dos outros antes de decidir sobre eles, penso na razoabilidade das coisas, reflicto sobre o espaço temporal em que tudo se desenvolve… e decido! E antes uma má decisão que decisão nenhuma, já me dizia o meu pai…

Se fizer as contas à vida é fácil somar mais dias de felicidade que dias de infelicidade. Mas se pesar uma coisa e outra obtenho um resultado amargo. Dizem que nos recordamos com maior facilidade das coisas más. É verdade. São essas que nos pesam a memória – pelo insucesso, pela inoportunidade, pelo infortúnio, pelas consequências – como se fossem uma âncora que de tempos a tempos nos fundeasse em alto mar.

Ajusto-me nos finais de tarde, como todas as coisas se ajustam a seu tempo. Sigo o instinto animal do recolhimento e deixo-me ficar numa casa que me enlaça e me surpreende com coisas novas a cada dia. Dou por mim fixado no sorriso ingénuo e distraído de quem amo. E é o suficiente para querer continuar a viver. E há meses que me entreguei ao sentimento insuspeito de ver uma barriga materna a crescer. E parte de mim revigora-se noutra vida. Temo por ela. Temo pela fragilidade dos dias… e isso, incompreensivelmente, faz-me mais forte, mais determinado, mais ousado, menos caprichoso. A cada dia perco o orgulho fútil. E talvez me faça melhor no tempo certo.

Continua…

23 de outubro de 2008

CHÁ E TORRADAS

Tenho-me fixado nos dias. Os de ontem e os de hoje. Porque quero os de amanhã diferentes e melhores. Nada mais desejo que outro comum mortal não queira também: melhorar a cada dia, ser melhor em cada fase da vida. E nessa fase, e nesses dias do amanhã, quero ser melhor, maior e capaz.

Fixo-me nos dias, no tempo que passa ligeiro enquanto as folhas se desprendem das árvores e as desnudam – sem que demos conta – nos pássaros que esvoaçam na noite fria intimidados pelo voo predador da coruja. Nas horas que encurtam os dias. Nas horas que prolongam o frio negro da noite.

Na madrugada passada a lua sorriu. De soslaio por entre estrelas e véus de neblina. E também tenho fixado as noites no meu olhar, como se fossem um alvo e os meus desejos setas afiadas. Gosto da noite e já sentia saudades do seu frio. Daquele frio que nos acomoda em casa, abrigados nos braços do afecto.

Os dias dão-me que pensar. Não me desprendo do passado com facilidade e cada vez recorro mais às memórias, como trunfos, como armas de defesa. E das memórias recolho os ensinamentos que me obrigam a reflectir sobre as coisas. Travam-me impulsos e caprichos. Prendem-me à terra quando ouso querer voar…

Muitas vezes me acomodei no silêncio das coisas. Preferi fingir-me de morto como se fosse um animal a embustear os seus predadores. E noutras evoquei o direito a falar enquanto alguns desejaram emudecer-me. Numas vezes acertei e noutras precipitei-me. Em outras ainda não sei o resultado. E talvez não venha a saber. Ou não queira ter conhecimento. Escuto os silêncios. Especulo sobre eles. Por defeito. Por vicio de forma. Dos silêncios tenho uma noção de inteligência, mas nunca comparável ás palavras; aos sons perceptíveis; às frases com sentido, profundas e racionais.

Ainda existem os que julgam saber mais de mim do que eu. Os que ousam desafiar-me como se fosse um adversário de mim próprio. Enganos e decepções de dias cinzentos. Dias crus e feridos que fazem a vida de outros. Por mim, vá que não vá, bastam os dias que ocupo fixando-me nos dias e nas noites. Nas figuras que crescem, nos olhares que se transformam, nos cuidados que pesam os corpos de cada ser humano. Bastaria preocupação pelo bem-estar dos outros e compreenderíamos muito mais da vida do que dela levaremos quando o mais certo dia chegar.

E ainda há aqueles que pensam como eu penso porque querem chegar a mim. Por norma são comodistas. Acomodam-se nas opiniões dos outros, repetem o sim como se fosse uma condição. Mais enganos e decepções. Dias feridos e crus na vida de outros. Prefiro as manhas frescas e azuis que rasgam o Inverno, ou as trovoadas severas que inundam as tardes estivais. Chegaria julgarmo-nos diferentes uns dos outros para criar laços e fortificá-los com a robustez de montanhas.

