3 de novembro de 2007

A morte das palavras

Um aroma invade a atmosfera. Um doce aroma que me enche o peito de frescura. Senti o teu cheiro num abraço à distancia. Continuas longe de mim. E eu longe de ti. Estamos cada vez mais longe um do outro. Resta-me o aroma do teu corpo, o cheiro enebriante da paixão que se arrasta na dúvida de um olhar mais próximo, de um beijo estridente.
Rasguei a madrugada por uma estrada irregular, de curvas acentuadas e estreitas. Fiz-me à estrada na loucura de um desejo: abraçar-te. Vi no céu uma estrela apagar-se. Temi o pior. Estremeci com o terror de te perder. Julguei que o céu se desenharia de negro, no negro das trevas. Mas trazia-te no meu pensamento. Questionei-me se a loucura do desejo seria do medo de te perder para sempre ou simplesmente porque te queria olhar nos olhos uma última vez, para ter a certeza de já não te querer mais. Questionei-me no silêncio de um carro solitário na madrugada escura guiada pelo luar minguante. Uma estrela apagou-se no instante preciso em que o meu olhar se fixou nela.
Percorri quilometros e quilometros confrontando o meu corpo cansado. De um lado e do outro da estrada eucaliptos agigantavam-se como fantasmas que me perseguiam, curvas insinuosas apertavam-me os movimentos corporais. Uma ou outra clareira surgiam de quando em vez para que sentisse a escuridão da madrugada no meu olhar. Ao longe avisto luzes intermitentes que me avisam da posição da cidade onde estás. Abrando a velocidade. Recosto-me no banco. E abrando ainda mais. Decido encostar na berma da estrada para fumar um cigarro antes de te confrontar com a minha presença. Fumo um cigarro e outro logo a seguir. Temo reencontrar-te. Receio que não queiras ouvir a minha voz ou sentir o meu corpo junto do teu. Aterroriza-me o pensamento de já não te querer mais.
Decido não te ver. Dou por mim a sentir-me como um náufrago que morre na praia. Regresso no momento em que o teu aroma se tornava cada vez mais intenso. E assim nasce o silêncio que nos separa. E assim morrem as palavras... todas as palavras de amor.

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