7 de novembro de 2007

Fora de tempo

A madrugada desafia-me. Quer levar-me pelo fio de pinheiros altos, quer que seja o luar na noite escura. Digo-lhe que não na convicção de me manter fiel ao sol. Insiste. Repito que não. Volta a insistir. Entre a madrugada escura e o sol brilhante estou como se fosse um ocaso, ou um acaso. Repito o não com veemencia. Insiste. Serve-me um whiskie e ao meu lado uma mulher loira de olhar escuro. Vacilo. Digo que talvez. Partilhamos uma bebida. Partilhamos um olhar noctivago de desejo. Abdico de tudo. A madrugada desafia-me. Sou o mais fraco de todos. Regresso ao passado. Sigo a luz de um candeeiro na estrada junto às árvores. Levo as mãos aos bolsos... a noite está fria. Agasalho-me num casaco fino. A loira segura-me o braço apertando-o no seu corpo. Paramos junto a uma fonte. Abraçamo-nos no frio que a madrugada traz enquanto escutamos o sincronizado som da água a cair no solo fértil. E um beijo surge. E a manhã cresce leve e fresca de amor. Um amor fora de tempo.

1 comentário:

  1. Jorge que intensidade nas palavras. Que sensibilidade em relação ao mundo. Gostei do que li.

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