Mas ainda há os que não querem saber o que julgo. Os que decidem ignorar-me como se fosse apenas uma partícula de ar incapaz de criar uma ténue brisa. Esses são os toscos. Reprimem o medo das mentes livres fingindo a sua inexistência. E um dia quando se lhes impuser falar, ou pensar, ou construir, confrontar-se-ão com a aridez. Um vazio de silêncios. Se soubessem que existo oferecia-lhes chá e torradas. Para as conversas em roda.

CONTINUA… brevemente.

22 de outubro de 2008

Frescura e cores

Apeteceu-me refrescar o ambiente. Copiar o azul celeste do céu primaveril. Vincar o vermelho do sangue que nos une à vida... e a multiplica. Raiar o sol na efemeridade de um crepusculo. E ainda o negro... o negro da sombra e da solidão, o negro da noite que me conduz aos sentimentos, e se ilumina no branco do luar. Tanto apeteceu que não me dei conta de querer contrariar a vontade.
Estão a chegar novos dias. Um novo futuro. E quero-os frescos e renovados.

18 de outubro de 2008

Vigilia

Cresce a ansiedade. As noites passo-as na espera de um momento. O tempo certo chega lentamente, e eu aguardo. Tu aguardas. Aguardamos enquanto distraímos a agitação dos nossos corações. Agora pesam as dúvidas sobre o género. E no segredo um do outro ansiamos pelo primeiro encontro: os gestos; os olhares; as expressões que desejamos conhecer com prontidão.

Está quase. Quase… E no fundo que importa o género? De que serve sofrer por antecipação, se esse sofrimento retirar o brilho de um acontecimento único?

Aguardemos. Ainda que ansiosos. Aguardemos pelo tempo certo.

Lugares

quantos lugares me encantam
só porque neles sinto a tua presença?

e ao encanto junto a madrugada de afectos
em que nos enlaçamos com a paixão.

1 de outubro de 2008

Carta de Outono

Confundo-te com a árvore forte e crescida que se enraizou funda na terra. Penso em ti, todos os dias, como se fosses o infinito prazer da vida que me enlaça e enebria.
Tenho-te no meu corpo a correr nas veias como o sangue impoluto e vermelho. És em cada particula - por mais infíma que seja - o sentido agitado do tempo que me acompanha a vida.
É de ti que falo aos outros quando profiro a palavra Amor. É o teu nome que ecoa no silêncio cavado da utopia, nas atrições que sussurro às estrelas, noite após noite.
Passam os dias e o meu amor por ti renova-se e cresce para ser cada vez maior e mais puro.

19 de setembro de 2008

Poema a Inês

carrega um olhar desesperado
como as manhãs cinzentas
que desesperam pelo olhar alheio
um sorriso descobre-lhe o rosto
onde por fim o seu corpo cresce
um enebriante brilho desenha o futuro
num caminho ornamentado de plátanos
e de aves em voos de esperança

Poema sobre Poema

é na pena de um poema que se revela o meu amor por ti
é na métrica desmedida entre loucas metáforas
que busco a clareza do amor
para que o entendas como entendes os meus olhos
para que numa rima se desfaça qualquer dor
é na forma incoerente de um poema
que firmo a minha vida no teu corpo
como se ser dependesse sempre de ti

Quanto te Amo?

Quanto te amo?

Como se fosse possível medir o ar de uma vida inteira
Ou questionar a existência de um sentimento

Quanto te amo?

Não sei.

Apenas sei que lá cabe todo o amor do mundo
e ainda sobra espaço para te querer ainda mais.

3 de setembro de 2008

Setembro

Setembro. A maré agitada desfaz-se com violência na praia quase deserta. Um sol quente prolonga o verão como se este não fosse ter fim. Partilhamos o silêncio das metáforas interrompido pelos sons do mar e das gaivotas que namoram à beira-mar. Acolhe-nos um areal húmido como os nossos corpos. A água cai em cascata numa rocha atrás do nosso repouso, onde aguardamos a frescura dos sonhos.

Setembro. Ainda não findou o capricho de umas curtas férias.

