6 de outubro de 2010

CARTA ANTECIPADA À MINHA FILHA

Maria Carolina,
Seguro-te nos braços ainda receoso da tua fragilidade. Inseguro com as ambiguidades da vida, de um mundo inteiro que se questiona. Os teus olhos limpos e longos esgotam-me as palavras. Não como se fossem de algo de mau, mas sim sendo das coisas mais deslumbrantes que conheci. O teu sorriso persistente percorre-me a vida inteira, faz-me procurar as memórias felizes da minha existência. Como se contigo outras partes de mim renascessem. Fazes-me sentir tranquilo: como um rio que se prolonga em harmonia com tudo o resto. E tantas vezes, mesmo à distância de um dia absoluto, fecho os olhos e desejo ter-te nos meus braços por breves instantes. E noutras agarro-me à ambição de te indicar o melhor caminho, de te apontar o horizonte como um lugar idílico. Enquanto adormeces no ruído das nossas vidas imagino-te a correr para os meus braços, a questionar, a idealizar, a teimar, a refilar. E desejo tanto que tenhas essa força: que te ergas nas convicções, que eleves o sentido mais verdadeiro da tua alma; e no fundo é só isso que quero: que sejas feliz, que te preenchas, que te ocupes da vida como se fosses o centro do universo, que a valorizes como o bem mais precioso de todos, que reconheças apenas a tua existência...

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