15 de julho de 2007

Noite Branca

A noite chegou de branco e silenciosa. As árvores agitavam-se com o vento frio que iludira o dia abrasador de verão. As nuvens tocavam os telhados rasos das casas na parte baixa da cidade como se fossem um lençol de seda a esvoaçar sobre os sonhos.
Sentiu-se a sua ausência. Como se fosse a mágoa que uma luz branca trazia na cor da noite. A nostalgia é um sentimento vazio, feito no ruído ensurdecedor do silêncio. "fazes falta!" - gritei entre as casas abandonadas. "Fazes falta!" - repeti, gritando pelas ruas que percorria até encontrar o lago no centro da cidade. Aquele onde me ensinara o valor da água, e me explicara o porquê do verde na copa das árvores. O lago é raso. Já não tem fundo para se desejar o futuro. O lago está raso e o verde na copa das árvores é pálido. "Fazes falta!" - repeti pela última vez suspirando de cansaço sobre as pedras cinzentas da nostalgia...
A noite chegou de branco e silenciosa. Quis rasgar o silêncio e gritar o seu nome. Desejei que a névoa densa e esvoaçante me enlaçasse para lhe tocar uma última vez. Para lhe dizer simplesmente: "Fazes falta! Ainda fazes falta!...".
O tempo corre lento nos dias que me esforço para sobreviver. Já não tenho as suas mãos para me segurar pelos ombros... Agora sou a reinvenção do destino. Do meu próprio destino.
A noite veio de branco. Quero ver neste branco o branco da paz. A cor da tranquilidade. O branco de uma luz que me guie na temerosa dor da ausência.
A noite chegou de branco e silenciosa. Elevemos a voz para que se escute o sentido da paz.

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