11 de agosto de 2008

Poema sobre TI

lentamente te dás a conhecer,
como se fosses o sol que nasce na manhã
e nos teus igénuos gestos começo a viver.
Aos poucos alimentas-me a esperança outrora vã
que se vestia num tecido pardo de loucura.
Ao longe vaticino um novo dia a nascer
desenhado pelas tuas mãos de candura.

31 de julho de 2008

Saudades

uma imensidão de saudades percorre-me o corpo
quando fecho os olhos e te imagino na linha do horizonte.
apeteces-me. estendo os braços na utopia de um beijo,
prendo-me na imagem candida do teu sorriso.
na rua uma brisa varre as folhagens densas das árvores
e a serena noite grita o teu nome nos ecos do silencio.
confundo-te com as estrelas. confundo-te com tudo o que me rodeia,
porque te quero nas diferentes formas da natureza.
confundo-te com as madrugadas em que sorriamos nos lábios um do outro
de mãos apertadas como ancoras onde fundeamos o amor.

uma imensidão de saudades percorre-me o corpo
como se um mar inteiro me faltasse.

29 de julho de 2008

É em ti que me sustento

é no teu amor que me sustento
como se fosse mar e tu vento
como se fosses o fino areal
e o meu peso um suspiro lento
é em ti que me abrigo
como se o teu ser fosse uma fortaleza
e o meu o desalento da certeza
e é em ti que me protejo
como se fosses o horizonte
do infinito que desejo

24 de julho de 2008

Cumplicidade

Ergue-se a madrugada conquistando o restolho raso
E no perfume nocturno da paixão os nossos corpos alimentam o amor
Abundam os desejos e as repetidas promessas
Eu sou de ti e tu és de mim e somos eternamente um do outro
Juntos por fim como as estrelas e o céu
Cúmplices na raiz cavada do amor
Palmilhamos a noite até aos primeiros raios da manhã
Naufragados no infinito chão que nos sustenta a vida

14 de julho de 2008

Poema sobre Beja II

Regressei a Beja quando a tarde apertada pelo calor silenciava as ruas. Nas raras sombras das casas brancas fossilizavam palavras gastas de desejo… e no centro dos largos morria a vida de uma cidade, morria no irrespirável sofrimento do abandono. As pedras cinzentas e irregulares da calçada por cansar, os passos perdidos, o som profundo de uma voz censurada, os braços resignados de um fantasma… e a morte conformada. Regressei quando me falaram da desesperança, quando li numa noite azul que as searas se calaram. Regressei porque quis que os meus olhos atestassem o desespero do fim. E aos meus olhos dei-lhes o maior castigo, a pena do desamor.

Percorro as ruas despojadas como se fossem árvores secas, sepultadas na vertical obstinação da utopia… erro ingénuo – o do ser humano – de crer na eternidade das coisas. A utopia das consciências passou à desilusão das ignorantes mentes; e o sonho faleceu na aridez das planícies. E com ele o meu corpo junta-se aos emudecidos chãos de trigo. Regressei a Beja quando os meus olhos tinham no cabo dos sonhos a intenção de uma vida!

10 de julho de 2008

ALENTEJO



Abri os braços como asas e voei ao teu encontro na esperança de te abraçar e redescobri-te na figura de uma planície demorada sob os meus olhos… Senti a abundante condição do teu espírito a guiar-me sobre os adolescentes olivais, que contornam o restolho e encaminham os ribeiros. Na ilusão de um enleio impossível, vagueei como a águia-real repetindo no limite azul do céu o teu nome: Alentejo

7 de julho de 2008

Se ainda fosse possível...

Se ainda fosse possível um último encontro entre nós, queria saber onde guardas a força com que constróis o silêncio que nos separa. Queria saber como passas os dias que nos apartam, como respiras em cada segundo sem que vaciles perante o desejo. Se ainda fosse possível um último olhar antes da despedida, queria saber como iludes a esperança.

E se tudo ainda fosse possível queria-te num segredo, na corola de uma flor, na forma bruta de um rochedo.

