21 de agosto de 2007

Parque da Cidade I

Dos espaços leves e verdes que a cidade permite disfrutar escolho para uma tarde de introinspecção o Parque da Cidade. A água rasa no lago amplo, o verde a camuflar o tórrido dia e o restolho do lado de lá da estrada agitada, as pessoas que se resguardam nas sombras do betão e o coaxar das rãs entre juncos emergindo de um lago mais pequeno e estreito.
Sento-me num desses bancos para escutar o coaxar das rãs e o zumbido das libelinhas e de outros insectos que sobrevoam a água esverdeada. A esta hora o Parque é mais intimista. São poucos, os loucos como eu, que se fazem ao calor de uma tarde de Agosto. Hoje corre uma brisa pela cidade e aqui sinto-a tocando-me a face.
Ao levantar o olhar apercebo-me de uma nova cidade. Do lado de lá do lago um bairro inteiro foi emergindo sem que reparasse nele com tanta atenção. A mata, onde os altos eucaliptos refrescam um circuito de manutenção foi-se encolhendo com o tempo para que à sua volta crescessem prédios e outros edificios. Mas ainda lá está, a ensinar-nos a respirar.
Recordei-me das tardes traquinas que passavamos no Jardim Público, das noites quentes que por lá passamos na conversa, sentados num banco de jardim, até que o guarda tocasse o pequeno sino anunciando o encerramento. Há umas noites atrás passei a pé junto ao Jardim Público e estava fechado. Os portões altos e verdes de grades encostavam-se um ao outro presos nas intolerância de um cadeado. Ainda bem que o Parque da Cidade não tem portões... Aos poucos fastamo-nos do centro, dos lugares do passado e da memória, daqueles que cultivamos na esperança de que nos sobreviveriam. Mas lentamente afastamo-nos deles. Ou afastam-nos deles.

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