2 de novembro de 2007

Lugar de antes

A cidade está distante. Como nós um do outro. Ultimamente tem sido quase sempre assim. Têm sido estes os meus pensamentos, à distância do teu olhar cresce em mim a amargura fria das noites que passamos separados. Trago-te num retrato apertado junto ao peito e ainda assim os lugares por onde vagueio surgem cada vez mais desertos.

Hoje estou junto ao mar. Os planaltos verdes e rasos prolongam-se até ao azul espelhado da água. Daqui avisto o farol do cabo sardão onde numa manhã fresca vi nascerem flores nas tuas mãos, onde numa brisa fria me aqueceste os lábios com a doçura dos teus beijos.

Por aqui seguia o caminho das férias de verão quando o meu corpo se dava à aventura e corria nas dunas altas, era por aqui que o meu olhar ingénuo de criança desafiava a imensidão do mar. E por aqui cresci dia a dia sem me aperceber dos previlégios e das honras de uns dias de férias. Mas isso era na época das imagens romanticas da vida, era na altura em que o tempo parecia inesgotável. Nesses dias não me ocorriam os pensamentos de hoje. Deixava o meu corpo frágil vaguear nas aventuras arrojadas, em expedições que julgava perigosas. E fui permitindo saborear o presente como se do futuro se tratasse... E aqui estou, à espera de ver nascer a noite junto ao mar. Outra noite que passarei sem ti.
Escolhi uma enseada que me aproxima do farol, temo lá ir para não não me confrontar com outra memória que não a da tua presença naquela manhã que construímos na madrugada dos afectos. E aqui estou, numa fotografia solitária da minha figura, desesperado na dor de não te ter perto de mim. Frustado nos sonhos de uma criança que outrora corria sob o sol tórrido do verão. E aqui estou sempre na esperança do nosso reencontro.

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