24 de junho de 2008

Quando regressas

Gosto do teu regresso. Adoro quando vens na ponta fresca do vento e me abraças ao longe. Quando as tuas mãos suaves me percorrem o corpo gasto da vida. Gosto quando caminhas na direcção do meu olhar e me derretes a boca com um beijo. Gosto do teu regresso. Adoro o regresso da luz aos teus olhos. Das tardes nuas em que nos queremos de amor.

E quando regressas o meu corpo vence a saudade. E o meu coração voa no sentido das estrelas. E quando regressas regresso também eu à vida…

11 de junho de 2008

Aguarda-se a esperança

As ramas densas das árvores encostaram-se ao calor de um verão que tardava. Nas ruas procuram-se as sombras das casas brancas que rodam no sentido dos ponteiros do relógio. Aguarda-se a brisa do fim de tarde, como se aguarda a esperança de um amanhã melhor. Nos rostos vincam-se as rugas fundas da amargura, dos dias e das noites que se repetem de descrença. A vida pára na expectativa de um impulso. A terra endurece em grossos torrões de barro que se confundem com pedras. As mãos acompanham os corpos no sentido vertical, arrastando os ombros. Perderam-se os brilhos nos olhares. Gastaram-se os silêncios das palavras. Resigna-se à vontade de viver outro dia igual. Aguardam a esperança. Aguardam em constante desatino.

4 de junho de 2008

Declaração desesperada

Farei do meu corpo o som de cada palavra.Matarei nos meus passos cada frase feita de imperfeitas metáforas, e ao olhar para ti renascerei do pó denso que cobre as lombadas dos livros. Gritarei até à mais distante constelação para que se escute o som da esperança.E as mãos, transformá-las-ei em cinza para te desenhar nas impolutas partículas de ar. Acordarei no vermelho matinal das papoilas que profanam as planícies. Escalarei cerros e montanhas com a força do desejo de te ter para sempre.

Acontece o tempo fora de tempo

Uma noite ainda jovem abraçava-os com o som das folhagens densas das árvores que se alinhavam na estreita rua. No céu a cor azul de um luar como pano de fundo onde brilhavam estrelas… muitas estrelas. Do lado de lá da cidade imaginava-se o ruído do silêncio que se confunde com o sono das searas. Se um rio enlaçasse a cidade sentir-se-ia no ar o aroma fresco da água numa noite de verão. E se nas margens dos rios as pedras se amontoassem umas sobre as outras, abrir-se-iam caminhos para o reencontro. E no reencontro surgiriam conversas e apertos de mão.

Sentado numa cadeira gasta de verga acomodou-se no sentido da noite, enrolando-se numa brisa pouco fresca que lhe tocava o tronco nu. Numa mão um copo meio vazio e noutra um cigarro que ardia com vontade própria. Os pássaros aninhavam-se nas copas das árvores onde adormeciam balanceados pelo vento. A noite crescia alucinada. A cada instante o silêncio matava as ruas secando-as de gente. Algumas janelas abertas acolhiam o vento fresco na esperança de um arrefecimento das casas. O dia já se notara longo e quente.

Acontece o tempo fora de tempo. Uma mão leve e suave percorria-lhe o tronco, começando pelos ombros e depois o peito. Acontece o tempo fora de tempo. Um beijo tocava-lhe os lábios e depois o tronco. Acontece o tempo fora do tempo. Um grito de prazer seguiu-se ao arfar apaixonado do desejo. Acontece o tempo fora de tempo. Dois corpos dão-se um ao outro como desespero. Um e outro cruzam-se no silêncio da cidade. Acontece o tempo fora de tempo. E nesta cidade nada mais acontece.

15 de maio de 2008

Lugares opostos

Quer a vida que me ocupe de outros que não de ti. Quer a vida que os meus olhos apontem no sentido oposto ao teu. E os meus passos seguem o caminho sereno da felicidade. E o meu rasto vinca-se na sombra das árvores, onde não caminhas porque o teu lugar não é este. E seguimos vidas diferentes, e olhamos com olhos diferentes. E entre nós tudo é diferente.

