14 de julho de 2008

Poema sobre Beja II

Regressei a Beja quando a tarde apertada pelo calor silenciava as ruas. Nas raras sombras das casas brancas fossilizavam palavras gastas de desejo… e no centro dos largos morria a vida de uma cidade, morria no irrespirável sofrimento do abandono. As pedras cinzentas e irregulares da calçada por cansar, os passos perdidos, o som profundo de uma voz censurada, os braços resignados de um fantasma… e a morte conformada. Regressei quando me falaram da desesperança, quando li numa noite azul que as searas se calaram. Regressei porque quis que os meus olhos atestassem o desespero do fim. E aos meus olhos dei-lhes o maior castigo, a pena do desamor.

Percorro as ruas despojadas como se fossem árvores secas, sepultadas na vertical obstinação da utopia… erro ingénuo – o do ser humano – de crer na eternidade das coisas. A utopia das consciências passou à desilusão das ignorantes mentes; e o sonho faleceu na aridez das planícies. E com ele o meu corpo junta-se aos emudecidos chãos de trigo. Regressei a Beja quando os meus olhos tinham no cabo dos sonhos a intenção de uma vida!

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