21 de outubro de 2007

Odemira

A estrada estreita rasga a serra como se fosse uma onda a cavalgar no mar alto. Nas suas beiras árvores rasas de folhagem amarela lembram o outono que o calor engana. Regresso à vila serena da minha infância, às casa brancas nas ruas ingremes que nos conduzem ao rio. Volto aqui cada vez mais raramente. A vida afastou-me dos cafés tranquilos, das conversas paradas nos passeios, do rio que se serpenteia até ao mar.
Reconheço o cheiro que paira no ar e os meus olhos envolvem-se na luz do dia azul e no verde denso que enlaça a vila. Sigo de passagem, que por enquanto o meu destino é junto ao mar. Planeio regressar para uma noite de descanso numa cama larga que me moldou o corpo frágil de criança.
Mas Odemira está diferente! As ruas têm vida, junto ao rio uma zona pedonal em madeira aproxima as pessoas da água, nas rotundas erguem-se esculturas bizarras à primeira vista. Passo a ponte para o outro lado da margem. A ponte de ferro verde e tão antiga como as histórias dos meus octagenários familiares. Olho para trás quando inicio as primeiras curvas a subir e deslumbro-me com o que esta vila cresceu. Não resisto a regressar às memórias infantis. Senti as mãos ainda frescas que na época me seguravam por aquelas ruas. Lembrei-me dos olhares vividos dos que já não me podem acompanhar.
Vou até ao mar ver o azul imenso e infinito que me enche a alma, vou recuperar o fôlego com a brisa marítima que me toca a face. A Odemira regresso para pernoitar, para dar descanso ao corpo numa casa fresca com varanda larga sobre o rio.

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