Não sabes

não sabes do meu olhar nem dos meus lábios entre beijos
não sabes do meu sorriso nem das minhas mãos livres de desejos
não sabes do meu corpo nem da minha alma funda
não sabes de mim nem do que me rodeia sem ti

11 de maio de 2008

Informação aos leitores

De hoje em diante os comentários a este blogue estão condicionados pela prévia autorização do autor do mesmo. Não entendam os leitores de boa fé que por aqui se regrediu no sentido da censura. A razão é simples: existem por aí uns quantos que abusam da liberdade de pensar (o que porventura não lhes favorece a existência) e tal como os próprios rostos e respectivos nomes escondem-se na lamacenta vergonha da ofensa gratuita.
Poderia citar pensadores, filósofos ou até mesmo poetas grandes para responder à letra a quem ofende camuflado, mas isso serviria apenas para lesar toda a cultura de uma civilização. E correria o risco de não ser entendido por tão fálica figura.
O autor reitera a tolerancia e o espirito libertino, mas reafirma a determinação de defender as suas escolhas, o rumo da sua própria vida e o sentido das suas palavras. Gosta quem gosta, não gosta quem não gosta, e isso é respeitável. Já o ofender, ofende apenas quem o autor quiser que ofenda.
Grato pela compreensão,
Jorge Barnabé

4 de maio de 2008

São tuas as manhãs

são tuas as manhãs que florescem nos campos
desenhadas pelo sol e que se estendem no caminho das tardes
anunciando o canto impoluto do luar
assim, sou também teu no brilho apaixonado das estrelas
e no vôo livre das aves
é teu o sentido puro de amar

30 de abril de 2008

Quis o destino

quis o destino levar-me ao engano
num fim de tarde incerto pelas planícies
segui o canto das searas já crescidas
num silêncio fundo e profano

os caminhos esses fi-los em jeito de despedidas
sem abraços ou beijos sem palavras incómodas
voltarei um dia mais tarde quando o passar um ano

11 de abril de 2008

Também eu

também eu sinto e desejo
também eu preciso e quero
também eu percebo e vejo
a noite que se encerra no inverno

8 de abril de 2008

Cantiga de Abril

Amar,
enquanto sigo o canto das aves
e baloiço com as folhagens frescas

Amar,
porquanto o meu ser vive do teu
e os teus lábios matam a sede aos meus

Amar,
entre os riscos do horizonte
onde sonho os dias depois de hoje

Amar,
com as mãos apertando a vida
e os pés firmes na terra fértil

Amar-te,
porquanto o meu coração se torna refém do amor

27 de março de 2008

Olhar

falaram-me de uma manhã de sol e ela chegou cinzenta e cabisbaixa. acordei com o teu sorriso no meu olhar e o calor do teu corpo de vida nas minhas mãos. sigo o caminho da distância por entre planícies cobertas de orvalho. a tua imagem acompanha-me para onde vá...

11 de março de 2008

Ciclo das estações

no principio eramos do crepúsculo no verão ainda jovem
percorriamos as ruas impelidos nas brisas frescas
e aguardavamos pelo reencontro no silêncio nocturno das frondosas árvores
depois confortamo-nos no interior do outono
onde as árvores discretamente nuas erguiam os nossos corpos
camuflados pelos nevoeiros matinais
e entretanto fizemos no inverno acontecer o amor
entre gotas de água e camas quentes de prazer
e do inverno fazemos a primavera que já não tarda
e nela se completará o ciclo das estações
onde o meu corpo e o teu corpo se eternizarão
na forma pura do amor

28 de fevereiro de 2008

Paixão

talvez não reconheças nos meus gestos a expressão da paixão,
nem no brilho intenso do meu olhar o desejo de ti na minha vida.
talvez não saibas que vem de ti a energia que me move,
ou sequer que a forma do meu corpo se molda da tua figura.
talvez não saibas o sentido profundo do meu coração,
as amarguras da minha alma de cada vez que nos apartamos.
talvez é a dúvida razoável que nos alimenta
e apenas por isso a paixão se renova.

27 de fevereiro de 2008

Aponto o olhar...

aponto o olhar na direcção de um corpo vazio
com o único propósito de fugir ao teu olhar
desejo a fuga definitiva e permanente
desafio a natureza do meu ser
forço a corrente dominadora de um rio
e dou por mim a vacilar
o meu olhar é a única arma que resta
a única defesa que tenho para sobreviver

26 de fevereiro de 2008

Estado de alma

ruiram as paredes na passagem de uma brisa
no chão amontuaram-se reinveinções e desejos inconsequentes
na tarde cresceu o silêncio agudo que adormeceu as aves
não basta o sol no céu azul de inverno
nem as searas em cantos de primavera
num dia, num gesto, tudo se precipita

25 de fevereiro de 2008

Todos os dias

Todos os dias renasces em mim no canto da natureza, tomas as formas das ávores altas e densas que rasgam as planícies, retenho das flores o teu aroma feminino que me enebria os sentidos, e dos rios a frescura dos teus lábios húmidos. Em cada acordar os meus sentimentos brotam da aurora numa crescente convicção de te amar. Todos os dias, desde os dias que a tua imagem me persegue, descubro a vida. E da vida faço vida. E da vida faço o desejo de viver.

22 de fevereiro de 2008

Beijo

Aguardava por si como quem aguarda o suspiro final. Em desespero, entre desalentos cultivou-se marginal. Percorreu as ruas apinhadas. Vagueou entre mesas de café. Acomodou-se no centro de um largo acompanhado por um pensamento: ela. Aguardava. Aguardava na espera longa de a ver. De a ter junto a si. E desejou mil coisas. E sentiu mil desejos. E fechou os olhos na esperança de um beijo e de um abraço. E desejou ouvir as palavras como ecos das suas. E desejou o seu suspiro aliviado a desfazer-se sobre si. Aguardou como se esperasse uma vida inteira.
Surgiu estranha. Não esperava outra coisa. Sentiu o seu rosto abatido. O seu olhar esgotado. Tremeu porque julgou que por si o seu olhar já não brilhasse. Reencontraram-se como estranhos. Sem abraço. Sem beijos. Circunstancialmente, pareceu-lhe de imediato. Partiram para a conversa. Outra vez as palavras, de novo as frases feitas e os conceitos apertados. As mãos expostas longe um do outro. Os olhares iniciais fugidios e covardes de os quererem encontrar. E o seu corpo desejando o dela. E o seu ser inclinando-se sobre ela. E ele frágil e temeroso. A ansiedade nele. Um nó no estomago persegue-o na sua ausência. Parte de si - talvez a mais pura e bela - despe-o de cada vez que ela se afasta.
Longos e fundos minutos passaram. Longos e profundos instantes percorreram o seu corpo. E as palavras rudes e o desalento da esperança vestiram-lhe a pele interior. E ao fundo prédios altos como muralhas. E nuvens densas como mordaças. E de si um olhar frio e descomprometido. E nem mais palavras. Nem mais desculpas. E uma mão rompe o silêncio da amargura. E um gesto crescente constrói um beijo. O mais doce e fresco, o mais simples e desejado beijo.

18 de fevereiro de 2008

Chuva

Lá fora a chuva escorre pelas telhas improvisadas e o meu corpo resguarda-se entre as paredes irregulares de uma casa estranha. Escuto a tua voz e isso é o suficiente para que as palavras me invadam o espírito. E porque hoje chove como se fosse um poema dedico-me aos teus olhos como se fosse um poeta.

Ainda temos um do outro

ainda temos a chuva forte para nos refrescar
e as ruas alagadas como lágrimas de raiva
temos entre nós e o horizonte as searas férteis e verdes
e os caminhos ornamentados de flores
e tudo o que temos é mais muito mais que nos separa
somos os oceanos a transbordar
e os céus carregados por sete cores
ainda temos um do outro a esperança
e as árvores altas e densas para repousar
e somos um do outro como lembrança

O caminho dos outros

O fumo do cigarro subia em espiral pelo céu misturando-se com a névoa cinza da manhã. A seus pés um lago raso com a forma geométrica de um rectangulo em jeito de fronteira entre a cidade e os campos. O vento levante agitava as jovens árvores que circundam o espaço enquanto os patos se resguardam sob um pontão improvisado. Em cada segundo o tempo queima esperança de um raio de sol e em cada instante se adensa a neblina cobrindo um olhar que já nada vê. Cruza as pernas desafiando a resistência sobre o tempo. Desafia-se a si próprio como se fosse vento ainda mais forte. Seguem-se momentos lentos de silêncio. Aguarda pelo fim do cigarro querendo afirmar uma convicção. De que servem as coisas banais se não lhes dermos alguma importância? Vai pelos seus próprios pés em passos lentos e fundos em direcção à queda de água. Conta os passos. Ouve-se a si próprio. Fala de si para si em voz alta. As mãos trémulas separam-se do corpo bruto e nú. Trepa o corrimão de segurança. E empoleirado mergulha de cabeça na água gelada. Guarda para si a respiração e segue o caminho dos peixes. E segue o caminho dos peixes...

8 de fevereiro de 2008

Questão irresolúvel

Que ousadia. Que pretensão a de desejar o que não posso ter.
Que incoerência. Tanta contradição querer tanto quando tanto é sempre demasiado.

E no entanto, quem amaria se ao seu amor não quisesse tanto?

Poema sobre Poema

Seguia depois de ti as pégadas que deixavas no areal e nas tuas costas ia-se afastando o mar revolto que estendia um tapete branco de espuma até ao horizonte. Nessa tarde que não era tarde nem noite, que não tinha cor nem cheiro, apercebi-me da tua ausência. Fria e ventosa como o inverno que me obriga ao agasalho estranho. Fixei-me nas pégadas que o salgado mar queimava até à inexistência de vida. Humedeceram-se-me os olhos contemplando o espaço vazio que criavas entre mim e o resto do mundo. Senti a fúria do engano. Exasperei. Morri no instante em que te julguei nunca mais de mim.
Acontecem outras coisas quando estamos longe. Não me reconheço. Não sei de mim nem quero saber dos outros. Não procuro senão uma figura dissimulada. Não quero senão o que tens para me dar. Seguiria, sempre que me pedisses, o rasto que deixas. Seguiria, sempre que o quisesses, o cheiro dos campos onde as flores desenham o teu corpo.

30 de janeiro de 2008

Hoje queria para ti...

Queria tanto levar-te o sol embrulhado em pétalas de rosa e estende-lo na tua casa com o azul fresco do céu como companhia. Queria tanto prometer-te os impossíveis todos e alcança-los num suspiro fundo para os entregar na boca doce de um beijo...

De hoje para amanhã

Aconchego-me no silêncio da noite onde os ruídos dos meus pensamentos tomam a tua forma bela. Uma luz branca encosta-se no parapeito alto da minha janela e sussurra-me as palavras que anseio dizer. Rompe-se o silêncio da rua quando a saudade começa a crescer e de novo escuto os conselhos da lua que me levam onde o nosso amor quiser.
Já não serei poeta quando a manhã surgir, serei todos os teus gestos e cada razão para te fazer sorrir. Serei apaixonadamente o profeta que te amará até o céu cair. Já não serei uma máscara de palavras que se recola em frases soltas e sucintas, serei um destino inteiro, de uma vida inteira junto a ti.

29 de janeiro de 2008

A fragilidade dos dias

temo a fragilidade dos dias
do tempo que passa sem regresso
das flores que não brotam na primavera
das horas longas em que não te pertenço

24 de janeiro de 2008

Ainda ontem

Ainda ontem me segurava com brilho na ponta do teu olhar. Ainda ontem as tuas mãos se estendiam sobre o meu corpo como se fosses o luar todo a namorar a terra. Ainda ontem quando a noite caía caíamos nós nos braços um do outro num aperto de paixão. Ainda ontem aprendi que as estrelas estão sempre no céu e que se as não vejo é porque o meu olhar se distrai no nevoeiro. Ainda ontem te repeti o prazer de amar a tua existência.
E de ontem para hoje tudo se alterou: o que me conduz até ti é o vento eterno e a dimensão das montanhas perpétuadas sobre os nossos corpos. São as pedras de um tempo inesgotável que se acomodam no leito de um rio onde corre o sangue do meu coração.
E de ontem para hoje tudo mudou: sou agora um dia mais de prazer e de desejo, de arrependimento dos instantes em que não te faço feliz, sou o peso fundo dos teus olhos tristes que aparto com o terror de te perder.
E manhã espero não temer a fragilidade do amor e seguir nos campos as cores das flores e a fertilidade das searas que me conduzem até ti.

22 de janeiro de 2008

É de seda azul...

É de seda azul a névoa que nos cobre nos campos de trigo
É de ti que renasço como semente fresca no orvalho cristalino
É do teu olhar que parte o inequívoco luar do amor
É teu o lençol de água que se estende sob o meu corpo húmido de desejo

16 de janeiro de 2008

Escuto os pássaros...

escuto os pássaros numa estranha manhã azul de janeiro
o sol descoberto desafia-me o olhar no sentido das casas brancas
e a minha figura ocupa o espaço vazio da cidade
escuto o teu nome na brisa que enfatiza os ramos nús

sei agora porque acordei com o teu rosto no meu olhar
e porque confundo o canto matinal dos pássaros com a tua voz

15 de janeiro de 2008

15 DE JANEIRO DE 2008

Hoje é apenas o dia em que te amo mais do que algum dia amei.

Sou do tempo

Sou do tempo das mãos na terra.
Dos piões de casquinha a girar nos canteiros secos.
Das covas rasas que dificultavam os berlindes.
Sou do tempo das ladeiras empedradas que atrapalhavam as carretas improvisadas.
Dos jogos de futebol nos largos e nas praças apertadas.
Sou do tempo das conversas ingénuas e utópicas
construídas nos muros dos quintais.
Sou do tempo em que as andorinhas se aninhavam nos beirais.
Das mãos que se cruzavam em apertos puros.
Dos passos longos e frescos de um dia inteiro.
Sou do tempo do "olás". Dos "como é que estás?".
Sou do tempo da árvores altas e frondosas,
das ruas apinhadas de brancos escuros.
Sou do tempo das palavras. Dos amigos e dos conhecidos.
Das namoradas conquistadas.
Sou do tempo que já não volta...

10 de janeiro de 2008

Sigamos

Sigamos o vôo das aves entre árvores despidas de folhagem.
Sigamos o desencanto da desesperança entre mágoas e silêncios.
Sigamos por aí, sem rumo, sem destino, sem desejar uma viagem.

8 de janeiro de 2008

Sabes de mim...

sabes de mim tudo
incluíndo a textura grossa da minha pele morena
e sabes de cor a cor dos meus olhos
e as formas dos meus lábios
sabes de mim tudo o que há para saber
e ainda o peso dos meus passos fundos
e o tom alto das minhas gargalhadas
sabes de mim os desejos de te ter
e as intenções que guardo para este mundo
sabes as palavras que decoraste com rigor
e as mãos estendidas para te abraçar
sabes de mim tudo
e também sabes de nós a fórmula do amor

Regressarei?

Desde há algum tempo que dei este como um processo findo. Dei-lhe nome de epitáfio e palavras de adeus definitivo. Vacilei quando as saudades me conduziram ao teclado negro do portátil. Não me arrependo das razões que me levaram a pôr fim a OOUTROCREPÚSCULO. Tenho outras tantas motivações e ainda mais desculpas, todas as que quiser inventar para me convencer que as palavras se encerram no som opaco da capa de um livro que se arruma no esquecimento de uma prateleira. Tenho todas as razões para crer que as palavras daqui não servem já o propósito e a (ainda) duvidosa ambição de lhes dar outro rumo. Num outro projecto da blogoesfera, onde a prosa caminhará no sentido da esperança.
Mil desculpas aos que baralho com as indecisões, com as pausas incompreendidas. Mas por aqui sempre escrevi no improviso dos instantes, à flor da pele dos sentimentos e sem esconder estados de espírito. Por aqui sempre escrevi com o coração aberto e o olhar apontando como setas o caminho misterioso de uma musa.
Regressarei um destes dias com as palavras e as imagens que o meu olhar guarda como uma máquina fotográfica que as debulha até à exaustão da síntese. Regressarei um destes dias e até lá vou regressando com o vício incontrolável de escrever em cada metáfora o seu nome.

7 de janeiro de 2008

Quantas vezes?...

Quantas vezes em desespero clamei o teu nome nas avenidas lassas das planícies?
E de cada vez me respondeu o eco com a insistência da dúvida,
repetindo no regresso dos ventos a tua ausência.

Quantas vezes esmoreciam as palavras no tremor do meu corpo vazio da tua vida?
E de todas as vezes a nudez das páginas brancas te desenhou invisível,
como se fosse meu destino o silêncio.